sábado, 3 de maio de 2014

RECADOS FORTES: DR. NUMMA GORKY MENDES DE MEDINA





Por: Numna Gorky Mendes De Medina*

Divulgaram-se hoje os resultados parciais das eleições gerais pós-golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, e o PAIGC e o seu candidato são os maiores vencedores quer das legislativas – conseguindo maioria absoluta de deputados (55) – quer das Presidenciais onde o candidato do partido independentista João Mário Vaz (Jomav), foi o mais votado – tendo obtido mais de 40% de votos - mas tendo de disputar uma segunda volta com o candidato independente Nuno Gomes Nabian – que obteve pouco mais de 25% de votos.
É do conhecimento geral que sou apoiante do candidato independente Paulo Gomes, que apresentou ao país o programa “Nô Muda Rumo di Guiné-Bissau”, mas categoricamente rejeitado optando-se por aqueles que são completamente desprovidos de programa, a não ser uma vontade incomensurável de chegar ao poder – pelo qual há meia dúzia de meses nunca esteve nos seus melhores sonhos.

Muitos dos nossos apoiantes – faço parte do Gabinete Estratégico que suporta o candidato Paulo Gomes – deverão estar revoltados e/ou desolados com os resultados. Nesse momento de desespero de muitos - recebo chamadas de vários quadrantes com pessoas revoltadas a lamentarem-se o sucedido – importa tentar entender o que está na origem da não obtenção de votos suficientes do nosso candidato o Dr. Paulo Gomes para chegar à segunda volta quase sempre obrigatória no nosso sistema.
É importante desmistificar certos dados aqui: todos diziam que o Paulo Gomes só era conhecido em Bissau, sendo completamente desconhecido no interior. É uma falácia, pois os resultados mostram que afinal, o eleitorado menos esclarecido em termos teóricos são os que mais compreenderam as mensagens que divulgamos durante pré-campanha e campanha eleitoral. Aliás, convém lembrar aqui, que o único candidato que percorreu mais do que uma vez todo o território nacional foi o candidato Paulo Gomes, o que torna a afirmação de desprovida de fundamento.
Portanto meus senhores, o eleitorado demonstrou-nos de forma inequívoca que concorda com o país da forma como estava antes de golpe de 12 de Abril. Independentemente de tudo que se questionava nessa altura – nem vou lembrar tudo que aconteceu no país entre 2009 a 2012 -, o país gosta do PAIGC e da forma como lhe governa semeando a instabilidade e a desigualdade.

Por falar em instabilidade: esperemos até a nomeação do novo governo para passarem a existir novas alas no seio do partido vencedor – formado pelos que esperavam ser chamados para o elenco e não foram – a juntar com os descontentes que vieram do congresso de Cacheu. É o de costume, nessas alturas de divisão do bolo, zangam-se as comadres – uns falam na divisão de canha, pois para eles é disso que se trata, todos têm de comer dizem…
Já olharam pelas imagens e repararam nas pessoas que andam mais próximas do candidato presidencial apoiado pelo PAIGC? Sabem quem essas pessoas apoiaram no congresso ganho pelo DSP? Todos já comentam de boca em boca que num futuro bem próximo, a instabilização vai começar, e o interesse supremo do país ficará para trás. Aliás, neste momento já se aceitam apostas para ver quem acerta na duração do estado de graça que se vive com a vitória eleitoral nas legislativas.
Quanto a mim, fica a certeza daquilo que eu afirmara entre 2009 e 2012, nas duas últimas Presidenciais: naquelas alturas, disse que o povo guineense não se revê nas ideias que eu defendo, preferindo sempre estar ao lado daqueles que deram provas das suas incapacidades para dirigir o país e pacificá-lo. Será uma questão de mensagem?

Eis a grande questão: nas sucessivas eleições realizadas, pergunta-se por que razão o povo tem votado no mesmo sentido e depois se põe a chorar devido às incapacidades dos eleitos em dirigir o país? Como podemos esperar que houvesse debate ou compreensão de alguma mensagem passada pelos candidatos – raros passam uma mensagem -, se temos mais de uma dezena de candidaturas em todas as eleições? Isso não obsta que haja lugar e espaço para debate, e favorecerá sempre aqueles que já são conhecidos, mas que nada de novo têm para dizer e para dar ao povo?
Lembro-me dos debates realizados recentemente em que participou o candidato presidencial mais votado: num deles, na Universidade Lusófona, depois de perguntas complexas colocadas pelos jovens estudantes, prometeu explicar o seu programa depois de ser eleito. Interessante, alguém quer vender algo, mas que só o mostra ao comprador depois de este ter pago o valor… e o comprador aceita, surreal – vou registar essa modalidade contratual de compra e venda para as minhas investigações! Num outro debate realizado no Centro Cultural Franco Bissau Guineense, quando apertado por outro candidato sobre as atribuições do Presidente da República, comentou que não era jurista como o era o inquiridor; na verdade, o inquiridor era o Hélder Vaz e todos sabemos que não é um jurista, mas sim um filósofo.
Há uma frase lendária que cada povo tem os governantes que merece, aqui não deixa de ser verdade, por mais que me custe, o povo guineense merece os sucessivos governos e Presidentes que vão saindo das eleições, outra leitura é completamente desfasada de realismo.
No domingo passado, quando recebi os boletins de voto, nem abri o das legislativas, só abri o das Presidenciais e exerci o meu direito ao voto. A razão do meu voto em branco é simples: não voltarei a me arrepender em confiar em quem, todo o seu passado demonstrou ser incapaz – falo dos partidos mais votados. As forças partidárias que poderiam beneficiar do meu voto foram recusadas pelo Supremo Tribunal de Justiça sem qualquer tipo de fundamento jurídico.
Para mim, a verdadeira liberdade consistirá sempre em rejeitar o que me faz mal… Vou rejeitar sempre o PAIGC e o PRS enquanto continuam a enganar o povo tendo como principal objetivo conquistar e manter o poder.

Tornou-se moda entre os guineenses ditos jovens quadros: mal chegam – no caso dos que se formam no exterior – procuram filiar-se no PAIGC. Mas, como a lista de espera nos independentistas é enorme, muitos vão diretos ao PRS, pois comenta-se que lá, dão mais oportunidades aos jovens e a progressão é m ais rápida.

Onde está a ideologia desses dois grandes partidos? Creio que há muito que no seio do PAIGC, o que interessa é o poder, depois da luta de libertação nacional, nunca mais tiveram ideologia alguma. Já o PRS, bom, querem mesmo falar de ideologia nesse caso!?

Há duas semanas escrevi que o país estava vendido, e tive montes de comentários mostrando o desespero. Agora quero vos explicar porque fiz tamanha afirmação: quando um candidato na apresentação da sua candidatura na primeira fila da sala, estavam só chineses ligados a interesses de madeira, pescas e outros interesses pouco claros, o que se deve ler disso?
Quando o partido que tem ganhado eleições e que ganhou esta, que lutou pela nossa independência, sempre que chegam eleições as suas figuras de proa deslocam-se a Angola a procura de financiamento eleitoral – já se foi a Líbia nos tempos do Khadafi, violando-se de forma clamorosa a lei eleitoral como publiquei já demonstrei na publicação do referido artigo da Lei eleitoral, que recusa os fundos provenientes dos governos e organismos estrangeiros – para comprar votos, o que se deve retirar disso?
A candidatura de Paulo Gomes terá cometido muitos erros, mas nunca se elevou o nível do debate político como foi feito pelo nosso grupo e encabeçado pelo nosso candidato. Isso é errado num país onde as pessoas estão habituadas a um estilo diferente, a capital Bissau demonstrou como o país está e como o país pensa – afinal, é a capital que foi dizimada nos últimos anos pelo tráfico de droga que acaba por de uma forma ou outra, tocar a todos, deixando mazelas graves na sociedade.

Nunca se tentou moralizar a forma de estar e de fazer política como fizemos durante estes meses e, principalmente, durante a campanha eleitoral. Na última semana da campanha, o PAIGC sentindo-se ameaçado pelo nosso candidato, espalhou em todo território nacional que o Paulo Gomes era senegalês entre outras inverdades – temos provas de figuras desse partido que o proferiram na Região de Oio, por exemplo – e que a sua eleição significaria entregar o país ao Senegal… ouvimos tudo isso, e explicamos a nossa razão e o que realmente estava em causa. Mas não se iludam, as pessoas tendem a acreditar, em quem lhe é semelhante, e de certa forma, eramos demasiados sérios e educados para se identificarem connosco e acreditarem na nossa versão – coisas de brancos devem pensar de nós…

O país está doente e eu fui chamando atenção aqui, o trabalho a fazer tem de ser árduo e duradoiro para produzir resultados. Por isso, não sentimos uns derrotados, afinal das contas, não se aprende a andar num dia, é um processo, e acreditamos que chegaremos lá um dia, não contamos desistir.
Como é que se explica o facto de um jovem de 30 anos, sem formação e sem emprego, e ainda assim pensa que PAIGC ou PRS é quem melhor resolverá os seus anseios – se é que realmente tem um anseio?

As pessoas estão completamente equivocadas quando estão a olhar o Domingos Simões Pereira, sem olhar para o grupo onde neste momento está inserido. Ninguém que se preze duvida das qualificações desse ilustre guineense para desempenhar o cargo de dirigir o governo agora eleito. Mas como é de conhecimento de alguns, para governar o país ele precisará do partido que lhe garante apoio na Assembleia – por quem responde – e precisará do Presidente que lhe dê equilíbrio – por quem igualmente responde. Os crónicos problemas do partido vencedor impossibilitam que tudo isso seja possível, e juro que como um guineense, vou gostar de saber que o que escrevi não está certo, terei todo prazer em reconhecê-lo.

Paulo Gomes era o único candidato que daria equilíbrio a qualquer governo, porque não está rodeado de interesses partidários complexos, mesmo tendo tido depois apoio de alguns partidos. A história mostrou-nos que sempre que se deu aos partidos um governo e um presidente não souberem o que fazer com esse conforto: foi assim em todos os governos do PAIGC pós-democracia, e foi assim na única vez que o PRS esteve no poder via eleições – entre 2000 a 2003.
Como mantenho a memória intacta, sei de tudo o que se passou neste país e não me deixo enganar por nada e por ninguém. Repito, lobos com pele de cordeiro não me iludem, afinal, nem sou Capuchinho Vermelho para cair na música. Acabamos de dar mais um tiro nos pés, e obviamente que a diáspora se desespera, pois perceberam que os irmãos que deixaram na terra estão tão confusos ao ponto de não conseguirem distinguir os seus verdadeiros malfeitores.
Quem espera que eu fizesse afirmações do tipo, o resultado eleitoral foi obtido pela fraude ou algo parecido, então me desconhece e logo não sabe da minha honestidade intelectual. Os resultados ora divulgados, do meu ponto de vista, são genuínos e nós os aceitamos com toda naturalidade.
Um dia, quando partir desta, se alguém encontrar o meu filho (e outros que terei), serei lembrado como aquele que sempre esteve a lutar para que mudemos de rumo, mudando a mentalidade e forma de estar e fazer as coisas. Ainda é possível mudar, por isso não desistirei, e sei que muitos como eu não desistirão. Assim que passar a frustração estarão prontos para novos projetos, longe do poder e dos partidos, onde exala podridão…

Viva a democracia, onde se obriga quem não está preparado a decidir sobre assuntos que mal compreende… ganhou a ignorância e ausência de esclarecimento. Todo o sistema está feito para beneficiar quem aposta em ludibriar o eleitorado de todas as formas que aqui são conhecidas!
Parabéns aos que foram eleitos e o que vier a ser podem apostar que faço votos que se cumpra a legislatura e o mandato do próximo presidente, só assim a carapuça das pessoas cairá de vez. Estamos atentos a observar de fora, tentando ser útil ao país da forma como sempre fizemos e sabemos fazer, não precisamos ser nomeados a nada para fazer o que fazemos. Somos válidos em qualquer parte de mundo, e não é um cartão partidário que torna isso verdadeiro…

Que Deus abençoe Guiné-Bissau!

*- Mestre em Direito Civil

Postado por Helmer Araújo às 10:34

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