Patche di Rima e Juca Delgado
1-Conosaba: Patche
nasceu em Bissau, concretamente do Bairro de “Reno N’Djaka” certo? Tens
saudades da sua infância?
PATCHE DI RIMA: Sim,
com muito orgulho o meu umbigo foi enterrado no bairro de Reno, com muitas histórias
lindas por contar. É óbvio que tenho e sinto uma enorme saudade da minha infância,
são tempos que, infelizmente, jamais voltarão.
2-Conosaba: Quando é que
começaste a cantar? Teve a influência de alguém para ser cantor?
PR:Tudo começou no ano 2000. Fazia as minhas
liricas para improvisar nas ruas com os amigos, porque na verdade eu comecei
como um RAPPER. Não tive influências de ninguém. Aliás, nunca sonhei ser cantor
ou musico. Mais tarde recebi muitos incentivos por parte do Cícero. Ele foi,
digamos assim, o meu mentor na fase inicial. Deu-me muita força na altura.
Cheguei a integrar os Vatos Loucos. Na altura recordo-me de ter recebido 50.000
fcfa para gravar a minha primeira maquete musical no estúdio do Aguinaldo de Pina,
com o apoio do meu primo NIDI e do grupo MVD POSITIVE. Foi a partir desta
altura que comecei a ganhar paixão e curiosidade pela musica. Ficou a vontade
de aprender e de partilhar a minha música. Pouco tempo depois conheci o
Vladimir Cabral que me fez o convite para formar uma banda juvenil denominada
SOLO CRIOULO. Foi uma autêntica escola. Aprendi muitas coisas interessantes com
pessoas diferentes, nomeadamente o espírito de grupo.
3-Conosaba: Como, quando
e aonde foi a sua aparição pública? Como sentiu na altura? Importa-se de
retratar essa época tão importante da sua vida?
PR: A
minha primeira aparição pública foi no Instituto Nacional de Cinema, ex.
Congresso, num concurso musical organizado pelo FNJP e FNUAP, subordinado ao lema
como salvar vidas das mulheres. Neste concurso fiquei em segundo lugar. Claro
que estava com muitos nervos. Nunca tinha lidado com o público e logo num
concurso. Havia muita insegurança no ar e falta de autoconfiança. Nessa altura ainda
não me importava com nada. Não tinha noção das coisas e da responsabilidade. Era
muito ingénuo. Não levava nada a sério. Não tinha roupa, nem dinheiro. Eu e meu
mano Osni vendíamos garrafas para comprarmos roupa (FUKA N’DJAI). Em dois meses
as coisas mudaram de 100 para 2000%. Na altura, era muito solicitado pelos
movimentos associativos. Em tudo o que era evento de associações era o Patche que
aparecia como cabeça de cartaz. Ganhava 10.000 fcfa por show.“kila i manga di
dinheru na altura ninguim kata pudi kumi ki tempo di noti nota bai vira costa
kiku sobra nota guardal pa kumpra doneti na skola ku ropa ku nha plástico”. Fui
conquistando o meu público e o meu espaço em Bissau. Havia muita rivalidade. Na
“mininessa kinku mas ta repa”. Mas eu sempre soube difinir as coisas e separar
águas. Nunca entrei nisso. Procurei sempre aprender para evoluir como artista.
Essa época foi um momento de muitos sonhos. É pena, que muitos colegas tenham
ficado pelo caminho. Assim é a vida. Mas éramos muito unidos “nota baiba cassa
di kumpanher no mames ta preukupa ba ku nos ma kirci dinheiro padjiganu tudu kada
kim yabri udju”.
4-Conosaba: Qual é a sua
relação com resto dos músicos guineenses? Vocês os músicos ajudam-se
mutuamente?
PR: Eu
tenho uma boa relação com todos os músicos da Guiné-Bissau. Conheço o meu
espaço. Tenho muito respeito pelo trabalho de todos. Faço da música um
instrumento de divulgação da cultura, da paz e da fraternidade. A minha
intenção é de fazer uma boa música sempre no sentido positivo como amante da
paz. Como artista, luto para que o mundo inteiro viva uma cultura aberta e
participada, preservando os valores tradicionais e culturais de cada etnia ou
raça. Acredito nas capacidades de todos os músicos da nossa terra.
5-Conosaba: Na sua opinião,
‘ao longo destes anos’, sentiu que o estado da Guiné-Bissau tem apoiado
suficientemente para a divulgação da nossa música no plano interno ou externo
aos nossos músicos ou não?
PR: Nunca
isso aconteceu. Porque nós nunca tivemos uma política cultural. O Estado deve,
portanto: Reforçar e salvaguardar a gestão sustentável de diferentes formas de
expressão musical, como meio de combate à pobreza e busca do desenvolvimento
humano integral; apoiar uma melhor integração social e inserção dos artistas
tradicionais e modernos nas nossas sociedades; analisar e discutir o papel dos
artistas no nosso país e a contribuição dos mesmos no desenvolvimento da nossa
economia, através de uma melhor utilização da música como meio bastante eficaz
de comunicação capaz de fazer passar mensagens importantes às nossas populações,
sempre em prol do desenvolvimento; desenvolver métodos que visem a
sensibilização das nossas instituições no apoio à implementação dos ideais
formulados nos projecto musicais; proporcionar e encorajar a elaboração de
projectos comuns integrados de gestão sustentável e salvaguarda dos nossos
valores culturais como uma forma de participação importante dos artistas no
processo do desenvolvimento da nossa economia; criar condições para a promoção do
país do ponto de vista musical, através da diplomacia cultural. Já são
conhecidos os exemplos de países que praticam essa diplomacia cultura: JAMAICA,
EUA, CABO VERDE,SENEGAL, NIGÉRIA, COSTA DE MARFIM , ANGOLA, BRASIL etc...
6-Conosaba: Ao longo da
sua carreira, chegou a ganhar algum prémio especial que deixou marcas? Disco de
ouro? Ou qualquer coisa de género...
PR: Sim,
logo no início comecei com o pé direito. Fiquei em 2º lugar no concurso da música
sob o lema como salvar a vida das mulheres, promovido pelo FNJP e FNUAP no
Instituto Nacional de Cinema de Guiné Bissau. Como exemplo da evolução
artistísca, na segunda participação já no 2º concurso da música sob o lema ´´Mulher
e Desenvolvimento´´, ganhei o meu primeiro troféu ao conquistar o 1º lugar no
concurso.
Em
2007 ganhei o prémio “músico do ano” na Guiné-Bissau, e com o álbum “Guiné no
Coração” o prémio de álbum do ano. Com o segundo álbum, “RENDEZ-VOUS DE SIKO”,
conquistei, em 2014, o DISCO DE OURO com mais de 10 mil cópias de vendidas.
7-Conosaba: Tem viajado
muito (África, Europa, Ásia e América) para vários países (espetáculos), certo?
Divulgaste bem e com pompas, o nosso N’gumbé, Tina e Sicô?
PR: Graças
ao altíssimo (Deus) consegui levar o meu país a 25 países e a 60 cidades mundiais.
Estou muito orgulhoso com tudo que o tenho feito para levar o nome do nosso
país “além-fronteiras”. Não me arrependo de nada! Quero aproveitar este nosso
bate papo no “Blogue Conosaba” para agradecer publicamente o meu staff (de trabalho), os meus parceiros da
LDS PRODUTIONS, na pessoa do Lourenço Da Silva, e CARSA UNIVERSAL, na pessoa do
Caramba Saco, o meu produtor Tino Mc e todos os músicos que participaram no
projecto “Rendez-vous de sikó”. Na verdade não tenho palavras para descrever o
apoio que me deram na concretização do projecto. Foram simplesmente incansáveis.
8-Conosaba: Fale-nos um
pouco sobre o mundo globalizado, pode ser?
PR: Para
mim, a globalização é um conjunto de transformações na ordem política e económica mundial visível desde o final do século XX. Trata-se de um fenómeno que criou pontos em comum na vertente económica, social, cultural e política, e
que consequentemente tornou o mundo mais interligado, uma Aldeia Global.
O
processo de globalização é a forma como os mercados de diferentes países
interagem e aproximam pessoas e mercadorias. A quebra de fronteiras gerou uma
expansão capitalista onde foi possível realizar transacções financeiras e
expandir os negócios - até então restritos ao mercado interno - para mercados
distantes e emergentes.
9-Conosaba: Sabemos que,
o Patche é muito patriota! Alguma vez chegou a apoiar alguma «causa nobre» para
Guiné-Bissau ou alguma associação sem cobrar ou pensar no lucro?
PR: Sempre
fiz isso. Antes de iniciar a minha carreira trabalhei como voluntário: Já
colaborei com o CNJ, RENAJ, FNJP, FIJ, UNICEF, SNV, PNI, VIVER SEM FRONTEIRAS,
MEDICOS DO MUNDO, APD, ASA, AJD, FASCAE, entre outras muitas instituições.
10-Conosaba: Há novos
projetos musicais? Por exemplos novas músicas?
PR: Sim,
tenho um projecto com um produtor angolano de nome Gabriel Satxibala. É uma nova
aventura que não é propriamente a minha praia. A AFRO BEAT cantado no crioulo
da GUINE. Estamos a trabalhar nisso para que tenha uma dimensão mundial. Espero
que os fãs venham a gostar deste trabalho que vai sair dentro de sensivelmente
um mês, com um vídeo full HD para MTV,TRACE E AFROP MUSIC CHANEL. Também vou
assinar um contrato com a Confidential UK
records. Por isso, a partir do dia 4 de Novembro todos poderão encontrar a
minha música no maior suporte de distribuição digital do mundo. Segue a foto em
baixo. São passos gigantesco para nossa música e para minha carreira. Além do mais,
todos os meus fãs vão poder desfrutar da minha música, exclusivamente, no IPHONE
worldwide como no ring tone, a partir do
dia 5 de Novembro.
11-Conosaba: Sabemos que
apoiaste o PAIGC nas últimas eleições presidenciais e legislativas. Confirmas?
Sentiu-se arrependido?
PR: Com
muito orgulho apoiei a candidatura do PAIGC por causa das minhas convicções políticas
e dos projectos que o Eng. Domingos e o Dr. Mário Vaz apresentaram ao nosso
país. O povo estava cansado e almejava uma mudança no sentido de construirmos
todos juntos uma Guiné-Bissau de progresso, desenvolvida e em que haja respeito
pelo Estado de Direito.
12-Conosaba: Para
terminar, “expectativa é grande” e confias nas novas autoridades da
Guiné-Bissau?
PR: Confio
mas não a cem por cento. Creio que cada Guineense deve fazer algo para ajudar o
país a sair do estado em que se encontra. Temos que banir a política de
eliminar o adversário político, proporcionar a inclusão politica no processo da
reconstrução do nosso país “NINGUIN IKA SUPER HOMEN OU SALBADUR DI POVO. ANÓS
NO TEN KU PAGA NO KI NHON”
Todos
devemos trabalhar para uma mudança de atitude e de mentalidade das nossas
populações, e para a formação de um homem novo.
Todos
devemos apostar na promoção de uma maior dinâmica no âmbito de colaboração
entre os guineenses da toda classe, de união e de profunda reconciliação, com a
melhor coordenação na realização de projectos para o desenvolvimento
sustentável do país.
FIM
Feito por: Pate Cabral Djob
.
Pate Cabral Djob & Patche di Rima
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