A Guiné-Bissau
é um dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que mais
fortemente está a ser fustigado pela pandemia do novo coronavírus. Até ao fecho
deste artigo, já contabilizava 52 casos confirmados. E esta pandemia está a ter
um impacto desastroso em todas as economias mundiais, situação a que a Guiné
não ficará imune.
É obvio que
para um choque global se deveria ter uma resposta tão coordenada quanto possível,
e muito mais num espaço de integração como a UEMOA. Este argumento vale não
apenas para a fase do combate à pandemia como para a fase de recuperação
económica que se lhe seguirá.
No meu último
artigo sobre o tema, tinha abordado o impacto imediato desta pandemia no tecido
económico guineense. Naturalmente, não faria sentido que ficasse por aí, sendo
obrigado a trazer ao debate um exercício de cenarização da paisagem económica no
pós COVID-19.
Pode-se
esperar, logo após a COVID-19, uma paralisia total da economia guineense, o que
levará o nosso país a aprofundar a divergência face às economias regionais. Ao
mesmo tempo, teremos um aumento extraordinário da dívida pública, a inflação
voltará ao normal porque nesta altura consta-se uma subida galopante dos preços
no mercado. Depois da pandemia, o índice de preços do consumidor (IPC) será
controlado e a inflação voltará a estabilizar. Continuaremos a ter um sistema
bancário com muita robustez financeira devido às exigências do banco central de
cumprimento dos rácios de fundos próprios. Iremos ter uma taxa de desemprego
ainda mais elevada, pouca circulação da massa monetária na economia e problemas
de tesouraria nas empresas. Isso poderá fazer com que muitas delas caiam numa
situação de insolvência se não forem tomadas medidas apropriadas. Antecipo
também uma queda acentuada das receitas fiscais porque os agentes económicos
ficarão estagnados por um longo tempo se não houver uma reação adequada.
O modelo que
as grandes economias estão a pôr em prática tem na política monetária o
principal instrumento de incentivo à economia. Esse modelo consiste nos bancos
centrais injetarem milhares de milhões de euros ou dólares nas suas economias como
forma de não deixar cair a procura, reduzindo ao mínimo a destruição de emprego
e preparando as economias para o pós-Covid 19. Ora, é nesta senda que o Banco
Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) decidiu aumentar o volume de refinanciamento
junto dos bancos comerciais no guichet marginal possibilitando que a banca guineense
continue a financiar a economia. Agora teremos que ver quais serão as medidas
compensatórias que o governo do Eng.º Nuno Nabian vai implementar para salvar
os agentes económicos (famílias, empresas e Estado) e a própria economia
nacional.
Na minha opinião,
a retoma vai necessitar de muita política orçamental e de não menos política
monetária, não obstante o país estar a ser gerido por duodécimos. O próximo
orçamento será elaborado em condições de fracas expectativas de crescimento de
longo prazo e a recessão continuará sistémica nos próximos tempos. Num quadro
de perda acumulada de condições de vida a que se vai juntar uma perda estimada
de crescimento muito superior a 5% do PIB, devido à quebra na comercialização
de castanha de caju, o maior produto de exportação do país e que vinha salvando
o nosso crescimento económico nos últimos anos. Este ano, a campanha desta
commodity será um fiasco devido ao COVID-19 e isso colocará a oferta sob enorme
pressão levando a uma quebra previsível do preço no mercado internacional.
No entanto, a
questão que se coloca é a seguinte: Pode uma pequena economia aberta, como a
nossa, integrada num espeço económico e monetário comum, fazer algo mais para
melhorar o processo de recuperação da crise?
No curto prazo,
há que pensar no relançamento da economia no momento imediatamente a seguir ao
alívio das restrições ao funcionamento dos mercados. O governo tem de alargar
os apoios a todos os sectores essenciais da atividade económica do país, nomeadamente
aos agentes económicos que operam na comercialização da castanha de caju, pelo facto
da pandemia coincidir com a campanha desta commodity e pelo peso significativo
deste sector no PIB nacional. É também preciso que o país tenha um quadro
fiscal estável e previsível para reduzir a incerteza e aumentar o investimento
externo.
No longo
prazo, as medidas essenciais são outras e não será possível escapar ao tema das
reformas estruturais que terão de ser levadas a cabo pelo Estado guineense. A
crise pós Covid-19 trará consigo um dos maiores inimigos da atividade económica,
referido acima: a incerteza. A incerteza decorre do efeito e da duração das
medidas restritivas. Há que criar uma maior certeza nos agentes económicos,
atuando com vários instrumentos da política económica.
O Estado vai
ter de ser o suporte da maior parte das despesas necessárias para minimizar os
efeitos negativos da pandemia sobre as famílias, as empresas e os
trabalhadores.
Cuidem-se da
COVID-19!
Sejamos
Prudentes!
Mestre:
Aliu Soares Cassamá
Sem comentários:
Enviar um comentário