[ENTREVISTA_fevereiro 2021] O diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Incanha Intumbo, aconselhou ao governo guineense a elaborar materiais didáticos para o ensino da língua portuguesa como língua estrangeira. Anunciou neste particular que a sua instituição planeia realizar em abril próximo um curso de capacitação para elaboração de materiais didáticos para o ensino da língua portuguesa. O curso destina-se essencialmente para professores de português. Segundo a sua explanação, a capacitação visa formar professores na criação de materiais didáticos para o ensino da língua portuguesa como língua estrangeira.
“Porque o problema aqui é a forma como se ensina a língua portuguesa nas escolas. É como se o português fosse a nossa língua materna, a língua que falamos no nosso dia a dia em casa desde pequeninos, quando não é. Na verdade, o português é usado em ambiente escolar, nas instituições públicas e naquela hora em que o utente precisa de um serviço público e naquela hora em que o aluno está na sala de aulas e se dirige formalmente ao professor. Mas quando sai da aula, em geralmente não fala a língua portuguesa e é assim todos os dias. Quer dizer que não pratica a língua portuguesa, a língua que aprende na escola.
O ensino do português na escola é baseado em fórmulas, na gramática, conjugação dos verbos… Mas não no contexto, na prática do discurso, da comunicação”, assinalou o linguista guineense que dirige o IILP e que recenetemente viu o seu mandato renovado no Conselho de Ministros da CPLP.
Incanha Intumbo lamentou a falta de participação ativa do país nas atividades do IILP, como também a não criação de uma Comissão Nacional que funciona, nos Estados Membros onde ela existe, como o ponto focal do Instituto e assiste a Direção Executiva na elaboração de propostas de atividades de interesse para o Estado membro em causa. Frisou que a participação da Guiné-Bissau nos projetos do IILP é muito fraca. Adiantou que “estamos na direção executiva, sim, mas não temos uma Comissão Nacional ativa neste momento. Vejo agora muita vontade de se ultrapassar esta falha. Penso que o Governo está a trabalhar para que a Guiné-Bissau tenha uma Comissão Nacional, participe e acompanhe os projetos do IILP, que são do nosso interesse”.
Relativamente ao pagamento das quotas à organização, explicou que infelizmente a Guiné-Bissau acumulou um dívida muito pesada: “estamos a dever cento e sessenta mil euros” em contribuições. Revelou que na verdade está em contato neste momento com as autoridades nacionais, porque esse assunto é importante da cúpula dos chefes de estado e de Governo da CPLP e é desejável que não fiquemos “mal na fotografia” dado que sem fundos, o IILP não pode funcionar. Não é só a Guiné-Bissau, outros estados membros também têm as suas contribuições em atraso.
Revelou na entrevista (fevereiro de 2021] que o acordo ortográfico foi ratificado pela Guiné-Bissau na era do falecido Presidente Malam Bacai Sanhá, o que falta, é a sua divulgação e implementação.
Negou que o crioulo constitua um obstáculo ao desenvolvimento do português na Guiné-Bissau. “Eu vejo a relação português/crioulo como uma relação de complementariedade, não uma relação do tipo “esta prejudica aquela”.
O Democrata (OD): O Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) é uma instituição pouco conhecida nos Estados membros da nossa organização. O que é que o instituto tem feito para o desenvolvimento da língua portuguesa, sobretudo junto dos países membros com enormes dificuldades em termos do ensino da língua portuguesa, como a Guiné-Bissau, a Guiné-Equatorial, São e Príncipe e Timor Leste?
Incanha Intumbo (IN): O Instituto Internacional de Língua Portuguesa é uma instituição da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). Tem a sua autonomia patrimonial e administrativa. Foi criado em São Luís do Maranhão com a missão de promover a divulgação e a internacionalização da língua portuguesa como veículo de acesso à cultura, educação, de informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em foros internacionais”. Esses objetivos estão elencados nos Estatutos do IILP. A tarefa de difundir e internacionalizar a língua portuguesa, enquanto instrumento de trabalho de investigação, é da responsabilidade de todos os Estados membros. De entre os seus órgãos, o Instituto tem as Comissões Nacionais que são os seus ponto focais nos Estados membros (EM), pois coadjuvam a Direção Executiva (DE) na elaboração dos seus planos de atividades. As Comissões Nacionais (CN) têm muita responsabilidade. Se não colaborarem nem propuserem ações à DE , esta pode ficar inibida de realizar atividades e ações nos Estados membros, porque são as CN que representam o IILP nos Estados membros e por conseguinte, conhecem bem as necessidades e a realidade dos respetivos Estados membros e assim, estão em melhor posição para sugerir o tipo de ação para o respetivo Estado membro.
Por exemplo, se a Guiné-Bissau tivesse uma CN, esta proporia atividades para a Guiné-Bissau e assim a DE ficaria livre para se ocupar de outras iniciativas.
OD: Senhor Diretor está a confirmar que a Guiné-Bissau, a Guiné-Equatorial, São Tome e Príncipe e Timor Leste não têm comissões nacionais?
IN: A Guiné-Bissau neste momento não tem uma CN, tanto quanto sei. Precisa tê-la. São Tomé e Príncipe tem a sua CN que foi restruturada recentemente agora e está a colaborar com a DE. A Guiné-Equatorial não tem, mas estamos a trabalhar com a Guiné Equatorial para ela possa dotar-se de uma CN.
OD: Por exemplo, no caso da Guiné-Bissau, a quem cabe a responsabilidade de criar uma CN?
IN: É responsabilidade das autoridades oficiais, o governo. Repare, a DE não pode dizer ao governo o que deve fazer. Todos os governos sabem que, no âmbito dos compromissos assumidos com a CPLP relativamente às ações de promoção e de internacionalização da língua portuguesa e relativamente ao IILP, devem criar as respetivas CN. Penso que no passado a Guiné-Bissau teve uma CN que depois se desestruturou e agora estamos a reativá-la ou a recriá-la.
OD: É urgente reativá-la ou recriar a CN da Guiné-Bissau?
IN: Absolutamente. Se a Guiné-Bissau tivesse uma CN, se calhar esta minha deslocação à Guiné não seria necessária, porque coordenar-me-ia com a CN GB para desenvolvermos as ações que pretendemos implementar nos próximos tempos. Por exemplo, se houver a necessidade de realizarmos uma ação, específica na Guiné-Bissau, como neste caso concreto, um curso de capacitação, eu não precisaria estar aqui, seria uma das tarefas da coordenação ou dos membros da CN.
OD: O que vai acontecer em abril deste ano na Guiné-Bissau?
IN: No Plano de Atividades 2021 do Instituto, a DE previu a realização de um curso de capacitação para a criação de roteiros didáticos da língua portuguesa para vinte e cinco professores de português na Guiné-Bissau. Porque a criação de manuais didáticos para o ensino do português? Vai dizer-me que a Guiné-Bissau já tem materiais didáticos!
A nossa visão, as metodologias do ensino da língua portuguesa não só na Guiné-Bissau, como também noutros países africanos da CPLP e nos países com estatuto de Observador Associado “multilingues” como é o caso da Guiné-Bissau, as metodologias não parecem ser as mais adequadas. Vejamos bem no caso da Guiné, nós estudamos o português da primeira ao décimo segundo ano de escolaridade, não conseguimos ter boa proficiência em língua portuguesa. Porque é que isso acontece? Vamos ver os mesmo alunos que estudam o português durante os doze anos de escolaridade e continuam a ter dificuldades em língua portuguesa, são os mesmos que vão à China e em um ano, falam o mandarim com boa correção, são os mesmos que estudam na Guiné, mas vão à Rússia, à Espanha, a Portugal, ao Senegal… Em menos um ano já têm boa proficiência em russo, em espanhol, em português e em francês.
A nossa presunção é que tem a ver coma metodologia do ensino da língua portuguesa.
O curso de capacitação que a DE pretende executar em abril visa capacitar 25 professores nas técnicas de elaboração de manuais didáticos para o ensino da língua portuguesa como língua não materna, uma situação muito semelhante ao nosso caso. O problema aqui é a forma como se ensina a língua portuguesa nas escolas. É como se o português fosse a nossa língua materna, a língua que falamos no nosso dia a dia em casa desde pequeninos, mas não é.
Na verdade, no nosso país, o português é usado em ambiente escolar, nas instituições públicas quando o utente precisa de um serviço público e quando o aluno está na sala ou se dirige ao professor. Mal sai da sala de aulas troca a língua portuguesa pelo crioulo. Quer dizer não praticamos a língua portuguesa, não é proporcionado ao aluno a oportunidade para praticar a língua que aprende na escola.
No ensino do português privilegiam-se metodologias mecânicas que já provaram que não funcionam. As fórmulas, a conjugação dos verbos em suma a gramática são úteis mas numa combinação de técnicas pedagógicas …
OD: Pode explicar a principal missão do IILP e os grandes projetos desenvolvidos para a promoção da língua como veículo de cultura, da educação, de informação e do acesso ao conhecimento científico?
IN: Os objetivos principais do IILP anunciados nos seus estatutos e foram aqui já referidos: a divulgação e a internacionalização da língua portuguesa, simples, curto e claro. Em relação aos grandes projetos, neste momento temos o projeto das TCTC -Termologias Científicas e Técnicas Comuns. É um projeto que a comunidade acarinha muito, porque vai contribuir para a uniformizar o jargão técnico e científico, a linguagem técnica dos nossos especialistas. Porque os nossos quando se encontram em reuniões técnicas, existe o risco de inconsintências de termologias. O projeto visa, por setores, trabalhar as termologias técnicas e científicas. Estamos a criar um banco de dados. Algumas CN estão a fazer um trabalho muito intenso, outros nem por isso. A Guiné-Bissau, por exemplo, não está a acompanhar.
A intenção agora é motivar o nosso Estado, a instituição responsável, que crie as condições para se formar uma equipa técnica que vai participar no projeto. Temos um projeto que eu acarinho muito que é PPPLE – Portal do Professor do Português da Língua Estrangeira. Estamos convictos que as metodologias que estamos a usar nos nossos Estados membros não são as adequadas e o melhor é “botarmos a mão a massa”. Com este projeto, nós capacitamos professores na elaboração de materiais didáticos para o ensino da língua portuguesa como língua estrangeira.
OD: O que é que o Instituto está a fazer para chegar o português a fóruns internacionais. Por exemplo, no caso da Guiné-Bissau que está numa organização sub-regional, a CEDEAO, mas onde se fala muito pouco o português?
IN: Gostaria que fosse um trabalho do Instituto, mas não é. Essas organizações são de caráter político e econômica. O IILP tem mais uma vocação cultural, com o foco em língua portuguesa. Gostaríamos muito que os governos dos Estados membros fossem os embaixadores da nossa língua nos espaços onde se encontram inseridos, nomeadamente: a CEDEAO, a UEMOA ou o SADC, lá mais para sul da África.
Estava a falar dos projetos, temos VON – Vocabulário Ortográfico Nacional, que vai servir como base do VOC – Vocabulário Ortográfico Comum.
É um fato que a língua portuguesa se enriquece pelo contato com as línguas nacionais dos Estados membros da CPLP. O projeto do VON visa valorizar essas contribuições lexicais das línguas de natureza morfológica, sintática e fonológica diferente. Os VON dos Estados membros constituirão a base do VOC, o vocabulário ortográfico comum. A Guiné-Bissau ainda não está a trabalhar nesse projeto como seria desejável.
Quando a base de dados ficar completa, ao falarmos com os nossos parceiros, sejam eles angolanos, moçambicanos ou portugueses, e se usarmos palavras específicas do português da Guiné-Bissau, poderão saber a sua correspondente em qualquer outra das variedades da nossa língua. Por exemplo, se falarmos em mancara, saberão que é amendoim.
Saberão que um autocarro pode ser, na variedade da Guiné-Bissau, um toca-toca, em Moçambique é machimbombo ou Chapa. Portanto, se reunirmos o nosso Vocabulário Ortográfico Nacional com os de Moçambique, Brasil e o de Portugal formamos então o VOC, uma base de dados onde poderemos encontrar correspondências, sobretudo, as lexicais. O técnico responsável do projeto em Portugal contou-me, curiosamente, que o vocabulário nacional, da Guiné-Bissau é, em termos estatísticos, maior que o léxico de todos os outros Estados membros (dos países Africanos) juntos. A ideia essencial é termos o nosso VON inserido no VOC e divulgarmos as nossas particularidades presentes na língua portuguesa.
OD: Qual tem sido o engajamento da Guiné-Bissau nesta organização, para além da DE que é rotativa?
IN: Infelizmente a participação da Guiné-Bissau nos projetos do IILP é muito fraca. Estamos na DE, sim, mas não temos uma CN ativa neste momento. Vejo agora muita vontade das autoridades para ultrapassar esta falha. Penso que o Governo está a esforçar-se para que a Guiné-Bissau crie a sua CN e que possa participar e acompanhar os projetos do IILP, que são do nosso interesse. Veja bem, se a nossa maneira de falar e nosso vocabulário estiver inserido no VOC, estaremos a dar a conhecer a nossa realidade, a nossa cultura.
OD: A Guiné-Bissau tem em falta o pagamento de quota. Qual é a situação real neste momento?
IN: Infelizmente acumulamos uma dívida muito pesada, estamos a falar de um valor que ronda os cento e sessenta mil euros.
É verdade que estou em contato neste momento com as autoridades nacionais, porque esse assunto é importante. Sem fundos, o IILP não pode funcionar. Não só Guiné-Bissau, outros Estados membros têm também quotas em dívida.
Porém, seria salutar que a Guiné-Bissau começasse a participar e a atualizar as suas contribuições. Eu acredito que durante muito tempo houve um mal entendido, porque a Guiné-Bissau é membro da CPLP, acontece que o IILP é uma instituição da CPLP com todas as suas autonomias. As quotas devidas à CPLP são outro assunto. Acredito sinceramente que possa ter havido uma confusão nisso de quotas. Penso que quando a Guiné-Bissau pagava as quotas à CPLP, as autoridades nacionais poderão ter julgado que estavam a pagar também as quotas ao IILP. As quotas devidas a CPLP são as quotas para a CPLP e as do IILP são para o IILP.
Isto pode ter originado alguma confusão e feito com que se acumulasse o valor que mencionei abocado . O mesmo pode ter ocorrido com outros Estados membros .
OD: Existem algumas vantagens ou projetos de que a Guiné-Bissau possa beneficiar desta organização e quais são, por exemplo?
IN: Existem vantagens sim. Vantagens económicas, culturais, vantagens em termos de acesso ao conhecimento…
A Guiné Bissau pode beneficiar e participar em todos os projetos do Instituto… O curso para os professores do português é um curso que vai beneficiar a Guiné-Bissau. Vão ser capacitados vinte e cinco professores. Se as equipas técnicas respetivas participarem nos projetos VON e TCTC estarão a divulgar aquilo que é da Guiné-Bissau e que está a entrar na língua portuguesa. Existem concursos que IILP lançou, o concurso de artigos científicos cujo o prazo terminou a 31 de janeiro de 2021. Aparentemente a Guiné-Bissau não tem participado. Se os técnicos nacionais tivessem proposto artigos, seria um ganho para a investigação científica guineese mas também ganhos pecuniários para os próprios. Temos as BCC – Bolsas de Cientista Convidado, na qual os técnicos guineenses podem participar e há várias outras iniciativas.
OD: Como têm evoluído os trabalhos da elaboração do VOC – Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa?
IN: Positivamente para os outros países. Como disse há bocado, a Guiné-Bissau não tem o seu VON organizado.
O VOC está a avançar porque os outros Estados membros contribuíram com os seus VON. Os técnicos trabalham o VON, apresentam-no ao respetivo governo que o valida através das suas estruturas, só depois é é que avançamos para o carregamento no portal específico, o portal do VOC. Vários VON já estão na base de dados do VOC, portanto a Guiné Bissau só tem que fazer a sua parte.
OD: O país já tem um número considerável de quadros formados em Língua Portuguesa. Os Professores que pretendem fazer o mestrado e doutoramento na área da língua como podem fazê-lo através do apoio do IILP?
IN: O Instituto não dá bolsas de formação para o mestrado ou doutoramento. O Instituto tem as BCC, para projetos específicos. Essas bolsas tem um regulamento disponível na linha e as BCC visam suprir a falta de recursos humanos, a falta de linguistas residentes na sede. Então o governo português deu uma contribuição extraordinária de cem mil euros para que o Instituto pudesse contratar cientistas que desenvolvessem projetos próprios no âmbito da língua portuguesa ou acompanhassem projetos em curso no IILP trabalhando na sede.
Mas a pandemia da Covid-19 mudou o “curso do navio”, ou melhor, como se diz em português, deu as voltas e os bolseiros que conseguimos contratar, acabam por trabalhar no país onde residem. O Instituto não dá bolsas porque esta não é sua missão.
OD: A Guiné-Bissau não ratificou o acordo ortográfico. Isso não é uma desvantagem ao nosso país em relação a outros em termos do desenvolvimento da língua a nível do ensino?
IN: A Guiné-Bissau ratificou o acordo ortográfico no consulado do falecido Presidente Malam Bacai Sanha… A Guiné-Bissau ratificou o acordo ortográfico. Falta, isso sim, a sua divulgação e implementação.
Houve um trabalho feito pela Universidade Amílcar Cabral (UAC) quando era Reitora a Drª Zaida Pereira, e houve um seminário na atual ENA – Escola Nacional da Administração. Essa parte dos trabalhos é responsabilidade das autoridades da Guiné-Bissau. Sobre isso não posso pronunciar-me. Não sei por que não foi divulgado.
As pessoas têm escrito o português conforme a convenção antiga. O acordo ortográfico vem propor nova convenção de escrita. Houve discussões e concertações feitas por técnicos dos Estados membros, chegaram a uma proposta de convenção que seria submetida aos Estados membros. Alguns ratificaram o acordo e estão a implementá-lo outros ratificaram-no, mas não estão a implementá-lo, como é o caso da Guiné, não o ratificaram.
OD: Qual tem sido a participação de linguistas guineenses nas mudanças ocorridas na língua portuguesa até ao acordo ortográfico?
IN: Nós temos técnicos muito bons em língua portuguesa. O que tem acontecido é que não tiveram oportunidades de participar. O que estamos a tentar fazer, através da CN, é que os técnicos nacionais comecem a participar nos programas do Instituto. Seria importante, por exemplo, que técnicos guineenses trabalhassem no projeto das terminologias, nos vocabulários, que concorressem às BCC e ao concurso de artigos científicos. Nós divulgaremos os trabalhos a partir da sede na Cidade e Praia.
OD: O número de estudiosos e falantes da língua portuguesa está a crescer no mundo, sobretudo alguns países da África francófona já têm a nossa língua nos seus sistemas de ensino. O que IILP tem feito para ajudar esses países?
IN: Muitos países, não só africanos, têm estatuto de Observador Associado da CPLP e enquanto observadores associados têm o dever de conceber iniciativas no âmbitro da língua portuguesa. O IILP não pode impor atividades aos Estados. Os Estados devem manifestar vontade. Também podem desenvolver ações no âmbito da promoção da língua portuguesa autonomamente. Quando somos convidados para colaborar, essa colaboração é especificada e nós avaliamos e decidimos no âmbito da nossa missão, posses e competência. Alguns abrem cursos de língua portiguesa de forma autónoma, e nunca nos solicitam assistência.
Quando a nossa participação é solicitada, nós aderimos a essas iniciativas com muita alegria e competência. É verdade que cursos de língua portuguesa foram abertos na China, Rússia, Canada… Do Canada, por exemplo, tivemos um grupo de imigrantes brasileiros que teve uma iniciativa de ensino de língua portuguesa como língua de herança e o grupo solicitou assistência do IILP. Estamos a articular com os nossos parceiros para definirmos melhor forma de apoiar.
Tal como acontece connosco, nas nossas comunidades que estão fora. Gostaria de referir particularmente à comunidade falante da língua manjaca na França. É possível encontrar uma criança francesa de origem manjaca na França que fala manjaco, mas não sabe nem o crioulo nem o português.
Na verdade muitos cursos de língua portuguesa estão a ser abertos na Nigéria, no Cotê D’Ivoir, no Senegal… Há uma ideia que já foi dita repetida vezes de que na próxima metade desse século se calhar o foco, o centro, da língua portuguesa venha a ser para a África, graças ao crescimento demográfico de Angola e Moçambique. Quer dizer que haverá muito mais falantes do português em África. Há esse entendimento e espero sinceramente que possamos tirar proveitos disso. Fora da nossa comunidade, muitos países estão a candidatar-se ao estatuto de observador da CPLP, isto é uma vantagem para nós. As trocas comerciais estão a crescer em língua portuguesa, portanto o português tem um valor económico. Fala-se em 17 por cento do PIB em Portugal e de outros negócios que estão feitos em português. A nossa língua esta crescer e isto é muito bom.
OD: Que trabalhos estão a ser feitos para a elaboração do corpus do português guineense a nível do instituto que atualmente dirige?
IN: O Instituto não está a trabalhar sobre o português específico da Guiné-Bissau. Temos uma proposta que foi aprovada e já está em execução do português específico de Moçambique “DiPoMo”, o Dicionário do Português de Moçambique. O projeto já foi financiado, portanto temos a esperança que os Estados membros terminem os seus VON’s. Neste campo, como já disse há bocado, estamos atrasados. Não há nada especifico sobre o português da Guiné-Bissau. Mas temos um trabalho de casa que devemos fazer no âmbito do nosso VON.
OD: Como é que encara o uso da língua portuguesa na Guiné-Bissau, sobretudo numa altura em que se fala de acordo ortográfico que o país não ratificou até agora?
IN: Estou com muita esperança que o Ministério da Educação acorde e comece a ver que a língua contribui talvez em oitenta por cento para o sucesso escolar. Os nossos manuais estão escritos em português daí a necessidade de a Guiné-Bissau decidir uma política linguística consistente que vá permitir que realmente as pessoas tenham uma boa metodologia do ensino da língua portuguesa que conduza a uma boa proficiência a língua portuguesa para que os nossos estudantes possam ler os manuais escolares em português e compreender o que estão a ler, comunicar-se em português e fazer com que os seus professores do português possam redigir textos em português correto e fazer trabalhos científicos em língua portuguesa. A língua portuguesa, já dito há muito tempo por Amílcar Cabral, continua a ser a nossa melhor ferramenta de acesso ao conhecimento e de divulgação dos conhecimentos e das nossas culturas. Aliás, é a principal ferramenta de acesso do guineense à cultura em língua portuguesa, à informação. Mas, sobretudo pela criação de uma política linguística nacional consistente.
OD: Diretor quais seriam os métodos mais objetivos para a Guiné-Bissau?
IN: Não tenho remédios para a questão das línguas na Guiné-Bissau. É o Estado da Guiné-Bissau quem tem que definir uma política linguística. O IILP não faz política linguística para ninguém, apenas colabora.
OD: Quem é o maior obstáculo ao uso da língua portuguesa na Guiné-Bissau?
IN: É a pergunta mais difícil que alguma vez me colocaram. Quem é o maior obstáculo? Não sei! Não é o crioulo de certeza. Há muitas versões de que crioulo prejudica o português, não é bem assim em minha opinião. Aliás, o crioulo contribui para divulgação do português. No mínimo dos mínimos, o crioulo contribui para a divulgação do léxico, das palavras da língua portuguesa.
OD: A arte pode ser um forte aliado na promoção e expansão da língua portuguesa, sobretudo, em situações como a da Guiné-Bissau. O Instituto tem promovido e incentivado a produção em língua portuguesa?
IN: Sim. O Instituto lança e divulga os concursos através das comissões nacionais nos Estados membros. O trabalho de divulgação nacional cabe às CN que podem participar e contribuir para a divulgação da língua portuguesa nos Estados membros. Também colaboramos com os escritores. Sei que vai haver um congresso de escritores este ano na Guiné em novembro, o IILP gostaria de participar. Já fomos sondados pela organização e falta a parte da formalização.
OD: Há quem acha que a oficialização do crioulo pode constituir ameaça ao ensino da Língua portuguesa na Guiné-Bissau. Qual é a sua opinião sobre isso?
IN: Acho que não é. O crioulo nunca foi e nunca será obstáculo ao ensino do português na Guiné-Bissau. Eu vejo a relação português/crioulo como uma relação de complementaridade, não uma relação do tipo esta prejudica aquela. Por que é que o português está a crescer no Senegal? Com certeza não por questões económicas nem por razões políticas, é mais porque o vocabulário do português entrou muito no Senegal e as pessoas agora desenvolveram mais interesse pelo português. No sul do Senegal fala-se um crioulo mais conservador, um crioulo de base portuguesa, isto é as palavras são etimologicamente, de origem portuguesa e isto talvez tenha despertado o interesse nas pessoas do sul do Senegal, que já têm um centro de língua portuguesa.
OD: Defende a introdução do crioulo no ensino guineense ou tem outra leitura sobre crioulo?
IN: Defendo, sim, nos primeiros estágios, talvez no ensino básico, mas isso terá que ser estudado por pessoas competentes na área da psicologia, didática e bilinguismo. Eu acho que o bilinguismo funciona.
OD: O seu mandato foi recentemente renovado, qual será a sua prioridade neste segundo mandato?
IN: Não é a minha prioridade. A minha prioridade é a do Estado da Guiné-Bissau, o mandato é da Guiné-Bissau. Eu estou apenas a representar o meu país. O que vamos fazer neste segundo mandato é trazer o IILP às pessoas, ou seja, levá-lo a todos os países ou Estados membros da CPLP e promover a nossa língua bem, fazer as pessoas conhecer o IILP. Quando levamos o IILP às pessoas, levamos a nossa língua. Temos muita riqueza escrita na nossa língua. A riqueza cultural, textos literários, conhecimento científico e de outra natureza que não sejam literários, talvez científicos. Temos muita informação escrita em português. Ao conhecerem a nossa língua, poderão ter acesso ao conhecimento escrito em nossa língua.
OD: Recebeu alguma garantia do Presidente da República de pagar a dívida da Guiné-Bissau ao IILP?
IN: Sabe… O Presidente tem muito boa vontade, quer resolver tudo de uma só vez. Mas este trabalho é do governo e acredito que este está a esforçar-se. Recentemente o país atualizou as suas contribuições na União Africana e em outros organismos da qual faz parte. Acredito que o próximo passo possa ser a CPLP e o IILP.
OD: Essa falta de pagamento torna a Guiné-Bissau pequena?
IN: O Presidente da República tem dito uma coisa que é muito importante que assino por baixo, “não há Estados pequenos”. É verdade que a falta de participação do país melindra o diretor executivo do IILP, mas isso não faz da Guiné-Bissau um país pequeno, não.
Por: Filomeno Sambú/Epifânia Mendonça
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb
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