[ENTREVISTA novembro_2021] Um cidadão guineense a viver desde 2000 em Cabo Verde, António Watna Embana, foi eleito deputado municipal na ilha do Santo Antão, no município do Porto Novo, em outubro de 2020, em eleições autárquicas ganhas pelo Movimento para a Democracia (MPD), com 14 câmaras, contra 8 do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
António Watna Embana, já com nacionalidade cabo-verdiana, emigrou para Cabo Verde em busca de melhores condições de vida. Foi convidado pelo MPD para integrar a lista do partido por alguns dirigentes daquela formação política, por causa da sua influência em Santo Antão e acabou por conseguir a proeza de ser eleito deputado municipal.
A informação foi transmitida a uma equipa do Jornal O Democrata, que esteve no início de novembro deste ano em Cabo Verde, pelo próprio, quando foi convidado para abordar a situação de integração de cidadãos guineenses na ilha e a situação sociopolítica da Guiné-Bissau.
“SOU UM HOMEM REALIZADO, PORQUE ALCANCEI AQUILO QUE QUALQUER JOVEM AFRICANO DESEJARIA”
“Foi graças ao convite formulado pelo MDP e a boa relação com as pessoas do meu bairro, Porto Novo, que fui eleito deputado. Embora tenha declinado o primeiro convite formulado pelo mesmo partido em 2016, acabei por aceitar mais tarde o convite do partido, através do presidente da câmara, Amadeu Cruz, agora ministro da Educação Nacional e acabei por constar na lista do MPD”, disse.
“Depois de abraçar o projeto, fui eleito deputado municipal e fiquei satisfeito porque pela primeira vez uma pessoa que veio da África Ocidental foi eleita representante municipal. Não conheço uma história igual a essa. Mas não fiquei contente só por ter sido eleito, mas também pela confiança em mim, imigrado em Cabo Verde e pela oportunidade de mostrar que temos valor e qualidade”, explicou Watna Embana.
Segundo explicações de Watna Embana, a própria comunidade cabo-verdiana do Porto Novo ficou muito admirada.
“As pessoas na comunidade conheceram-me, falam de mim e quase posso dizer que não tenho inimigos. Alguns alegam que sou caso de estudo, porque sou um caso de sucesso particular que raramente aconteceu na ilha”, referiu.
Embana acrescentou que até outras formações políticas, nomeadamente, o PAICV ficou “incrédulo” com a sua ascensão na comunidade do Porto Novo.
António Watna Embana revelou que na sequência da sua ascensão, um dos dirigentes do PAICV terá manifestado o interesse em estabelecer um pacto com ele nas próximas eleições municipais de 2024.
Quadro formado na escola de formação dos professores na Guiné-Bissau, Escola Normal Superior “Tchico Té”, deixou a Guiné-Bissau em 2020 (mas VIVE EM CV DESDE 2000) à procura de melhores condições de vida, por causa do magro salário que os professores auferiam na altura. Aterrou primeiramente na cidade da Praia, onde trabalhou na Coca-Cola, lavando garrafas. Seis meses depois, mudou-se para a ilha do Sal, para trabalhar como pedreiro e estudar ao mesmo tempo.
Antes de fixar residência do Porto Novo, o guineense natural da região de Oio, norte da Guiné-Bissau, já com habilitações profissionais em construção civil, trabalhou em diferentes zonas em Cabo Verde, nomeadamente, em Santo Antão, Mindelo e Sal. Com a experiência profissional e integração em Cabo Verde, Watna Embana decidiu criar a sua própria empresa de construção civil com o nome de “Watna Construções”, em homenagem ao seu pai, Watna Embana, que sempre acreditou na sua pessoa.
Segundo a explicação do deputado municipal, neste momento a maioria das obras ligadas ao Estado no Porto Novo são executadas pela empresa “Watna Construções”, através dos concursos públicos.
“Hoje sinto que sou um homem perfeitamente realizado, porque alcancei aquilo que qualquer jovem africano desejaria ter. Vou para Europa quando eu quiser e tenho uma empresa onde emprego os meus irmãos, tanto cabo-verdianos como guineenses”, acrescentou Embana.
Em entrevista concedida ao jornal O Democrata, em São Vicente, num restaurante de uma guineense a viver há 37 anos em Cabo-Verde, o deputado municipal revelou que tem uma unidade hoteleira que está em fase de conclusão no Porto Novo, que em breve será inaugurada, embora não tenha precisado a data da inauguração.
António Watna Embana revelou ainda que tem recebido solicitação das comunidades do Porto Novo para outros desafios. Além da atividade empresarial e política, Embana tem ajudado a comunidade guineense na sua integração em Cabo-Verde.
No seu país natal, Embana mantém uma ligação com a região, ajudando o seu clube Atlético de Bissorã em equipamentos desportivos.
O emigrante promete ajudar no futuro a equipa dos Balantas de Mansoa, setor onde fez o ensino liceal, em equipamentos desportivos.
Durante a mesma entrevista, António Watna Embana revelou que vai visitar a Guiné-Bissau ainda este ano, com objetivo de fazer contatos e visitar a sua família.
Por: Alison Cabral
Conosaba/odemocratagb
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