A Organização Não Governamental – Tiniguena ameaçou requerer uma providência cautelar contra o Estado da Guiné-Bissau, por supostamente ter transformado o Porto Cais de Pindjiquiti num “cemitério” de navios velhos chineses que estão a ser desmantelados no mar, uma fonte de “produção de lixos tóxicos”.
“Há também uma autorização do Estado para desmantelar cerca de trinta navios de pesca”, denunciou a organização, no sábado, 26 de março de 2022, durante a jornada de sensibilização sobre impactos de atividades petrolíferas e das infraestruturas na zona portuária e costeira de Bissau.
O Diretor Executivo da ONG Tiniguena, Miguel de Barros, revelou que neste momento há quinze navios chineses de pesca no Porto de Pindjiquiti a serem desmantelados.
“Há um privado que foi autorizado, em um negócio com o Estado, para que a Guiné-Bissau receba dezenas de barcos velhos que já não têm licenças para navegar nos mares internacionais para serem desmantelados aqui, no nosso mar, como lixo” denunciou.
Miguel de Barros sublinhou que o país está a ser transformado em um “recetor de sucatas”, tendo lembrado que esses objetos têm substâncias químicas nocivas à saúde humana.
O sociólogo afirmou que o referido processo está a ser realizado sem protocolos internacionais para o desmantelamento de navios e sem a capacidade técnica para suportar uma atividade de grande risco de contágio ao ecossistema e à saúde humana.
Perante estes fatos, de Barros disse que a narrativa do projeto carrega, de forma escondida, a ideia de criação de empregos, que vai permitir a indústria de desmantelamento florestal e ter capacidade de gerar crescimento económico e as feiras em zonas onde há menor risco de poluição.
Porém, o ativista chamou atenção dos guineenses para serem mais atentos a estas narrativas que considera “falsas” e escondem o “cinismo internacional”.
“Se isso de facto gera emprego e vantagens económicas ao Estado, porque é que os produtores dos navios não fizeram o desmantelamento nas suas próprias terras?” questionou, explicando que as “ditas” potências internacionais são produtoras de navios que têm no máximo 30 anos de vida e que, quando chegam a essa altura, enviam os seus lixos para países terceiros que subornam.
“Há intermediários que entram, ditos privados, e recebem comissões e depois aliciam as estruturas públicas para que se faça esses tipos de ações” explicou a O Democrata.
Miguel de Barros afirmou que não foi anunciado publicamente a iniciativa para um eventual concurso público nem foi dada nenhuma informação aos guineenses sobre os impactos económico, ecológico e ambiental desse projeto, tampouco foram anunciadas as tecnologias que serão utilizadas, informando que o Porto de Pindjiquiti e Ilhéu do Rei serão os primeiros instrumentos de desmantelamento.
Barros frisou que o maior problema que a Guiné-Bissau enfrenta nos portos é a questão do assoreamento – há vários navios afundados nos mares que impedem o ciclo normal da maré.
O ativista alertou a sociedade guineense que a Soberania do Estado da Guiné-Bissau é que está em causa com essa prática que considera “ilícita”, sublinhando que não basta denunciar, mas também ter ações concretas que permitam com que o negócio do desmantelamento não ande.
Miguel de Barros afirmou que o negócio de desmantelamento de navios é uma autenticação para condenar a Guiné-Bissau à maior pobreza económica, social e ambiental. Defende que é urgente reorganizar o ordenamento do território das zonas costeiras e marinhas.
Por: Djamila da Silva
Foto: D. S
Conoosaba/odemocratagb
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