segunda-feira, 13 de julho de 2020

DIMINUIU SIGNIFICATIVAMENTE O RENDIMENTO DOS OURIVES NA GUINÉ-BISSAU

Assaltos aos portadores de bijutaria em ouro

O ouro é um dos metais mais cobiçados em todo o mundo e a sua origem é um dos maiores mistérios da humanidade. Os constantes assaltos verificados aos portadores desse valioso metal no país diminuiu substancialmente o rendimento dos ourives, se tomarmos em consideração o fraco uso deste bem precioso que, outrora, fazia parte dos objetos de lucho de individualidades, principalmente mulheres.

A nossa reportagem fez um passeio a nível da cidade de Bissau, concretamente aos bairros de Gã Beafada, N’Pantcha e Péfini, onde conseguimos falar com os profissionais que laboram as peças de grande valor económico, para saber em que circunstância trabalham nesta fase de fraca procura do ouro.
Saico Candé, ourive profissional e herdeiro de Baró Candé, um dos primeiros ourives na capital guineense, com a sua oficina no Bairro de Reno-Gâ Beafada, disse à repórter do jornal “Nô Pintcha” que a ourivesaria tradicional africana é uma profissão de grande valia, desde os tempos dos faraós mas que, hoje em dia, perdeu muito da sua influência devido a variados motivos, entre eles os sucessivos assaltos de portadores de joias e peças preciosas, destacando nestes casos as mulheres.

“Criámos a Associação dos Ourives da Guiné-Bissau que conta, atualmente, com 85 associados, no intuito de conferir outro dinamismo a esta profissão, formando jovens profissionais para, no final, credenciá-los para que se organizem numa classe dentro da profissão.

Para contornar algumas dificuldades com que os associados se confrontam, Saico Candé confidenciou-nos que os membros da organização deslocam-se a alguns países vizinhos para adquirir materiais e que, quando regressam, colocam o material que compraram à disposição de uns e de outros membros para executarem as peças que lhes forem encomendadas e que, no fim de tudo e após os lucros obtidos, devolver o montante devido à associação.

Conforme disse o nosso entrevistado, os ourives fazem parte da Câmara de Comércio e Artesanato, mas que daí não lhes advém qualquer apoio do Governo pelo trabalho que executam, fazendo uso apenas dos fundos amealhados pela organização e com meios que cada um dispunha na altura.

No que respeita às falsificações que têm vindo a verificar-se na cidade de Bissau e em algumas regiões, este acusa diretamente os estrangeiros que andam porta a porta comprando artigos em ouro e, ao mesmo tempo, criar oficinas falsas para lavagem de bijutarias que já perderam brilho. No final, tudo termina numa grande confusão, tendo em conta a falta de verdade nessa prática. Também existem grupos de indivíduos que viajam até Europa com a intenção de comprar joias em ouro e alegam destinar-se ao uso pessoal mas que, quando regressam, colocam as peças adquiridas na vitrina para fins comerciais, fugindo ao pagamento de impostos ao Estado. Neste sentido, o herdeiro deste grande negócio liderado pelo pai, Baró Candé, encoraja as autoridades a redobrarem de esforços na fiscalização da atividade destes comerciantes, no sentido descontrolar cada uma destas pessoas que fogem ao pagamento das contribuições devidas ao Estado, verbas que podem servir para muita coisa em favor deste país que carece de tudo.

“Dirigimos uma carta ao Governo, concretamente aos Ministérios do Interior, da Justiça e ao Ministério Público, a denunciar os ditos ourives, mas sem sucesso. Somos parceiros do Governo, porque prestamos serviço para a sociedade. Se sentássemos a uma mesa, certamente que encontraríamos uma solução para este problema que afeta a nossa classe”, disse.

O ourive profissional apelou ao Governo no sentido de apoiar a associação neste período de pandemia, pois neste momento do coronavírus temos somado prejuízos incalculáveis. Há necessidade de serem delineadas estratégias com a associação, para fazer face aos obstáculos que a classe está confrontada.

Mamadu Uri Djaló, ourive, morador no Bairro de Péfini, também falou ao nosso semanário para afirmar que os seus trabalhos não são como nos tempos de outrora, quando tudo era feito na base de profissionalismo e de muita concorrência, com lucros avultados.

Conforme este profissional, hoje em dia trabalham mais com prata, porque o elevado custo do ouro no mercado internacional e os constantes assaltos às portadoras desse metal, desencorajam o seu uso. “As peças trabalhadas em prata não proporcionam grandes lucros. Infelizmente, não temos outra opção.”

Iniciei este trabalho em 2003. No começo da profissão, trabalhava no Bairro de Belém. Três anos depois vim para o mercado de Péfini, onde me estabeleci até ao presente.

O porquê do não uso regular da bijutaria de ouro

Celeste da Silva, cidadã guineense e ex-usuária de ouro afirma ao “Nô Pintcha” que, atualmente, não se sente encorajada a usar este bem precioso, porque corre sério risco de vida. Um objeto que faz parte do embelezamento das mulheres, agora caiu em desuso dado o perigo que a maioria dos utilizadores enfrenta.

“Os artigos de beleza que me restam servirão para situações de grande aperto financeiro quando estiver em situação de aflição. Vendo e resolvo o meu problema, ao invés de os perder de forma inglória para os bandidos, que dia após dia andam nos arredores ou nos transportes públicos a saquear as mulheres, pois com os homens arriscam pouco”, esclarece.

Elci Pereira Dias

Conosaba/nô pintcha

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