Bissau, 21 mar 2022 (Lusa) – O presidente da comissão organizadora do 10.º congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) afirmou hoje que o partido “não pode perder a cabeça”, perante os ataques de que é alvo.
Coronel na reserva e ex-comandante da guerrilha do PAIGC que lutou pela independência da Guiné-Bissau, Manuel “Manecas” dos Santos reagiu hoje aos incidentes de sexta-feira e sábado quando a polícia irrompeu na sede do partido para suspender a reunião do Comité Central que lá decorria.
A reunião era para preparar os documentos finais do 10.º congresso que deveria iniciar-se no sábado para decorrer até hoje.
A polícia lançou granadas de gás lacrimogéneo no salão da reunião, o que obrigou à dispersão das pessoas.
“É muito grave. Eu acho que eles perderam a cabeça, mas o PAIGC não pode perder a cabeça também”, defendeu o veterano de guerra pela independência da Guiné e Cabo Verde.
A polícia disse que estava a cumprir com um mandado de um juiz que está a apreciar uma providência cautelar interposta por um militante contra o partido por causa de o seu nome não constar na lista de delegados ao 10.º congresso.
“Manecas” dos Santos afirmou que para já o congresso foi adiado e os 1.400 delegados mandados regressar às suas origens no interior e no estrangeiro, mas que o partido está a tomar as diligências para que seja realizado.
“O congresso acabará por se fazer para estarmos prontos para enfrentar quaisquer eleições que vão aparecer. Como vai ser não posso dizer neste momento. Nós estamos a refletir sobre aquilo que aconteceu, sobretudo aquilo que pode vir a acontecer e sobre aquilo que nós temos de fazer”, sublinhou o dirigente do PAIGC.
“Manecas” dos Santos condenou a atuação da polícia ao impedir o acesso de militantes à sede do partido, mas sobretudo por ter lançado granadas de gás lacrimogéneo na sexta-feira no salão onde decorria a reunião do Comité Central.
“É uma barbaridade. Num recinto mais ou menos fechado onde estão mais de mil pessoas, lançar gás lacrimogéneo é crime”, observou o dirigente do PAIGC, destacando ainda que muitas pessoas ficaram “gravemente feridas” ao saltarem do primeiro piso do edifício para o pátio.
“Manecas” dos Santos disse não ser capaz de confirmar se alguém morreu naquela ação.
“Obviamente que o PAIGC vai atuar, sempre na legalidade, vai atuar na justiça para pedir a condenação deste ato de barbárie. A nossa ação é sempre no campo político. O PAIGC fez a guerra [pela independência] sabe o que é isso. O PAIGC não é partidário da violência gratuita”, sublinhou “Manecas” dos Santos.
Sobre o facto de a polícia não estar a deixar os militantes acederem à sede do PAIGC, o veterano da luta pela independência da Guiné e Cabo Verde considera ser "mais uma ilegalidade e abuso do poder" e lembrou que o imóvel é propriedade do partido.
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