quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Líder do PAIGC quer peritos internacionais nos inquéritos ao ataque ao palácio do Governo

O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, Domingos Simões Pereira, defendeu a presença de peritos internacionais no inquérito “ao que realmente se passou” no ataque ao Palácio do Governo.

Em entrevista à Agência Lusa e à RFI, Domingos Simões Pereira sugeriu a presença de elementos da DEA, agência norte-americana de combate ao tráfico de droga, e da Polícia Judiciária portuguesa, salientando que aquelas entidades sempre apoiaram as autoridades do país no combate ao narcotráfico.

A sugestão do líder do PAIGC, segundo o próprio, vai ao encontro do facto de as autoridades guineenses estarem a relacionar o ataque ao Palácio do Governo com “ajustes de contas entre narcotraficantes”.

“Ora, quando envolve droga nós sabemos que as várias instâncias do nosso poder judicial têm recebido reforço de capacidade, não só de estruturas internacionais, nomeadamente da DEA como da Polícia Judiciária portuguesa e de outras instituições. Se nós recebemos reforço de capacidade em assuntos de menor porte, por que não se justifica envolver essas entidades em algo que pôs em causa vidas humanas”, questionou o líder do PAIGC.

O antigo primeiro-ministro guineense disse que “continuam confusas” e “até contraditórias” as explicações que têm sido dadas pelas autoridades guineenses quanto aos envolvidos nos ataques, nomeadamente a alegada presença de rebeldes senegaleses do Movimento das Forças Democráticas da Casamansa (MFDC).

Estanho ainda para Domingos Simões Pereira é o facto de o porta-voz do Governo, Fernando Vaz, ter começado por citar nomes de alguns oficiais militares como estando envolvidos nos ataques, para horas depois desmentir-se a si mesmo.

Para o líder do PAIGC também é estranha a nomeação de um novo diretor da Polícia Judiciária.

Domingos Simões Pereira afirmou que na sua opinião “há muitas pontas soltas e que não se alinham” nas informações que têm sido prestadas ao público pelas autoridades guineenses, esperando que no futuro as informações públicas sejam mais credíveis.

“O que eu estou a dizer é que estamos a tratar de um assunto de extrema importância, de extraordinária importância e o mínimo que podíamos sugerir, aguardar ou exigir é que seja uma comissão credível, responsável, competente e que tenha como um dos pressupostos que traga elementos palpáveis que permita a todo o mundo avaliar”, defendeu.

Questionado sobre o adiamento do Congresso do PAIGC, previsto para 17 e 18 de fevereiro, Simões Pereira referiu que o partido se alinha “com a ordem”, mas considerou que o decreto do Governo que proíbe reuniões políticas devido à covid-19 “foi feito, exclusivamente para comprometer a realização do congresso do PAIGC”.

“O estado de alerta já existia quanto o PTG (Partido dos Trabalhadores Guineenses) fez o seu congresso, já existia quando o PRS (Partido da Renovação Social) fez o seu congresso, já existia quando se fizeram visitas ao interior, a presidência aberta e outras concentrações de pessoas”, acrescentou.

Referindo que o congresso foi adiado para depois da vigência do decreto do estado de alerta, 05 de março, o presidente do PAIGC pediu, no entanto, “àqueles que detêm poder para que cinjam a sua atuação dentro dos ditames da lei”.

No dia 01 de fevereiro, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam, e de que resultaram oito mortos.

O Presidente guineense considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado e apontou o ex-chefe da Marinha José Américo Bubo Na Tchuto, Tchamy Yala, também ex-oficial, e Papis Djemé como os principais responsáveis.

Os três homens foram presos em abril de 2013 por agentes da agência antidrogas norte-americana (DEA) a bordo de um barco em águas internacionais na costa da África Ocidental e cumpriram pena de prisão nos Estados Unidos.

Os três alegados responsáveis pela tentativa de golpe de Estado foram detidos, segundo o Presidente guineense.

A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.

Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país.

Conosaba/Lusa 

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