A recomendação feita pelas autoridades sanitárias guineenses para que a população use máscaras caseiras, para evitar a propagação do novo coronavírus, está a dividir estilistas com uns a aplaudirem a ideia e outros a afirmaram ser foco de contágio.
Tumane Baldé, um dos porta-vozes do COES (Comité Operacional de Emergência em Saúde), instituição que luta contra a pandemia do covid-19 na Guiné-Bissau, sugeriu o uso de máscaras para, por exemplo, a ida ao mercado.
"Como as máscaras estão caras, os guineenses podem utilizar as suas capacidades para criar máscaras de proteção. Aconselho a população a usar máscaras quando vão aos mercados comprar alimentos", afirmou o médico Tumané Baldé.
Aurora Almeida, criadora de moda a residir em Bissau, disse à Lusa que é totalmente contra o uso de máscaras caseiras a partir de tecido africano o que, afirma, pode ser "um desastre na Guiné-Bissau em relação à propagação do vírus".
"As pessoas vivem nas comunidades, onde não têm agua canalizada, nós aqui apanhamos água de uma fonte, onde é que se vai arranjar água para lavar essas mascaras de duas em duas horas", questionou a modista.
Aurora Almeida referiu já ter assistido a situações em que pessoas da mesma casa trocam entre si uma mascara cirúrgica para saírem à rua.
"Utilizar essas máscaras caseiras pode ser um desastre porque vai-nos dar a sensação errada de estarmos protegidos", disse Aurora Almeida, que recusou uma proposta de um promotor para confeção de máscaras caseiras.
Alfa Canté, outro conhecido estilista guineense, até compreende que o pano africano não seja o mais adequado para a confeção de máscaras caseiras, mas utilizando "um certo tipo de tecido é possível fazer máscaras com pano africano", enfatizou.
Canté disse que tomando certas precauções técnicas, nomeadamente a forragem da máscara em duas camadas é possível produzir protetores com sete centímetros de cumprimento e cinco de largura.
Atualmente fez cerca de 600 unidades de máscaras que já ofereceu a instituições estatais, às Forças Armadas, hospitais, e centros de reclusão de Mansoa e Bafatá.
Alfa Cante recebe aconselhamento de médicos sobre que tipo de panos pode usar na confeção das suas máscaras.
Saturnina da Costa, estilista guineense a residir no Brasil, mas bastante interventiva nas redes sociais à volta do uso de máscara caseira, disse à Lusa que o pano africano "tem muita tinta, que é um produto químico" que pode ser prejudicial à saúde humana, observou.
"A minha preocupação é que a nossa gente pode começar a usar máscaras sem serem higienizadas, o que pode ser um grande problema", defendeu Saturnina da Costa que também é contra a ideia de forrar o tecido.
Para Saturnina da Costa, utilizar uma máscara com pano africano, ainda mais forrado em duas camadas, é como "investir num suicídio lento". Observa que a regra manda a que sejam utilizadas, no mínimo, quatro máscaras caseiras diárias quando se sai à rua para as trocas.
A estilista guineense está atualmente a confecionar máscaras, mas, frisa, a partir de um laboratório, para oferecer aos hospitais da cidade brasileira onde vive, respeitando todas as regras de higiene.
Saturnina da Costa nota que não é fácil fazer uma máscara em casa, dentro dos padrões de higiene recomendáveis, disse.
Alfashion, Gilmar, estilista guineense residente em Londres chamou atenção sobre o facto de os panos africanos fazerem alergia a certas pessoas, mas, disse que desde que sejam tomadas as precauções com o tipo de tecido a utilizar não vê mal nenhum em confecionar máscaras caseiras com aquele material.
Adele Gomes, criadora de moda guineense formada no Brasil, dona de um ateliê em Bissau, desaconselha o uso de pano africano na confeção de máscaras caseiras, alertando sobre "o químico que é utilizado na estampagem daquele material".
"Isso pode prejudicar a saúde, porque ao inspirar e respirar o pano fica molhado", sublinhou Adele Gomes, que aconselha as autoridades sanitárias guineenses a estudarem os panos antes de sugerirem a confeção de máscaras caseiras.
Gomes frisou que existem tecidos contra indicados para o uso humano, ainda mais para utilizar como máscara, alertou.
"Nós africanos, principalmente nós guineenses, não tomamos cuidado, ainda vamos inalar mais vírus de que outra coisa", observou Adele Gomes.
A Guiné-Bissau tem 33 casos confirmados de covid-19 e dezenas de casos suspeitos.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 107 mil mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, quase 345 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
Em África, há registo de 700 mortos num universo de mais de 13 mil casos em 52 países.
Conosaba/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário