domingo, 22 de agosto de 2021

ALTO COMISSARIADO ANUNCIA VACINAÇÃO DE MAIS DE ONZE MIL PESSOAS EM BISSAU E BIOMBO

[ENTREVISTA agosto_2021] O secretário do Alto Comissariado para Covid-19, Plácido Cardoso, anunciou ter vacinado onze mil e duzentas (11.200) pessoas prioritárias e dos grupos de risco, em Bissau e em algumas zonas periféricas da região de Biombo, com as primeiras doze (12) mil doses da vacina AstraZeneca do Grupo Pan-africano de telecomunicações MTN. Cardoso revelou que foram consumidas, na primeira e segunda fase da campanha de vacinação, trinta e cinco mil (35 mil) doses da marca AstraZeneca e 3.000 da Sinopharm. Contudo, não avançou dados exatos de pessoas já vacinadas a nível nacional, por estarem a concluir o processo de recolha de dados.

“Quanto ao número de vacinados, ainda estamos no processo de recolha de dados”, justificou.

O especialista em medicina internacional revelou esses dados numa entrevista exclusiva concedida ao semanário O Democrata, na qual falou, de entre outros assuntos, da evolução do processo de vacinação no país e das medidas tomadas e que ainda continuam a ser tomadas pelas autoridades nacionais e pelo Alto Comissariado para fazer face à doença.

Na mesma entrevista, Plácido Cardoso indicou que no total a Guiné-Bissau recebeu setenta e quatro mil e oitocentas (74 800) doses de vacina. Apesar de alguma desinformação e resistência às campanhas de vacinação, o médico considerou “satisfatória” a adesão à vacina em Biombo e Bafatá, porque a percentagem definida para a primeira fase da vacina foi ultrapassada.

AC ADMITE QUE FALTA MUITO TRABALHO A SER FEITO NO CAPÍTULO DE SENSIBILIZAÇÃO

Apesar desses indicadores, Cardoso frisou que ainda há muito trabalho a ser feito em termos de sensibilização em matéria da vacinação, sendo o meio mais seguro para se proteger contra o coronavírus em articulação com outras medidas de prevenção como: o uso de máscaras e a desinfeção das mãos que, segundo acrescentou, também pode ajudar as pessoas a prevenirem-se de outras doenças, para além da Covid-19.

Plácido Cardoso indicou que, das vacinas 74.800 doses que a Guiné-Bissau recebeu, sendo seis mil são da Sinopharm e as restantes da AstraZeneca, todos doados por parceiros da Guiné-Bissau, nomeadamente, a MTN doou 12.000 mil doses da AstraZeneca, o Senegal 10.000, das quais 6.000 são da Sinopharm e 4.000 da AstraZeneca, a iniciativa COVAX 28.800 doses da AstraZeneca e Portugal 24.000 doses de AstraZeneca.

Segundo Plácido Cardoso, o intervalo de vacinação entre a primeira e a segunda dose decorre, para AstraZeneca, de 8 a 12 semanas e para Sinopharm é de quatro semanas.

Plácido Cardoso anunciou que o Alto Comissariado vai começar em breve a aplicar a vacina de Portugal e com a possibilidade de alargar os centros de vacinação às zonas periféricas do centro da cidade Bissau, nomeadamente, o bairro de Pefine e o Estádio Lino Correia.

“Está prevista a chegada de mais 100 mil doses de Sinopharm doadas pela China e da iniciativa COVAX e 302 mil doses de Johnson & Johnson”, anunciou. Para o Alto Comissariado, com estes números de doses e mais o envolvimento da equipa militar “vamos poder acelerar e alargar o processo de vacinação às regiões”.

Explicou que, de acordo com o plano inicial de vacinação, o AC tinha programado vacinar 03%, correspondentes a cinquenta e seis mil e setecentas e cinquenta e uma (56.751) pessoas da população considerada prioritária (pessoas implicadas diretamente no trabalho da assistência social ou prestação de cuidados de saúde, pessoas com co-morbilidade), mas devido a pouca adesão à vacinação decidiu-se alargá-lo ao segundo grupo prioritário (pessoas adultas, com mais de 50 anos de idade, ou outras pessoas em função dos fatores dos riscos pertinentes, incluindo o pessoal da educação a nível central, regional e local), que constituem 17% da população geral.

Ou seja, trezentas e vinte e um mil e quinhentas e oitenta e sete (320.587) pessoas, o que totaliza 20% de pessoas que seriam vacinadas gratuitamente.

“As vacinas não nos dão apenas uma proteção individual, mas se um grande número de pessoas forem vacinadas, (poderemos atingir rapidamente a imunidade de grupo), por isso temos exortado a todos a se vacinarem de forma a garantir uma imunidade de grupo, porque mesmo estando infetado, não corremos grande risco de vida do que sem vacina”, disse.

As estatísticas indicam que para interromper a transmissão do Vírus na Guiné-Bissau, o país terá que atingir 70% da sua população.

Relativamente à idade, Cardoso explicou que a prioridade era vacinar pessoas adultas, mas dada a dinâmica da infeção, o plano foi invertido e incluíram pessoas a partir dos 18 anos de idade para cima, isto é, para as vacinas da AstraZeneca e da Sinopharm.

“E para Johnson & Johnson o país vai ter que aguardar por um pronunciamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) para ver se vão ser vacinados menores de dezoito anos”, sublinhou.

PLÁCIDO CARDOSO ALERTA QUE NÃO É RECOMENDÁVEL TOMAR DOSES DE MARCAS DIFERENTES

Cardoso advertiu que não é recomendável na Guiné Bissau a pessoa vacinar-se com doses de marcas diferentes. As pessoas podem ter preferências e escolher uma das marcas em administração no país, isto é, as duas doses de vacinas devem ser da mesma marca, porque “a OMS e os parceiros estão a estudar ainda a combinação de diferentes marcas de vacinas em termos da proteção”.

De acordo com Plácido Cardoso, o atraso verificado no processo de alargamento das vacinas está ligado a este aspeto, para não corrermos o risco de aplicar a primeira dose e verificar-se depois alguma indisponibilidade da vacina da mesma marca para a segunda dose.

“Devemos encorajar a vacinação, apesar dos seus efeitos colaterais”, defendeu e disse que as reações são mínimas ou iguais as reações das outras vacinas que também apresentam febre, dores e cansaço indicando que “para isso foi criado um grupo de gestão pós vacina” e que nos cartões “estão os contatos dos agentes para qualquer reação suspeita da vacina”.

Cardoso referiu que apesar de ainda o país não ter comprado vacinas próprias, o governo guineense tem-se engajado no suporte dos custos de vacinação, como também perspectiva comprar vacinas através da COVAX e revelou que os custos operacionais da vacinação no país são suportados com as receitas dos testes realizados aos viajantes.

Para AC, é “preocupante” o registo de muitos casos positivos nas instituições que fornecem serviços públicos, o que demonstra que “estas instituições não estão preocupadas com a prevenção”.

Neste sentido, defendeu que é necessário criar hábitos de lavagem frequente das mãos e distanciamento social.

“Devemos estar conscientes que quando estamos aglomerados aumentamos o risco de contágio”, alertou.

O AC nega estar a falhar com a estratégia de comunicação e atribuiu a responsabilidade às pessoas que desacreditam a existência da Covid-19 na Guiné-Bissau. Para Plácido Cardoso, essa atitude levou a que não se operasse as mudanças de comportamento em relação às recomendações das autoridades sanitárias.

“É preciso que a nossa juventude aceite a existência da Covid-19, apesar de a variante guineense não ser tão agressiva como nos outros países. Nos últimos tempos, tem aumentado não só os números de casos positivos semanais, como também de óbitos. O mais preocupante é que os casos semanais no sexo feminino têm estado a aumentar mais do que os do sexo masculino. E neste momento a faixa etária de 24 a 44 está ser a mais afetada”, referiu.

“Por isso, continuamos a exortar especialmente a juventude a prevenir-se, porque o vírus existe e está a matar, o melhor é vacinarmo-nos e cumprir as medidas de prevenção”, aconselhou.

O especialista em medicina internacional revelou que o AC está a estudar 40 amostras de forma a descobrir quantas variantes existem na Guiné-Bissau. Explicou que técnicos nacionais estão a trabalhar em conjunto com técnicos Gambianos e em algumas situações, as amostras são transferidas para algumas instituições estrangeiras de pesquisa, nomeadamente, da Gâmbia e do Senegal, tendo em conta a rede criada de estudos de sequência a nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Relativamente aos últimos dados publicados que dão conta da subida a cada semana de novos casos positivos, Plácido Cardoso disse estar preocupado, porque “o fenómeno poderá estar associado ao aumento da capacidade de testagem a nível nacional, tanto no processo de rastreio das pessoas nas comunidades como dos viajantes”.

Questionado se o AC está preparado para, caso disparem os números de internamentos e de necessidade de oxigénio, de enfrentar a doença, Plácido Cardoso garantiu que sim, porque “para além de Bissau (o hospital Nacional Simão Mendes), Bôr e Cumura (setor de Prabis), Bafatá e Mansoa também já dispõem, cada, de um centro de Covid-19 para tratamento e internamento dos pacientes”.

“Temos técnicos formados para lidar com os doentes de Covid-19, como também as outras doenças mais críticas. Mansoa e Bafatá têm 12 camas cada para internamento de doentes de Covid-19, Cumura 20 camas e Bissau (HNNSM) tem 37 camas”, salientou e disse que o Alto Comissariado tem neste momento equipas de resposta nas fronteiras, que fazem testagens rápidas e seguimento das exigências de comprovativos de testes à Covid-19 para a entrada e saída em todos os pontos de entrada estratégicos.

Para além dos esforços empreendidos, Cardoso admitiu que o AC tem registado tentativas de falsificação de testes porque, segundo denunciou, alguns recorrem a um laboratório e quando testam positivo à Covid-19 recorrem a outro laboratório na tentativa de falsificar os resultados. Segundo Cardoso, essas tentativas têm fracassado, porque à medida que fazem o primeiro teste são cadastrados nos bancos de dados do AC, através da leitura de código de barras.

“Temos registado várias situações nos aeroportos e já entregamos às autoridades judiciais várias pessoas para serem ouvidas”, revelou.

“Se um viajante testar positivo pode apresentar um resultado de teste apreciado após catorze dias de incubação, porque este só será validado se completar os catorze dias depois de testar positivo pela primeira vez. Mas isso deverá ser feito mediante um pedido de teste de viagem, não de controlo de positividade”, esclareceu.

Neste sentido, chamou atenção aos viajantes que, mesmo com a vacina contra Cvid-19 em dia e duas doses aplicadas, é-lhe ainda exigido um teste laboratorial para viajar, como também os cartões vão ser úteis para outras informações sobre lotes e tipos de vacina com informações detalhadas para urgências, pedindo às pessoas vacinadas na primeira campanha a trocarem os seus cartões.

Em termos de oxigênio, disse que o governo tem investido muito na aquisição de oxigênio e que a produção de oxigênio no país é insuficiente para as necessidades, por isso ainda recorrem ao Senegal para a compra.

Por: Epifânia Mendonça
Foto: E.M
Conosaba/odemocratagb

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