A Guiné-Bissau caminha,
inexoravelmente, para mais um pleito eleitoral. Como todos os guineenses
puderam constatar, apenas poucos candidatos a estas eleições presidenciais
ousaram abordar o tema da corrupção no nosso país. E fizeram-no de forma
corajosa.
Muito poucos, tendo em consideração a quantidade de candidatos que se
perfilam para a assunção da mais alta magistratura da Guiné-Bissau e tendo em
consideração a relevância deste assunto na defesa dos interesses essenciais da
nossa terra.
Daí que considere a subalternização e a quase ausência deste tema
ao longo da campanha, pelo menos por parte da maioria dos candidatos, um facto
muito preocupante. Pessoalmente acho, igualmente, que cada um deveria expor ao
que vai relativamente a esta matéria que muito tem prejudicado o
desenvolvimento da Guiné-Bissau.
É que o mais alto magistrado pode ser uma
figura cimeira nesse combate. Felizmente, gradualmente, mas conscientemente, o
guineense tem estado a compenetrar-se de que sem um combate nacional sobre este
flagelo não será possível: defender os nossos familiares e amigos da morte
lenta a que têm estado submergidos; acabar com os abusos dos salários
miseráveis e em atraso enquanto alguns políticos (muito poucos) andam em bons
carros e têm boas casas; ter bons hospitais; ter boas escolas; ter boas
estradas; acabar com a eterna escravatura da dívida externa com juros
elevadíssimos que comprometem o futuro do país e a soberania da nossa terra.
Considero até que, do ponto de vista do espectro partidário, hoje existe espaço
para o surgimento de um novo partido político que assumisse a luta contra a
corrupção como um dos seus primordiais objetivos programáticos.
Apenas um
partido com essas características poderá, com gente séria e absolutamente
impoluta, enfrentar essa doença que capturou a Guiné-Bissau pós-colonial.
Qualquer partido ou movimento cívico com esse pendor ganharia relevância em
muito pouco tempo no xadrez político da nossa terra. Aliás, esta é a tendência
que vai cobrir a África dentro de muito pouco tempo, a medida que as
populações, que são as principais vítimas diretas deste flagelo, forem capazes
de ganhar consciência de que a corrupção é a sua maior inimiga e que luta sem
desfalecimentos contra ela é uma luta necessária na defesa intransigente dos
seus interesses e porque absolutamente justa. Talvez depois destas eleições as
pessoas comecem a perceber o que é que está verdadeiramente em causa. Uma coisa
é certa.
No transcurso dos anos vi muito gente completamente arredada daquilo
que deveria ser o seu combate. Muito boa gente alheou-se da verdade, da
justiça, vendeu-se, prostitui-se vergonhosamente em nome de interesses mesquinhos
enquanto o país foi sendo capturado. Mas há sinais de alento entre a juventude
guineense.
Tenho a certeza absoluta que se amanhã alguns de nós que hoje
estamos de alguma maneira abertamente envolvidos nesse combate pela justiça,
seriedade, contra a corrupção e delinquência na vida política fracassarmos,
centenas de jovens continuarão a empunhar essa bandeira da luta contra a
corrupção e venceremos.
Amanhã seremos mais e mais, na luta pela verdade e por
uma política de compromisso com as populações da nossa terra mártir. Uma
política feita para servir e não para se servir. Amanhã muitos jovens
continuarão a trilhar esse caminho que é o único caminho que pode conduzir o
nosso país ao desenvolvimento e à felicidade. Nessa altura os complexados da nossa
política serão completamente derrotados se não arredarem pé dos complexos que
enfermam a sua vida, completamente comprometidos com interesses alógenos.
Espero ainda que nos próximos dias que restam da campanha
eleitoral aqueles candidatos que ainda não entraram nesse debate tenham a
oportunidade de se redimirem e dizerem claramente aos eleitores o que farão
para promoverem um combate aberto contra a corrupção. Ainda queria ver os mais
afoitos a proporem uma carta de compromisso contra a corrupção para ficarmos a
saber quem é quem nesse combate eleitoral. Tudo o resto são faits-divers.
Apareçam! Não se escondam em discursos bonitos para cegarem o pensamento às
pessoas e que não as dão de comer, nem dão medicamentos aos doentes internados
nos nossos hospitais. Digam da vossa justiça de uma vez de que lado estão. É
que na política não basta sê-lo. Também é preciso parecê-lo.
A Guiné-Bissau não pode continuar a ser o
antro de corruptos, de gente sem escrúpulos, cujo único objetivo é ludibriar os
mais incautos, semear confusão e tirar partido da confusão. Nessa luta contra a
corrupção na nossa terra seremos cada vez mais e mais em busca da felicidade
para a nossa terra.
Julião Soares Sousa
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