quinta-feira, 25 de março de 2021

Ativista libertado no Senegal critica Presidente e influência estrangeira

Uma das figuras dos recentes protestos no Senegal retomou hoje, à saída da prisão, um discurso hostil contra o que diz ser uma predominância exercida pelos interesses franceses e europeus e simbolizados por grupos como a retalhista Auchan.

À comunicação social, Guy Marius Sagna entregou também uma diatribe contra o Presidente do país, Macky Sall, que acusou de estar ao serviço dos seus "mestres imperialistas", noticiou a agência France-Presse.

O líder da "Frente para uma Revolução Popular e Pan-Africana Anti-Imperialista" foi libertado na quarta-feira, depois de ter sido preso em 22 de fevereiro em ligação com o caso de Ousmane Sonko.

Sagna recordou que esta foi a terceira vez que foi alvo de um mandado de detenção em menos de três anos, sem contar com outras detenções, mais curtas.

Sagna e outros tinham sido presos por, alegadamente, estarem a preparar manifestações de apoio a Sonko.

Sonko, detido em 03 de março e, entretanto, libertado, está a ser investigado por uma alegada violação. A sua detenção desencadeou fortes tumultos numa população já exasperada com as condições resultantes da covid-19.

A libertação de Sonko, em 08 de março, e a recente libertação de outros opositores, como Sagna, na quarta-feira, são consideradas garantias de apaziguamento.

Sagna considerou que o caso de Sonko se trata de uma "conspiração" para "liquidar um candidato que teve uma campanha sobre temas anti-imperialistas, pan-africanos, de emancipação e libertação para o Senegal e África".

Num monólogo de 100 minutos, Sagna disse que "a luta continua" e criticou o Presidente, considerando que este dirige um Estado "neocolonial" e "vilão", assim como instituições do país, uma justiça "manipulada" por uma "burguesia parasitária e burocrática" e uma classe política "esgotada", referiu a agência noticiosa.

Guy Marius Sagna e os opositores Clédor Sène e Assane Diouf foram libertados num momento em que várias figuras políticas e religiosas trabalham para aliviar as tensões registadas no início de março -- as piores neste país conhecido como um oásis de estabilidade na África Ocidental.

O Senegal foi palco, no início do mês, de confrontos entre jovens e forças de segurança, havendo também registo de pilhagens e saques depois da detenção do Sonko, terceiro classificado nas eleições presidenciais de 2019 e esperado candidato às de 2024.

À rua saíram também muitas pessoas revoltadas com o aumento do desemprego e com a deterioração da economia nacional, numa quebra impulsionada pela pandemia de covid-19 e consequentes restrições.

Alguns manifestantes, citados pela organização Human Rights Watch após os tumultos, disseram estar também frustrados com a falta de progresso nas reformas democráticas, vendo a detenção de Sonko como uma forma de eliminar a oposição política -- à semelhança do que aconteceu com os opositores Karim Wade e Khalifa Sall.

As tensões aliviaram-se no dia 09, depois de as autoridades terem libertado Sonko na véspera e de um discurso do Presidente do país, Macky Sall, em que este pediu um "apaziguamento".

De acordo com o presidente da empresa de retalho francesa Auchan, Edgard Bonte, 14 supermercados da empresa foram "atacados" na capital senegalesa, Dacar, durante os tumultos.

Sagna defendeu o seu movimento das acusações de estar por detrás de ataques que visaram a cadeia de retalho francesa.

Sagna, Séne e Diouf foram acusados de "organizar um movimento de insurreição, incitando à prática de crimes e delitos e associação criminosa".
Conosaba/Lusa 

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