Uso e consumo de informação pela população da Guiné-Bissau e estudo sobre condições financeiras dos órgãos de comunicação social são dois temas de um estudo encomendado pelas Nações Unidas na Guiné-Bissau à Universidade Católica de Portugal e apresentado aos jornalistas na quarta-feira, dia 23, numa conferência de imprensa conduzida por Júlia Alhinho, coordenadora do Gabinete de comunicação da UNIOGBIS.
O estudo que foi feito na base de um grande inquérito realizado entre os dias 6 e 14 de novembro último onde foram obtidos 3.572 inquiridos válidos, dos quais 47 por cento foram mulheres, aponta que a maioria dos guineenses prefere ouvir a rádio.
Segundo a proposta apresentada à Universidade Católica, o estudo tem como objetivo, aferir os hábitos dos Bissau-guineenses em termos de uso dos Media e consumo de informação e avaliar as condições financeiras dos órgãos da Comunicação Social do país.
No documento divulgado a imprensa refere-se que foram realizadas entrevistas em todas as regiões do país, sendo Bafatá 12%, Biombo 10%, Bolama 1%, Cacheu 14%, Gabu 8% (com exceção de Boé), Oio 17%, Quinara 7%, SAB 24% e Tombali 8%. Um pouco mais de metade dos inquéritos foram realizados em contexto urbano e um pouco menos de metade em contexto rural. Todos os resultados obtidos foram ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários, região e habitat com base nos dados do inquérito aos Indicadores Múltiplos e do Recenseamento Geral da População e Habitação (2009).
Os resultados do inquérito destacam o crioulo como língua franca na comunicação entre os residentes no país, sendo falada por mais de 90% dos habitantes em todos os escalões etários com exceção das pessoas com 60 ou mais anos.
No conjunto do país, a rádio desempenha o papel de principal meio de comunicação. Pelo menos quatro em cada dez guineenses referem ouvir a rádio diariamente. O acesso à televisão está vedado a pelo menos 37% da população e os jornais e revistas têm pouco relevo para a maioria dos guineenses (do total da população do país cerca de 48% é analfabeta).
O estudo classifica a Rádio Sol Mansi como a estação com maior audiência. Os dados ilustram o papel das rádios comunitárias que, no seu conjunto, estão no top-3 das mais ouvidas, sendo particularmente relevantes nos escalões etários acima dos 35 anos.
No documento, refere-se que foram inquiridos apenas 30 órgãos de Comunicação Social, dos quais se regista um baixo número de trabalhadores (jornalistas, técnicos e pessoal administrativo).
O estudo aponta que em termos de finanças, os órgãos da comunicação social registam fracas receitas e nestas condições, para funcionarem, necessitam de apoios do Estado, de empresas, de organizações internacionais, ONG ou de cidadãos particulares.
A maioria dos entrevistados retrata um quadro de normalidade e/ou de crescimento/melhoria da qualidade do jornalismo no país, mas alertam para o impacto que as carências económicas têm no trabalho dos jornalistas. Entendem que a autonomia financeira dos órgãos da Comunicação Social e dos jornalistas é fundamental para garantir a liberdade e a independência dos jornalistas. Alguns inquiridos indicam certo crescimento da politização/partidarização de alguns órgãos da Comunicação Social.
Bacar Baldé
Conosaba/nô pintcha
Sem comentários:
Enviar um comentário