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Bissau, 27 jul 2020 (Lusa) - O deputado guineense Conduto de Pina, eleito no arquipélago dos Bijagós, disse que tem provas de um caso de suposto tráfico de crianças por parte de uma cidadã estrangeira, dona de uma escola na ilha de Bubaque.
Numa intervenção no parlamento guineense, na semana passada, Conduto de Pina falou sobre o caso, e em declarações à Lusa explicou os contornos da situação que disse estar longe de ser um processo de adoção de crianças.
"Não se trata de adoções, porque adoção teria de passar por trâmites normais, constitucionais, até à produção de uma sentença por um tribunal. Ela não, ela faz subtração (de crianças)", observou o deputado.
Conduto de Pina afirmou que a autora do alegado crime, que neste momento se encontra em França, trabalha em Bubaque, mas tenta retirar crianças da ilha de Canhabaque, onde, disse, a maioria dos pais são analfabetos.
O deputado disse que por ter feito denúncias ao comportamento da autora daquilo que considera ser tráfico, pelo menos cinco crianças de Canhabaque tiveram de voltar para a Guiné-Bissau quando já se encontravam no Senegal.
"Na sexta-feira era para fazer embarcar cinco crianças a partir de um voo que partia do Senegal para a Tunísia e de lá para Antígua, Barbados, para depois poderem entrar na Europa", afirmou Conduto de Pina.
Deste grupo, acrescentou o deputado, consta uma criança do sexo feminino que a autora do esquema tentou levar para a Europa, em 2019, a partir do Senegal com um passaporte daquele país, disse.
"A criança viajou até Marrocos, onde foi barrada. Ela regressou com a criança e tentou novamente este ano levar a mesma criança no grupo dos cinco. Não sei como é que ela vai fazê-las entrar se está tudo fechado na Europa Schengen", referiu o deputado.
Conduto de Pina disse que desta vez e com a sua denúncia "o esquema abortou", mas tem informações de que a mesma pessoa conseguiu, no passado, levar para fora da Guiné-Bissau três crianças das ilhas.
Segundo Conduto de Pina, seriam crianças com idades entre os sete e os 17 anos.
Sobre a forma de funcionamento do que chama de "esquema bem montado", Conduto de Pina indicou que a autora tem uma escola francesa na ilha de Bubaque, que depois transformou num orfanato, mas que, entretanto, se tornou um hotel, enfatizou.
"A forma como ela lida com as crianças leva os pais a entregarem os filhos à senhora", observou Conduto de Pina, que acusa a mulher de estar a levar crianças para fora do país há mais de três anos.
O deputado exibiu à Lusa documentos, cópias de bilhetes de identidade e de passaportes das crianças alegadamente envolvidas no esquema, bem como papéis que seriam declarações dos pais a autorizar a viagem dos menores na companhia da mulher.
"Ao que consta, ela forja a autorização dos pais das crianças através de papéis escritos em inglês, francês e português. Vou agora tentar descobrir os pais biológicos das crianças, que supostamente são pessoas analfabetos", afirmou Conduto de Pina.
Segundo disse, o parlamento vai mandar, brevemente, para as ilhas elementos de três comissões especializadas para averiguar a situação.
Em junho, fonte da Associação Amigos da Criança disse à Lusa que a Polícia Judiciária guineense, com o apoio da Interpol, intercetou em Marrocos seis raparigas, que estavam a ser levadas para um país asiático para prostituição.
A associação acredita que situações do género acontecem "desde sempre", envolvendo raparigas guineenses, que são aliciadas com promessas de trabalho em países vizinhos da Guiné-Bissau, Europa e Ásia, mas que parece agravar-se com a pandemia da covid-19.
Contactada pela Lusa, fonte da Polícia Judiciária guineense confirmou que o caso está a ser investigado.
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