terça-feira, 12 de maio de 2015

«OPINIÃO» GUINÉ-BISSAU: É IMPRETERÍVEL PENSAR NUMA REFORMA ADMINISTRATIVA


O desenvolvimento sendo um processo esperado em qualquer país, seria da mesma forma vislumbrado na Guiné-Bissau. Contudo esse desejo se constitui quase uma unanimidade nos pensamentos dos Guineenses, mas ao mesmo tempo traz uma diferença de opiniões de como deve ser alcançado e, quais devem ser os passos primordiais, visto que cada cidadão ou governo tem a sua visão concernente a este processo. Essa chuva de opiniões me fez abraçar esse grande desafio para mostrar a minha visão baseando na realidade do nosso país.
                                                   
A priori, deixo claro o que seria uma reforma administrativa como e quando tem emergido com base nos estudos de Bresser Pereira.
                                      
A década de 1990 foi marcada com constantes mudanças dos Estados no mundo, originadas pelas formas de funcionamento que posteriormente foram afetados por crise fiscal, crise do modo ou das estratégias de intervenção estatal, e uma crise da forma burocrática pela qual os Estados eram administrados nos anos 1980. O que lhes obrigaram a dedicar os esforços para modernizar e tornar mais flexível e ágil a administração pública, processo que se acelerou duma forma tão rápida.
                                                                                                                             
As crescidas demandas do mundo contemporâneo e os desafios económicos promovidos pela globalização requerem uma reorganização dos Estados nacionais para que possam estar em condições de encarar o que lhes são incumbidos. Para isso, é imprescindível a implementação da reforma de Estado especificamente do aparelho administrativo para pôr fim aos pensamentos de uma autoridade inquestionável, incontestável sob decisões arbitrárias e que por força das situações ainda se afirma na produção de bens e serviços o que poderia ser feito pelas organizações privadas que são eficientes e ofertam consumos com menor custo aos cidadãos.
                                                                                                                    
Porém, a reforma não se refere a desorganização do Estado e nem tão pouco a limitação da sua competência em tomadas de decisão ou de impedi-lo de desenhar o seu próprio destino, mas certamente seria um aumento da sua tarefa de financiar as empresas não governamentais para desenvolverem as suas atividades de produção de bens e prestação de serviços tanto como a reorganização administrativa.
                                                                                                                           
A Guiné-Bissau ao longo dos anos tem vivido situações indesejáveis que lhe levou a caminhos da profunda incerteza e descontrole do seu aparelho administrativo.

As tentativas de procurar uma saída bem-sucedida, continuam levantando opiniões diferentes.
                                                                                                                      
Na minha visão, seria urgente a implementação da reforma administrativa como passo primordial para o início do processo duma estabilidade duradoura e de desenvolvimento. Essa prioridade não é só pelo fato da Administração Pública ser a máquina pelo qual o Estado consegue satisfazer as necessidades coletivas básicas como os serviços da Saúde pública, Segurança Social, Educação, Cultura e Desporto e a Defesa Nacional previstos nos artigos 15°, 46° n° 3, 16° e 49°; 17°; 20°; E do bem-estar em geral referido pelo Artigo 11°, n° 2 da Constituição da República e criar condições de investir nos demais setores.
                                                                                                                       
Mas também pelo fato de que há mais de uma década, que a modernização do aparelho administrativo Guineense tem sido uma das preocupações dos governos sucedidos principalmente no que diz respeito ao descontrole dos  funcionários públicos, ineficiência dos serviços, improdutividade e a corrupção que diminuiu a sua capacidade de gerar recursos próprios para se auto sustentar, visto que alguma parcela do orçamento do Estado ainda continua sendo assegurada pela Comunidade Internacional (CI) que também estaria ‘‘muito engajado no apoio a implementação de um processo democrático, concorrentes com os esforços desenvolvidos para efetivar as reformas na função pública e as das estruturas de defesa e de segurança’’ (TEIXEIRA,2012,P1).
                                 
Com vista nessa preocupação, teve implementação de projeto de reforma na função pública lançado em 2008 que resultou num recenseamento biométrico em 2009, mas que infelizmente os resultados podem ser considerados ineficazes devido à instabilidade política militar que se deu em 2012 que nos guiou outra vez a caminhos da incerteza.

A implementação da reforma na administração pública Guineense visa uma reorganização da estrutura administrativa, controle rigoroso dos seus ingressantes, os desempenhos e a fiscalização dos recursos públicos.
                          
O Estado precisa saber distinguir quem são os funcionário públicos-pessoas que foram selecionados com base no recrutamento que culminaram com nomeações definitivas como prevê a lei; e quem são os Agentes administrativos-aquelas que foram contratadas a termo certo para desempenharem algumas tarefas não permanentes dentro da administração pública, mas que continuam mesmo com o término do contrato. Esse fato também é facilitado pelas constantes instabilidades que assolaram o país durante muitos anos que fragilizou o aparelho administrativo ao ponto de esse continuar beneficiando da inclusão ilegal de pessoas na função pública. Pessoas que criam despesas para o Estado sem mínimo retorno (sem prestarem bons serviços para o Estado e em particular aos cidadãos), refiro aos chamados funcionários incompetentes que integram sem submissão do concurso público, mas que são postos pelas pessoas de topo de Estado por pertencerem grupo familiar ou de conhecidos. Além de falar dos funcionários fantasmas que é Fato comprovado nos resultados de recenciamento biométrico dos funcionários público em 2009 que segundo Fernando Gomes na altura ministro da Administração Pública e de Modernização do Estado, constituía mais de um sexto dos 22.200 funcionários. Isto é, registrou-se 4.000 (quatro mil) funcionários fantasma. Contudo, esses funcionários ainda continuam existindo na administração pública. Um desses casos foi recentemente descoberto no ministério da administração interna, quando o Botché Candé era Ministro da referida instituição do atual governo, devolveu ao tesouro público mais de 30 milhões de franco CFA, que saiu das finanças com destino a pagar funcionários que os nomes constavam na folha de pagamento, mas que finalmente eram fictícios. Cabe perguntar onde iria aquele montante na era de outrem?
                     
Ainda se constata um número elevado de funcionários efetivos que já estão além da idade de reforma que hoje mesmo querendo não têm como ter grande desempenho devido o cansaço e falta de energia, mas que ainda continuam a ocupar um número significante dos lugares no aparelho administrativo público Guineense, essas merecem ser reformadas (aposentar) para dar espaço aos jovens que têm energia e visão de um novo mundo e de novas estratégias de trabalho.
                                                                                                                                                  Dar cabo a corrupção cometida através de assinatura de contratos em nome de Estado colocando os interesses pessoais sobre os interesses públicos. Assim como a punição dos servidores que prestam serviços pedindo ‘sucu di bas(ato ilícito).
                  
Noutra face, muito se acredita que as causas da instabilidade e do atraso de processo de desenvolvimento se residem apenas no setor de defesa e segurança, de tal modo que se exige prioritariamente a sua reforma.
                     
Ora, não vim julgar os fatos para determinar as causas da instabilidade, e nem tão pouco negar visões de outrem, mas sim mostrar que o setor de defesa e segurança está incluído dentro do aparelho administrativo Estatal. Os militares, polícias etc. fazem parte do núcleo dos funcionários públicos. Portanto, não adianta reformar isoladamente um setor que está dentro de um aparelho administrativo com estruturas frágeis e menos produtivo que não consiga sustentar esse processo. Nesse contexto, vale lembrar a revolta dos ‘‘mais velhos’’ justificada com argumentos de más condições de vida na categoria de reformados. Não quis dizer que caso haja prioritariamente uma reforma no setor de defesa e segurança pode haver novamente o cenário referido. Mas sim demonstrar a vantagem de preparar a nossa administração para esse desafio, a fim de ensejar o controle do verdadeiro destino dos 8% de salário do trabalhar descontado em nome do instituto da previdência social (INPS), e criar condições para contribuir com a sua cota-parte de 14% para a pensão futura da reforma do trabalhador.
            
Obviamente, é nada fácil concretizar uma reforma administrativa devido a sua margem de complexidade principalmente num país como nosso. Esse processo exige um pensamento extraordinários que traça planos bem definidos.

A conscientização dos funcionários públicos seria imprescindível. É necessário que haja formas adequadas e capazes  de mobilizar através de programas radiofónicos e televisivos, promoção de palestras e seminários de capacitação que podem ser feitas dentro e/ou fora dos locais de trabalho através de cooperação com algumas escolas técnicas onde podem ser criados grupos diferentes de funcionários que serão formados ou informados em momentos diferentes,  a fim de entenderem que reforma não é simplesmente querer excluir alguém do seu trabalho, mas é a procura e implementação de novas estratégias para aumento da capacidade produtiva do Estado através de cedência de espaço. E que estes funcionários ainda sejam informados como será o futuro deles.
                
É indispensável num processo de reforma administrativa, a criação de um Direito Administrativo detalhado para regulamentação de setor administrativo que todo e qualquer funcionário deve ter mínima noção de como cumprir o seu dever e conhecer o limite da sua competência. Assim como regulamentar a relação entre a administração pública com as instituições privadas.
              
A aprovação de diplomas, formação de pessoas e sua qualificação e, eventual reclassificação e reconversão são fatores decisivos na modernização administrativa (Carlos Vamain).
                
Ao findar-me, deixo questões abertas para que possamos refletir mais.                               Como é que um aparelho administrativo que não consegue alocar receitas internas para se auto sustentar pode investir significativamente na educação, saúde, agricultura, infraestrutura e em demais setores?
                       
O fato de querer investir e transformar positivamente o país sem que haja estrutura básica e viável para esse desafio, nos impulsiona cada vez a multiplicar as dívidas externas que muitas das vezes são mal geridas devido a fraqueza de controle e que posteriormente será grande prejuízo para o país e para a futura geração.
                                 
Meus caros, a produtividade e o controle rigoroso da coisa pública como exige o nosso Presidente, são fatores fundamentais. E para isso, é extremamente necessário e impreterível a reorganização da nossa Administração Pública para que as pessoas com competência estejam a serviço do povo.
  
Só assim o Estado terá maior controle e avaliação do desempenho dos Agentes administrativos e funcionários efetivos que trabalham com intuito de o Estado gerar receitas internas e, investir principalmente na Educação, Saúde e agricultura como nos demais setores.

                                                  MON NA LAMA
Alfa Aliu Embaló - Estudante do Curso de Graduação em administração pública na Unilab, Brasil



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