terça-feira, 13 de julho de 2021

CABRAL I BALANTA



Por: Yanick Aerton
O porquê deste debate estéril sobre a naturalidade daquele que foi e continua a ser o melhor filho da Guiné e Cabo Verde?
Uma vergonha nacional!
Em vez agradecermos o Amílcar Lopes Cabral por ter aberto os olhos aos Guineenses e Cabo Verdianos para lutarem de forma a reconquistarem a dignidade confiscada, estamos a cometer a maior asneira que é de questionar a naturalidade do fundador das nacionalidades Guineense e Cabo Verdiana
Aí é que somos diferentes dos outros.
Enquanto os outros se orgulham daquilo que de melhores têm, até procuram apropriar-se daquilo que é dos outros, nós fazemos totalmente o contrário, por inveja, ignorância, ódio e obscurantismo.
O Edouard Mendy, do Chelsea, é nosso. O Eder, que entregou ontem a taça do Euro 2020 é nosso. Um dos maiores lutadores da história do Senegal, Falay Baldé, é nosso. O génio do Kora, Soundioulou Sissoco, é nosso, a mãe, Calina, é Manjaca de Pexice. O grande quadro do BCEAO, Daniel Kabou, é nosso, os grandes comandantes das foras armadas do Senegal, Bampassy, Ntap, Boissy, Mendy, Gomis, etc., são nossos. A trisavó do comandante Pipi Pereira Barreto, Nhanha Pereira, mãe do primeiro deputado negro no parlamento francês, Blaise Diagne, a quem foi dano o nome do novo aeroporto, é Manjaca de Cacheu, é nossa. Ma suma noca panha pé, nocata valoriza nada, Senegalis toma conta ena ronca cu elis.
Daí que se afigura urgente criarem-se condições para a levar a ciência aos mais recônditos cantos do país, para que aquilo que era o maior sonho de Amílcar Cabral se torne realidade, isto é, formar um homem novo que pensa, a semelhança do que se passa noutros países, onde a preocupação é QUEM SABE FAZER MELHOR, e não a PROMOÇÃO DA HIPOCRISIA, indo até ao ponto de ter a frente de departamentos estatais e de formações politicas, pessoas que em termos normais, nem contínuos poderiam ser.
Sou ainda um puto, para muitos, mas fui informado que naqueles tempos, para ser contínuo, por exemplo no Banco Nacional da Guiné-Bissau (BNG), Finanças, etc., a pessoa tinha que ter o segundo ano dos liceus. Mas o segundo ano daquele tempo, que se pode considerar hoje o décimo ano de escolaridade, mas com mais substância!
É por causa disso e de mais considerações de ordem subjectiva que faz com que até aqueles que poderiam servir de exemplo estão a deixar-se levar pela baixeza, como se de intelectuais não se tratassem. Sinceramente, estou triste!
O que é mais importante? Aquilo que alguém pode fazer para o país que o viu nascer ou a sua origem?
Nasceu em Cabo Verde, nasceu na Guiné Portuguesa? Qual é a importância desse debate? O que é que aquele que julga ser mais Guineense do que o Amílcar Cabral fez na altura para consciencializar os seus conterrâneos para lutarem pela reconquista da dignidade confiscada pelo colonialismo português, que se traduziria na libertação da então Guine Portuguesa do jugo colonial? Onde estava esse Guineense, que se considera “verdadeiro fidju di Tchon”?
A maior parte daqueles que na Guiné-Bissau têm apelidos como Mbaye, Diouf, Dia, Seck, Tall, Ly, Sissoco, Jaquite, Gadjigo, Tangigora, Tounkara, Drame, etc., etc., são de origem estrangeira. Para mencionar apenas um caso, os Mancanhiis são da linhagem dos Anhis (Baoulé), da Costa do Marfim, e não há nenhum Mancanha intelectual que não sabe que a poderosa Rainha Pokou, era a autoridade máxima de todo o Povo Anhi.
A parte que se refugiu para a Guiné, pelo litoral, era aquela que não estava sujeita às atrocidades praticadas naqueles tempos no regime da Rainha Pokou, e são aqui chamados de Ba Oula, que é a deturpação de Baoulé.
Os Guineenses e os Cabo Verdianos só têm que agradecer Amílcar Cabral e velar pelo seu legado, porque o contrário seria um crime imperdoável, considerando aquilo que este génio, que muitos povos gostariam de ver nascido do seu seio, gostariam de ter como expoente máximo, reconhecido mundialmente pelo seu valor.
Amílcar Cabral não é só Guineense, ele e também Cabo Verdiano. Cabral no sentido mais lacto é um património da Humanidade. A dimensão de génios como Amílcar ultrapassam o quadro restrito de um determinado território, por isso é que essa polémica se torna patética, porque só mentes podres que não têm outra ocupação ou que não sabem nada e nem criar ocupação, é que se lançam nessa polémica de questionar a naturalidade de Amílcar Cabral.
São posicionamentos desta natureza que conduziram o povo da Costa de Marfim a entrar num conflito que acabou por dividir o país em Norte muçulmano e o Sul não muçulmano. Para os defensores do discriminatório conceito de IVOIRITÉ, os do Norte não deveriam ser elegíveis, por serem considerados não autóctones, mesmo que os seus triavos tivessem nascido em Côte d’Ivoire. O facto de terem apelidos Ouattara, Keita, Fofona, Bamba, Diomande, Coulibaly, etc., fariam deles inelegíveis, como também alvos a abater durante a guerra civil, que culminou com a eleição do Alassane Ouattara e a prisão do seu principal opositor em Haia, condenado pelo Tribunal Penal Internacional por crime contra a humanidades.
Quer se incutir no espírito dos menos formados na Gune Bissau de que forçosamente deve haver cidadãos de primeira e de segunda.
Porque é que muitos dos grandes comandantes que tiveram um papel de destaque durante a luta de libertação nacional não foram impedidos de se engajarem, porque os pais e, nalguns casos, os avôs de muitos deles eram de origem estrangeira?
Si Aguim I atrasado mental pá i tempacensa i djinguinu son pabia és povo na continua unido i indivisível.
Sim, o Presidente da República disse que Amílcar Cabral era Cabo Verdiano, mas também disse que era Guineense. Isso é o reconhecimento da importância do papel que desempenhou, através de uma liderança ímpar, para libertar os povos de Cabo Verde e da Guiné.
Na leitura dos discursos políticos (decryptage), devemos também ler nas entrelinhas, e não somente extrair a parte que pensamos poder utilizar para fins oportunistas para confundir a opinião. Devemos, sim, é fazer uma leitura realista e interpretar o pensamento daquele que proferiu o discurso. Isso, sim, e não tentar complicar sô pelo facto de não gostarmos da figura.
Não é porque eu seja o advogado do Presidente da República, ou membro do seu staff, mas também não posso ver o seu discurso analisado fora do contexto.
Que Cabral seja natural de Cabo ou Guiné, pouco interessa. Que lendário comandante Kabi e os valorosos comandantes, Umaro Djalo, Lúcio Soares, Paulo Correia, Quemo Mane, Botcha Nambatcha, Agostinho Cá, Pansau Na Isma, Lay Seck, Odick Daring, Mantan Biaque, Gazela, Bobo Keita, Abdulai Bari, etc., sejam naturais da Guiné ou de Cochin China, pouco interessa.
O que interessa aos Guineenses, é a página da história da Guiné que escreveram com letras de OURO, ao entregarem todas as suas vidas para lutar pela libertação dos povos da Guiné e Cabo Verde, sonho cuja concretização o Chefe de Guerra infelizmente não pode assistir, por traição, aquela traição do Guineense, que ainda está a roer a nossa sociedade.
É isso que a nova geração precisa saber, uma vez que ela está condenada a ficar sem escola e sem saúde, devido a uma governação em que os players mais se preocupam em servir-se do Estado do que servir o povo, aproveitando-se da incapacidade da nossa justiça de pôr termo a impunidade existente e punir severamente os prevaricadores.
Deus proteja os Guineenses contra aqueles que querem dividir o povo!
Somos e vamos continuar a ser um povo unido e indivisível.
A memória del Comandante Vicente Có, O Grande homi!
Glória eterna ao Comandante que não cansava de nos aconselhar: NÔ NDIANTA!
Cabral ka murri.

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