[ENTREVISTA semana n°11/2021] Os gémeos e produtores da famosa banda desenhada “N’Tori Palan”, que fez sucesso na década 80/90, Fernando Júlio e Manuel Júlio, afirmaram que a personagem “N’Tori Palan” está em condições de concorrer contra outras personagens de renome internacional e que fizeram grande sucesso, como por exemplo, a personagem internacional “Pato Donald” criado pelo artista norte-americano Walter Elias que é muito procurado pela produtora de desenhos animados “Walt Disney” dos Estados Unidos.
“N’Tori Palan” fez enorme sucesso entre os anos 80 a 90. A primeira edição foi publicada em 1982, tendo sido produzidas no total quatro edições. Os gémeos artistas, conhecidos como produtores de banda desenhada também são escultores e afirmam que brincam com a pintura, caricatura, cerâmica ou são “fichas triplas – fazem tudo e mais alguma coisa na arte plástica”.
Os gémeos que contam com 55 anos de idade e mais de 30 de experiência, fizeram estas afirmações durante uma entrevista concedida ao semanário O Democrata para falarem da produção da banda desenhada na Guiné-Bissau, que outrora tinha grande prestígio na sociedade. Atualmente os produtores enfrentam grandes dificuldades e lutam a cada dia para afirmar-se de novo, como também a procura do seu ganha-pão para a sobrevivência.
GÉMEOS: “O ESTADO GUINEENSE NÃO SE INTERESSA DA ARTE PLÁSTICA E DESCONHECE O SETOR”
Na entrevista “Djumbai” com os gémeos, eles defenderam a importância de uma criação da escola de arte na Guiné-Bissau, na qual os formandos poderiam enveredar para as áreas que quisessem, por exemplo, a banda desenhada, arte plástica… Acrescentaram que o setor da banda desenhada pode trazer benefícios enormes para o país, como também contribuir para o seu desenvolvimento.
Afirmaram que a personagem N’Tori Palan, da autoria dos dois, está em condições de fazer concorrência aos grandes dos desenhos animados que ganharam fama no mundo, como por exemplo, a personagem internacional “Pato Donald” criado pelo norte-americano Walter Elias muito procurado pela empresa de produção de desenhos animados “Walt Disney” dos Estados Unidos.
Os gémeos frisaram que a banda desenhada N’Tori Palan, se fosse de outros países da sub-região teria maior sucesso e apoio do Estado para fazer face às personagens como As Aventuras de Tintin, produzidas por Hergé e outras criações internacionais.
Os irmãos Fernando e Manuel Júlio, lamentaram a falta de incentivos e de valorização do trabalho da banda desenhada pelo Estado da Guiné-Bissau e realçaram que se tivessem algum apoio das autoridades ou instituições financeiras que acreditassem e apostassem no seu trabalho, estariam até hoje a criar desenhos animados melhores a nível da sub-região e de vários outros países africanos que, segundo as suas explanações, alguns nem têm banda desenhada.
Sobre as estatuetas erguidas um pouco por todo lado da capital Bissau, enfatizaram que muitos estão com defeitos que podem ser percebidos até por uma pessoa sem nenhuma experiência naquela área.
Avançaram que notam-se falhas nas estruturas das estatuetas, sobretudo a de Amílcar Cabral erguida na rotunda do aeroporto Osvaldo Vieira. No seu entender, a cara daquela estatueta não tem nada parecido com a do pai da nacionalidade guineense.
No que concerne ao futuro da banda desenhada na Guiné-Bissau, os gémeos informaram que são os únicos desenhistas da banda desenhada, tendo manifestado disponibilidade para passar o “bastão” a novos talentos de arte e por isso, insistem na criação urgente de uma escola de arte, na qual cada aluno seja livre de seguir a área que quiser.
“O Estado da Guiné-Bissau demostra sempre falta do interesse pela arte, sobretudo no concernente a banda desenhada, que nunca recebeu apoio do Estado” criticaram, para de seguida dizer que já perderam a esperança de internacionalizar os projetos da banda desenhada da sua criação que apenas estão a trabalhar pela abertura de uma escola de arte na Guiné-Bissau.
“Queremos agora dar seguimento aos novos talentos para, no dia em que já não estivermos mais aqui, que haja alguém capaz de continuar os nossos projetos! Se organizarmos uma exposição dos nossos trabalhos, os governantes não aparecem ou as vezes fingem marcar presença. Na verdade quem sempre optava por participar nas exposições e que conversava conosco era o então Presidente de Transição, Henrique Pereira Rosa. Ele sim, tinha visão e apesar de existir alguns governantes que também têm visão e uma paixão para este setor, por exemplo, Carlos Gomes Júnior, Zinha Vaz, Hélder Vaz, Amine Saad, Domingos Simões Pereira entre outros”, recordou Manuel, que passou a palavra ao Fernando, para acrescentar outros nomes de figuras políticas que aparecem nas suas exposições.
Os gémeos demostraram vontade e o desejo de participar na campanha de sensibilização sobre a doença do novo Coronavírus (Covid-19), com desenhos ou cartazes de sensibilização, mas afirmaram que não receberam nenhum apoio e não obstante o projeto do livro sobre a sensibilização das populações apresentado às autoridades competentes e que nem sequer dignaram convocar-lhes para uma reunião sobre o assunto.
“Fizemos uma proposta de trabalho a custo zero e que apenas a publicação do livro é que seria da responsabilidade do governo. Apenas ouvíamos isso: Vão ali, vão aquele serviço e não, é outro serviço que se deve ocupar disso” notou Manuel Júlio, que de seguida avançou que produziram um esquema de placa que seria colocado nas regiões e não pediram nenhum franco ao governo, portanto queriam contribuir apenas no combate a doença do Coronavírus.
“A placa não foi colocada nas regiões e nem sequer sabemos agora dizer realmente, quem é que ficou com o esquema”, contou.
Questionados sobre a possibilidade de prosseguiram com os trabalhos da produção e comercialização do livro da banda desenhada, responderam que atualmente é muito difícil, porque só a produção tem um custo elevado e que receita recolhida serviria apenas para pagar os ardinas (vendedores ambulantes de jornais e revistas). Lembraram com voz trémula que receberam convite para a exposição dos seus trabalhos no estrangeiro nos anos 90 que acabou por ser cancelado, porque foi mandada uma menina no seu lugar que nem sequer conhecia o trabalho.
“Depois de algum tempo, alguém nos disse que a nossa viagem teria sido cancelada, porque disseram que não iríamos voltar ao país”, contaram.
Os gémeos mostram-se tristes pelo desprezo que sentem da parte do Estado da Guiné-Bissau, que segundo eles, não valoriza as suas obras de arte. Revelaram neste particular que tinham recebido uma proposta para trabalhar numa estação televisiva brasileira com intuito de produzir desenhos animados e recusaram a proposta, mas mostram-se arrependidos hoje e entendem que deveriam aceitar a proposta que talvez N’Tori Palan tivesse outra saída.
Por: Djamila da Silva
Foto: D.S
Conosaba/odemocratagb
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