Bissau, 04 mar 2022 (Lusa) – As autoridades guineenses estão a tentar “a todo o custo” o regresso da empresa de transporte de cargas marítimas Maersk, que abandonou o país há mais de um ano, disseram fontes do Governo e do setor privado.
Em agosto de 2020, a empresa dinamarquesa viu-se envolvida numa polémica judicial em Bissau, que culminou com o arresto de um navio da companhia, que acabou por ser libertado mais tarde.
Na sequência do contencioso que motivou, na altura, uma ordem de prisão, entretanto não cumprida, ao então ministro dos Transportes da Guiné-Bissau Jorge Mandinga, a quem o juiz acusou de ter mandado soltar ilegalmente o navio apreendido, a Maersk decidiu abandonar o país.
Fontes ligadas ao setor privado guineense admitiram à Lusa que a saída da companhia, que opera em mais de 130 países e é uma das principais transportadoras de contentores no mundo, tem afetado a atividade do comércio na Guiné-Bissau.
O presidente da Associação de Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau, Mamadu Jamanca, lançou mesmo um repto ao Governo: “Que faça tudo no sentido de permitir o regresso da Maersk ao país”.
Jamanca não entende como foi possível a Guiné-Bissau dar-se ao “luxo de entrar numa guerra desnecessária” com a Maersk, "uma das maiores companhias marítimas do mundo”.
O líder dos importadores e exportadores guineenses teme que a situação “se torne caótica” durante o transporte da castanha do caju, principal produto de exportação do país, para a Índia e o Vietname, se nada for feito para o retorno da Maersk.
A exportação da castanha do caju decorre entre os meses de maio e outubro.
A saída da companhia dinamarquesa de Bissau também é tema de conversa na Administração dos Portos da Guiné-Bissau (APGB), sobretudo, dizem as fontes daquela empresa estatal, a partir do mês de janeiro último, quando a Maersk comunicou oficialmente a sua decisão de desmontar uma das suas duas máquinas de embarque e desembarque de contentores.
Vários empresários guineenses ligados ao setor do caju explicaram à Lusa que a esperança reside nas diligências em curso por parte da APGB que tem desenvolvido contactos com a sucursal africana da empresa dinamarquesa e as autoridades guineenses no sentido de encontrar um entendimento que possibilite a retoma das atividades da empresa.
O presidente da Associação de Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau dá o exemplo das “complicações na campanha” de caju de 2021 para ilustrar o que disse ser “uma grande falta que Maersk faz à Guiné-Bissau”.
Com a retirada da companhia dinamarquesa da Guiné-Bissau, as cerca de 230 mil toneladas de castanha de caju, que o Governo disse terem sido exportadas no ano passado, foram escoadas por uma empresa que Mamadu Jamanca considera de pequeno porte.
“Estamos a ser assistidos por uma empresa pequenina, que não tem condições de resposta. Pegou na castanha de muitos exportadores e agora não consegue fazê-la chegar aos portos de destino na Índia ou Vietname. A castanha está aí espalhada em portos de vários países do mundo”, observou Jamanca.
Fontes da APGB explicaram à Lusa que em período normal, a Maersk coloca dois navios de transporte de mercadorias para a Guiné-Bissau e durante a exportação da castanha do caju aumenta as embarcações para quatro.
Fontes do Governo disseram à Lusa que o vice-primeiro-ministro guineense, Soares Sambú, foi incumbido pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, no sentido de encontrar “a todo o custo” mecanismos que permitam o retorno das atividades da Maersk.
Vários empresários contactados pela Lusa disseram aguardar por “uma solução rápida” e avisaram que o país poderá sentir os efeitos da saída da companhia dinamarquesa não só no transporte da castanha do caju, mas também no abastecimento do mercado com produtos como açúcar, arroz e farinha de trigo, entre outros.
Fontes da APGB explicaram que todos estes produtos são importadores através de contentores e admitiram ainda que se regista um decréscimo na atividade comercial desde finais de 2020.
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