sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

MASTA TITO, UM RAPPER SEM MEDO DE CANTAR "AS VERDADES"


Masta Tito: "Enquanto os militares, os políticos e a sociedade guineense, os médicos, enfermeiros, não mudarem, o Masta Tito continua sempre a cantar"


As músicas do rapper Masta Tito podem ser duras de ouvir, mas retratam a realidade da sociedade da Guiné-Bissau. Tecem sobretudo fortes críticas aos governantes do país. O guineense tornou-se uma celebridade.

Ninguém escapa às críticas de Masta Tito: nem o Presidente guineense, nem ministros ou generais. O rapper é um jovem discreto, mas bastante interventivo. As suas músicas são tocadas em todas as rádios guineenses e retratam o dia-a-dia da Guiné-Bissau, focando as atitudes dos governantes.

"Tchiquero" ("Pocilga"), "Ké kuna medi" ("Porquê ter medo") e "Fossa" são três temas que colocaram Masta Tito nos píncaros da fama na Guiné-Bissau. Mas o músico conta que a ousadia já lhe valeu espancamentos pelos militares. No entanto, Masta Tito promete que não parará com as críticas enquanto não houver mudanças.

"Enquanto os militares, os políticos e a sociedade guineense, os médicos, enfermeiros, não mudarem, o Masta Tito continua sempre a cantar, a criticar de uma forma construtiva. Se não há luz, o Masta Tito diz que não há luz. Se não há água, diz que não há água", afirma o rapper.

"O que ele canta é verdade"

Masta Tito, de 32 anos, assume-se como a "voz dos oprimidos" e daqueles que não têm coragem de dizer o que lhes vai na alma, perante os abusos dos dirigentes.


Um fã, ouvido pela DW África, concorda: "Aprecio e gosto das músicas do Masta Tito, porque, apesar de ter mensagens fortes, acaba por espelhar toda a realidade político-militar e a má governação." Um jovem acrescenta que "o que ele canta é verdade. Se não acontece acaba por acontecer."

Até à morte, como Cabral

Há uma atuação que, ainda hoje, está na memória de muitos guineenses: o "show" que o rapper deu no Clube Militar de Bissau, em 2012. Masta Tito entrou em palco num caixão para mostrar a sua firmeza em denunciar a corrupção e má governação na Guiné-Bissau - até à morte, se for necessário:

"Eu decidi: posso morrer. Amílcar Cabral morreu pela Guiné-Bissau; muitos combatentes da liberdade da pátria morreram para um dia termos paz, estabilidade e sossego no país."

O sonho de gravar um álbum

À semelhança de outros artistas guineenses, o rapper não vive só da música. Estuda atualmente gestão de empresas no Senegal e trabalhava como animador num projeto que intervém no domínio da saúde reprodutiva, no sul da Guiné-Bissau. É aí que passava grande parte do seu tempo. Volta e meia vai à capital guineense para dar concertos.

Masta Tito começou a carreira em 2000 e ainda não gravou nenhum álbum, mas já tem um repertório de 32 músicas. O rapper diz que ainda tem esperança de, um dia, gravar o primeiro CD de originais.

"Anteriormente, tinha muitas dificuldades para conseguir gravar as minhas músicas. Andava a bater de porta em porta, pedindo ajuda a amigos, irmãos. E fazia-o também com o meu esforço", afirma o músico.

"Até agora, não tenho condições para conseguir gravar um álbum, porque, aqui na Guiné, não temos um estúdio profissional."

Masta Tito quer ter o seu próprio estúdio para, finalmente, poder gravar o seu primeiro álbum e não só: "Quero apoiar aqueles que estão a começar na cena musical, para não passarem pelas mesmas dificuldades por que eu passei."

DW\\Conosaba




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