Suleimane Baldé já viu gente morrer das quatro vezes que entrou clandestinamente na Europa desde 1997, mas isso não o impede de ir tentar a travessia outra vez este ano.
"Já vi pessoas morrerem à minha frente. Houve gente a morrer no mar, outros no Saara", ao atravessar o deserto para chegar a um mundo onde sonham ter trabalho e ganhar dinheiro, descreve o guineense, de 37 anos, à agência Lusa.
Conheceu Málaga, mas não conseguiu lá ficar: das quatro vezes que chegou a Espanha, mais cedo ou mais tarde, Suleimane foi sempre repatriado para a Guiné-Bissau.
Nada que afete a determinação em fazer a quinta viagem -- ainda sem data marcada, nem rota traçada, começa quando tiver dinheiro para ir para Bamako, capital do Mali, para dali em diante ir trabalhando no que puder e ganhar dinheiro para pagar cada etapa.
"Não tenho medo. Medo de quê? Já enfrentei o mar, a polícia e já estive preso", conta, com cara de quem acha estranho que lhe perguntemos porque quer ir para a Europa, mesmo quando milhares morrem no Mediterrâneo ao tentar fazê-lo.
Para ele, a razão é evidente: "Tu viste onde me encontraste?", pergunta, ao apontar para um mercado de cabras ao ar livre no Bairro da Ajuda, em Bissau.
É com a venda de alguns animais - que vão pastando pelo meio de barracas improvisadas, com lixo em redor - que Suleimane ("Balanto" para os amigos) tenta arranjar dinheiro para dar de comer a 10 familiares.
Ao fim do dia faz as contas e chega à conclusão que o dinheiro não é suficiente.
Ao lado está Sadjo Djamanca, 42 anos, antigo viajante clandestino, que nos leva do mercado até à sua casa, no Bairro Militar, para explicar que sonha com a Europa para comprar mais comida e construir uma habitação "de primeira qualidade".
Na casa dele, como nas outras dos bairros em redor, o chão é de terra, a mesma terra da rua com que são feitos os blocos nus que formam as paredes e sustentam um telhado de zinco, esburacado, que vai deixar a chuva passar.
Lá dentro não há móveis, só alguidares e canecas de plástico, um fogareiro, roupa entre umas coisas e outras, um baú, colchões de espuma no chão do quarto e este é o cenário que põe muitos a pensar no salto clandestino, custe o que custar.
Não há guerra, mas há pobreza para quem vive a tragédia em câmara lenta de um Estado por construir que parece só agora, 40 anos após a Independência, virar costas à instabilidade política.
Na casa de Sadjo, são seis à volta do alguidar na hora de comer, incluindo três crianças que frequentam a escola, com porção contada: um quilo e meio de arroz por dia a dividir por todos, quando há.
Em busca de trabalho, Sadjo tentou o salto pela primeira vez em 1996, altura em que andou na pesca ao largo da costa do Senegal até ganhar o equivalente a mil euros para comprar lugar numa canoa que ia sair da Mauritânia para fazer chegar dezenas de passageiros à Europa, sem se saber bem como.
A embarcação foi detetada pelas autoridades e nem saiu da capital, Nouakchott, para se fazer ao mar.
"Sem papeis é muito perigoso, podemos morrer", reconhece, recusando-se a voltar a vestir a pele de clandestino, mas frisando compreender quem o faz.
"Se não o fazes, não há maneira de resolver a vida. Não queres andar sempre a pedir dinheiro a amigos para sustentar a família", refere.
O salto para a Europa pode comprometer a integridade física e é um grande risco financeiro, um preço do tamanho do sonho: em 2012, Adama Baldé, 35 anos, comprou lugar num navio por 3.000 euros para depois ser abandonado em alto mar juntamente com outros sete emigrantes clandestinos.
"Disseram-nos para saltarmos para os botes salva-vidas porque se aproximava uma fiscalização. Prometeram que nos iam buscar, mas nunca mais voltaram e deixaram-nos à deriva", recorda.
Sobreviveram com bolachas e água durante cinco dias e só ao oitavo foram resgatados, depois de já terem tentado saciar a sede com água salgada.
O responsável pelo navio que os abandonou foi detido, mas Adama nunca mais viu o dinheiro.
Noutro ponto do Bairro Militar de Bissau, Mamadu Candé também vê na Europa a solução para a falta de comida e para a dificuldade em comprar medicamentos quanto alguém adoece.
"Tinha era que ser tudo legal e não tenho posses para isso", lamenta, enquanto recorda as cinco tentativas de lá chegar, na clandestinidade, desde 1999.
Perdeu milhares de euros, da família e dele, amealhados nos países por onde passava e ficava durante meses a trabalhar.
Amanhã, Mamadu vai fazer companhia a Sadjo no mercado das cabras, hoje conta as moedas para a única viagem que pode fazer: de casa até ao contentor onde servem bebidas e há televisão, com as imagens em que se vê "como a Europa é melhor".
Publica isto no Face bem claro é um grito dos imigramtes...amigo a luta continua
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