Em longa entrevista ao jornal Capital News e à Rádio Capital FM, o líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, falou da sua relação pessoal com o Procurador Geral da República, Fernando Gomes, e diz o porquê de este o “odeiar”.
O dirigente político falou do mandado de captura internacional, do PAIGC, das críticas que foi alvo por parte do dirigente do partido, António Óscar Barbosa (Cancan) e diz que não reconhece Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República.
Na sua longa explanação, Simões Pereira explicou o seu envolvimento no regresso de Fernando Gomes, a Bissau, depois de se ter exilado em Portugal, na sequência do golpe de Estado de 2012, que derrubou o regime no qual o agora PGR era ministro do Interior.
Mais adiante, Domingos Simões Pereira revelou uma recusa sua parte, que segundo disse, faz com que até agora é mal visto por Fernando Gomes. Mas antes, o líder do PAIGC teve tempo para explicar como tudo terá acontecido.
“Antes de o (atual) Procurador Geral da República, enquanto cidadão guineense, voltar a Guiné-Bissau, contactou-me, enquanto primeiro-ministro na altura. Eu disse-lhe, você tem a consciência da forma como saiu da Guiné-Bissau. Então dê-me tempo para verificar se não há nada que possa complicar o seu regresso”, começou por explicar, Domingos Simões Pereira, sobre uma situação que seria o início do fim da sua relação com Fernando Gomes.
“(Na altura) Pedi avaliação à ministra da Defesa Nacional, Cadí Seide, e ao ministro da Administração Interna, Botche Candé, sobre as condições de segurança, para o regresso de Fernando Gomes. Disseram que não havia problemas e que se voltasse, tinha só que tomar alguns cuidados. Ele regressou ao país, e foi recebido, a meu pedido ao ministro do Interior, por dois elementos das forças de segurança, no Aeroporto (Internacional Osvaldo Vieira). Foi guardado pelos seguranças durante 15 dias, na sua residência. Depois disso foi agradecer-me e achou que devia ser nomeado para algum posto. Disse-lhe que eu não funcionava assim. E isso foi o pecado que cometi”, revelou o líder do PAIGC, que disse, contudo, que não se arrepende de ter feito “bondade”, no passado, ao atual Procurador Geral da República.
“Se voltássemos atrás, eu faria a mesma coisa. Deus pôs os animais no mundo e cada qual tem a sua vocação. O escorpião tem a vocação de picar, e a tartaruga, de salvar quem encontra na água”, concluiu a narração sobre Fernando Gomes.
Mas em relação ao mandado de captura internacional que foi emitido contra ele pela Procuradoria-Geral da República, em dezembro de 2020, o também deputado da nação não esconde o sentimento com que ficou, depois de ter tomado conhecimento sobre o caso.
“Fiquei preocupado, triste e muito atingido. Eu estava na sub-região, num hotel, e vi a informação no ecrã de um televisor, em que passava a notícia por escrito, de que havia um mandado de captura internacional emitido contra mim. Percebi no momento que não tinha nada do sério, porque aconteceu depois eu ter anunciado que estava a preparar o meu regresso (a Bissau). Se o mandado de captura era para me trazer à Guiné, eu já tinha anunciado que viria à Guiné”, introduziu, Domingos Simões Pereira, que ainda nega as acusações que sustentavam o mandado de captura internacional.
“Entrei em contacto com o órgão de comunicação social que difundiu a notícia. Este disse-me que recebeu a informação da Procuradoria-Geral da República, de que houve desvio de fundos disponibilizados por FMI (Fundo Monetário Internacional). Eu disse-lhes não tenho tempo, estou de viagem, mas convido-os a ver os dados, vão descobrir que o governo que eu presidia foi demiti a 12 de agosto de 2015, e programa de referência com FMI foi assinado entre junho e julho, e tornou-se efetivo mais de seis meses depois de eu sair da governação. Não fazia sentido”, explicou.
Sobre outra acusação, de que estaria a pôr em causa a boa vizinhança entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri, com as suas declarações, Domingos Simões Pereira lembrou que quem a pôs em causa é o “cidadão” Umaro Sissoco Embaló, que tinha afirmado que não reconhecia a legitimidade do presidente Conacri-guineense, Alpha Condé, e que ele, Simões Pereira, só tinha feito referência a essas declarações, mostrando que não tinham que acontecer.
Nesta longa entrevista ao Capital News e à Rádio Capital FM, em nenhum momento o líder do PAIGC fez referência ao Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15) e nem ao seu líder Braima Camará, o seu “eterno” adversário. E em relação ao Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, Domingos Simões Pereira diz que não o reconhece e diz que, institucionalmente, não pretende manter nenhum encontro com Embaló, que foi o seu adversário da segunda volta das presidenciais de 2020.
“A constituição da república da Guiné-Bissau diz que quem investe o Presidente da República é o presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP). Ele é que o investiu? Os resultados eleitorais são o primeiro passo. Para se chegar à legitimidade de funções, tem que respeitar o resto e o resto não foi respeitado. Portanto, o cidadão que está a mencionar aqui (Umaro Sissoco Embaló) não tomou posse perante único órgão que tem a competência de o investir ao cargo. E na minha interpretação, institucionalmente, não existe. E se não existe, institucionalmente não podemos ter o diálogo”, afirmou.
Em relação à situação no seu partido, Domingos Simões Pereira disse ter encarado com normalidade, as críticas públicas que António Óscar Barbosa, um dos dirigentes do PAIGC lhe fez, mas não deixa de mostrar alguma surpresa pelas declarações de “Cancan” como também é conhecido, à Agência Noticiosa da Guiné (ANG).
“Encarei as críticas Com normalidade. Mas surpreenderam-me porque eu e Cancan, conhecemos-nos muito bem e partilhamos vários momentos. Nunca senti que ele sente alguma dependência de mim, ao ponto de não me poder criticar. Às vezes, não é fácil ter um percurso de zero a vinte, e desde zero até 19, 99 ter sempre uma avaliação positiva e de repente ao chegar vinte, ter uma crítica tão forte. Mas, não quero alimentar polémica à volta disso. Quero garantir que, quando as condições sanitárias forem restabelecidas, os órgãos do partido vão se reunir e tenho certeza que os órgãos vão querer ouvir as evidências e provas que o nosso camarada Cancan tem contra o presidente do partido”, disse.
Por CNEWS com Conosaba do Porto
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