O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, manifestou-se contra o envio de uma força militar da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) "sem um consenso" dos guineenses.
Em entrevista à Lusa e à RFI, Simões Pereira falou sobre a possibilidade de a CEDEAO enviar para a Guiné-Bissau uma força de estabilização, mas alertou que a composição e missão desta força são ainda desconhecidas.
A decisão do envio dessa força foi tomada na última cimeira de líderes da organização sub-regional africana, realizada no Gana, no passado dia 04, na qual a Guiné-Bissau foi representada pela chefe da diplomacia, Suzi Barbosa, em representação do Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló.
Numa entrevista à RFI em Bissau, o primeiro-ministro guineense, Nuno Nabiam disse desconhecer que alguma entidade do país tenha feito o pedido de envio da força de estabilização da CEDEAO, mas afirmou aguardar que aquela organização contacte as autoridades do país sobre o assunto.
Domingos Simões Pereira considera que mesmo que tenha havido uma explicação da chefe da diplomacia aos líderes da CEDEAO na cimeira decorrida em Acra, capital do Gana, a organização "sabe que tem de" perguntar a Assembleia Nacional Popular (ANP, parlamento guineense) sobre se está de acordo ou não.
O dirigente político disse que se surpreendeu quando o chefe do Governo vem afirmar que não sabe de qualquer diligência junto da organização no sentido de solicitar uma força de estabilização.
"Se o primeiro-ministro vem dizer que isso não aconteceu, quer dizer, ainda estamos mais perdidos, primeira coisa. Segunda coisa, é que mesmo que tivesse havido essa tal informação a CEDEAO sabe que tem de contactar os órgãos de soberania, nomeadamente a Assembleia Nacional Popular (ANP) para se assegurar que está de acordo, está alinhada, e há um pedido formal das entidades públicas e políticas guineenses nesse sentido", disse Domingos Simões Pereira.
Para o líder do PAIGC, "toda a turbulência" na Guiné-Bissau está ligada com desentendimentos entre os elementos que sustentam o regime, o anunciado acordo de exploração de petróleo com o Senegal e os exercícios militares de soldados senegaleses nas águas territoriais guineenses, em nome de um exercício da CEDEAO.
"E como é que militares da CEDEAO fazem exercícios em águas territoriais da Guiné-Bissau apenas com militares de uma única nacionalidade", questionou.
O líder do PAIGC afirmou ainda que o seu partido se insurge contra a pretensão do envio de uma força militar para o país.
"Essas questões são mais do que pertinentes, são alertas à sociedade guineense para gente absolutamente desprovida de responsabilidade para com a estabilidade deste país, serem chamadas à razão e dizer que há um limite para determinadas aventuras", observou Domingos Simões Pereira.
No dia 01 de fevereiro, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam, e de que resultaram oito mortos.
O Presidente guineense considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado e apontou o ex-chefe da Marinha José Américo Bubo Na Tchuto, Tchamy Yala, também ex-oficial, e Papis Djemé como os principais responsáveis.
Os três homens foram presos em abril de 2013 por agentes da agência antidrogas norte-americana (DEA) a bordo de um barco em águas internacionais na costa da África Ocidental e cumpriram pena de prisão nos Estados Unidos.
Os três alegados responsáveis pela tentativa de golpe de Estado foram detidos, segundo o Presidente guineense.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país.
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