Os cidadãos guineenses lamentam a falta de dinheiro para poder comemorar o nascimento do “Menino Jesus” e o final do ano 2020 e o ano novo, pelo que recorrem aos produtos vendidos nas ruas que consideram mais baratos. O jornal O Democrata saiu às ruas para medir o pulso aos cidadãos, mas nem tudo parece ser um mar de rosas. A maior parte dos cidadãos considera 2020 (de Janeiro a dezembro) como um ano de muitas experiências difíceis, amargas e negativas, mas também de alegria e euforia.
“Quando é festa do Natal, merecemos comemorar este dia sossegado sem que hajam quaisquer sentimentos que possam gerar ambiente de tristezas, angústia e frustração”, disse um cidadão ao jornal O Democrata, tendo acrescentado que tudo podia até ter acontecido, menos a falta de dinheiro.
O mercado com maior afluência em Bissau, “Feira de Bandim”, recebeu este ano os seus clientes ou visitantes até dia 20 de dezembro a conta gotas, fato que preocupa vendedores e clientes. Alguns afirmaram que, em comparação aos anos anteriores, o mercado já começaria a receber os visitantes a partir do dia 15. Ou seja, aquele espaço já estaria cheia de pessoas e até provocria um engarrafamento humano.
As vendedoras de peixes do centro do mercado, “da ferra di metade” abordadas pela repórter de O Democrata ameaçam transformar a estrada principal que liga o centro da cidade de Bissau ao Aeroporto Osvaldo Vieira num palco de venda, para impedir a circulação de carros, se a Câmara Municipal de Bissau (CMB) não obrigar as vendedeiras que estão na berma da Avenida Macky Sall a abandonarem o local e entrarem para o interior do mercado.
A luta era constante entre vendedores para conseguir vender seus produtos e ter o monopólio dos poucos clientes que visitam o mercado. O grande problema era o preço dos produtos da primeira necessidade. Um quilo de carne primeira de vaca chegou a custarquatro mil (4000) francos CFA e a carne segunda três mil e quinhentos (3500) francos CFA e um quilo de carne de cabra chegou atingir cinco mil (5000) francos CFA.
O “Fuca N’djai – roupas usadas”, a mais acessível, em termos de preços a nível nacional, nesta quadra festiva e no meio da falência subiu o preço, embora a oferta seja maior que a procura. O zum-zum de “riantam” ou o pedido de baixa de preço tem sido recorrente entre vendedores e clientes. Aqui e ali pequenas altercações em virtude da persistência de um ou outro cliente não parava.
A crise sanitária que afetou os sete bilhões de pessoas em todo o mundo não só causou a queda populacional como também provocou a subida de preços dos produtos alimentícios. Sem contar com a baixa de importação de produtos alimentares que vinham da Europa e de outros continentes para África, em particular a Guiné-Bissau.
Entretanto, o famoso bacalhau que sempre teve muita procura nas festas do Natal e Ano Novo está a ser fornecido pelossupermercados de forma diferente, em comparação aos anos anteriores.
MULHERES VENDEDORAS DE PEIXES AMEAÇAM INVADIR A ESTRADA PRINCIPAL DA CAPITAL
A vendedora de peixe de “fera di metade”, Fatinha Có, criticou duramente as companheiras vendedeiras que continuavam a expor seus produtos, nomeadamente: peixes, legumes e outro tipo de pescado na berma da estrada para venda antes dos dias 24 ou 25 de dezembro. Na sequência disso, ameaçam ocupar a estrada principal para vender os seus produtos, se a Câmara Municipal de Bissau não tomar as diligências necessárias.
“Se as pessoas estão a vender na berma da estrada, nós que estamos dentro do mercado não vamos poder vender os nossos produtos. Se a CMB não tomar uma providência, vamos todas invadir a estrada principal, porque não vamos ficar sem vender por causa da negligência de algumas pessoas”, afirmaram na entrevista.
Na sua comunicação, Fatinha Có acusou agentes de Câmara Municipal de Bissau que fazem cobranças no mercado de aceitarem subornos, por isso não estão a obrigá-las a abandonarem aquele espaço, porque recebem delas dois mil (2.000) francos CFA, em cada giro de limpeza, para deixá-las vender no espaço.
Perante estes fatos, Fatinha Có exortou à CMB a acabar com essas vendas, porque “dentro do mercado há espaço suficiente para todas”, alertando que além de dificultarem a passagem de carros e de pessoas “é uma fonte de lixos e de atrasos dos trabalhos da obra em curso naquela Avenida”.
A vendedeira de peixe revelou que para conseguirem peixes são obrigadas a viajar até ao Senegal, porque “não há barco que descarregue ou abasteça a carne branca” e como consequência, pagam muitas taxas pelo caminho até chegarem à Guiné-Bissau.
“Por essa razão vendemos o peixe a um preço relativamente alto para compensar os gastos, mesmo assim muitas das vezes não conseguimos tirar lucro”, lamentou. Perante o cenário, apelou o governo guineense a investir na Câmara frigorífica de Bolola para conservar o peixe. Conforme disse isso trará algum alívio e redução do custos do pescado no mercado.
“Compramos uma caixa de peixe num valor que varia entre 22 a 35 mil francos CFA; o peixe congelado, mas os preços oscilam de acordo com a qualidade do produto”, assinalou. Acrescentou que se isso acontecer, venderão o pescado a preço acessível para que todos os cidadãos tenham o poder de compra.
Fatinha Có disse que o negócio não estava a correr bem, porque nem conseguia dinheiro para liquidar as dívidas da escola do filho “quando assim eu não ouso pensar nas festas que se aproximam”.
O vendedor de carne, Bruno Braia, criticou o descontrole total de preços de bovinos praticados no matadouro, sem que haja nenhuma intervenção do governo no sentido de normalizar a situação.
“Daqui a pouco vamos ter essas cerimónias tradicionais toka tchur, as vacas vão ficar difíceis, passamos mais sacrifício do que qualquer coisa. Nós os vendedores de carne, fazemos dinheiro mais para as outras pessoas do que para nós mesmos”, explicou.
Braia disse que neste momento perderam o poder de compra a favor das pessoas que vendem roupas, seus produtos vão ser comprados ou ter maior procura nos dias 24 25, 30 e 31 de dezembro, ou melhor, nos dias de festas.
Fodé Mussa Camará, um vendedor de roupas, fez um rescaldo triste da situação e disse que o processo de venda de roupas este ano está difícil, porque os clientes apresentam um fraco poder de compra. Realçou que nos anos passados, a partir do dia 15 de dezembro os clientes já se movimentavam e a feira enchia-se de pessoas.
Fodé Mussa Camará contou ao nosso semanário que os preços de balotes de roupas também subiram, devido às festas do Natal e do Ano Novo, por isso são obrigados a vender a um preço que lhes permita ter lucros.
“Compramos esses balotes e não conseguimos vender tudo e as roupas não podem durar mais do que cinco dias, não vão ser compradas e somos obrigados a abrir novos balotes e passar os balotes anteriores às pessoas que vendem no passeio”, explicou.
Mussa Camará apelou os seus colegas vendedores de roupas para terem coragem nos seus trabalhos e não subir os preços de forma exagerada, porque “o momento é crítico e nem todas as famílias vão cobrir as suas necessidades básicas”.
FAMÍLIAS NA CORRERIA DE NATAL E NOVO ANO
A dona de casa, Daimara Nanque, revelou ao jornal O Democrata que o seu sonho era ver a sua família reunida à volta da mesa, na noite de ceia do Natal, ou poder comprar presentes para os seus filhos.
Viúva já há vários anos com cinco filhos, Daimara Nanque disse que este ano o seu sonho está longe de tornar-se realidade, porque o que tem vivido de janeiro a esta parte é bem mais crítico em relação aos anos anteriores. A viúva disse que vende no mercado de Quelélé, arredores de Bissau, mas o negócio não lhe tem corrido bem e que às vezes os seus produtos estragam-se por não ter como conservá-los.
A mulher que tem o seu “gabinete” fixado na horta de legumes, contou que apesar das dificuldades que tem enfrentado e que continua a enfrentar, conseguiu comprar duas calças jeans no “Fuca N’djai – roupas usadas” para os seus dois filhos menores, um de oito anos e outro de seis e agora está a espera de poder conseguir comprar camisolas e tênis.
“As crianças não entendem a situação que os adultos enfrentam, para eles no Natal devem sempre ter roupas novas e brinquedos para se contentarem, tenho vontade de fazer tudo isso para eles, mas não tenho como. A situação piorou ainda mais quando o meu marido faleceu”, lamentou.
A mulher humilde, que tem uma filha de 17 anos de idade que trabalha como empregada doméstica desde aos 15 anos para amparar a mãe com as contas de casa e seus irmãos mais novos, disse que só pede a Deus nesse natal saúde para os filhos do resto vai conformar-se.
“Espero poder conseguir boa comida acompanhada de sumo”, enfatizou.
Por outro lado, Sábado da Silva, servente do centro de tratamento da Noma, contou que este ano não vai comemorar o Natal com a sua família em sua casa, devido à falta de dinheiro, mas juntar-se-á a sua prima para celebrar a vinda do “Menino Jesus” na noite de Natal.
“A minha remuneração, que não chega para resolver muita coisa. Já paguei a universidade da minha filha. O natal deste ano na minha casa será em branco. Vou juntar-me à minha prima e outros familiares nesse Natal”, precisou.
Por seu turno, Gizela Lopes, funcionária da Autoridade Reguladora Nacional (ARN), que também lamentou a falência neste ano, disse ter conseguido fazer as suas compras para comemorar a ceia do natal com a sua família. Sublinhou que conseguiu fazer as comparas de forma faseada desde o passado mês de novembro.
Lopes realçou que a crise sanitária que assola o mundo fez com que não conseguiu os produtos que costumava comprar, porque os supermercados alegam não poder transportá-los para Bissau.
“Consegui pintar a sua casa e decorá-la com a árvore de Natal e luzes para iluminar a minha casa e receber a bênção de Jesus”, informou.
Entretanto, disse esperar poder festejar a festa do Natal cheia de saúde e desejou que toda a Guiné-Bissau tenha um Natal santo e um ano novo próspero. Explicou que os filhos estão ansiosos pordescobrir o que está nos presentes que estão na árvore de Natal.
Por: Djamila da Silva
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb
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