segunda-feira, 27 de abril de 2020

PAISAGEM ECONÓMICA GUINEENSE NO PÓS COVID-19

A Guiné-Bissau é um dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que mais fortemente está a ser fustigado pela pandemia do novo coronavírus. Até ao fecho deste artigo, já contabilizava 52 casos confirmados. E esta pandemia está a ter um impacto desastroso em todas as economias mundiais, situação a que a Guiné não ficará imune.

É obvio que para um choque global se deveria ter uma resposta tão coordenada quanto possível, e muito mais num espaço de integração como a UEMOA. Este argumento vale não apenas para a fase do combate à pandemia como para a fase de recuperação económica que se lhe seguirá.

No meu último artigo sobre o tema, tinha abordado o impacto imediato desta pandemia no tecido económico guineense. Naturalmente, não faria sentido que ficasse por aí, sendo obrigado a trazer ao debate um exercício de cenarização da paisagem económica no pós COVID-19.

Pode-se esperar, logo após a COVID-19, uma paralisia total da economia guineense, o que levará o nosso país a aprofundar a divergência face às economias regionais. Ao mesmo tempo, teremos um aumento extraordinário da dívida pública, a inflação voltará ao normal porque nesta altura consta-se uma subida galopante dos preços no mercado. Depois da pandemia, o índice de preços do consumidor (IPC) será controlado e a inflação voltará a estabilizar. Continuaremos a ter um sistema bancário com muita robustez financeira devido às exigências do banco central de cumprimento dos rácios de fundos próprios. Iremos ter uma taxa de desemprego ainda mais elevada, pouca circulação da massa monetária na economia e problemas de tesouraria nas empresas. Isso poderá fazer com que muitas delas caiam numa situação de insolvência se não forem tomadas medidas apropriadas. Antecipo também uma queda acentuada das receitas fiscais porque os agentes económicos ficarão estagnados por um longo tempo se não houver uma reação adequada.

O modelo que as grandes economias estão a pôr em prática tem na política monetária o principal instrumento de incentivo à economia. Esse modelo consiste nos bancos centrais injetarem milhares de milhões de euros ou dólares nas suas economias como forma de não deixar cair a procura, reduzindo ao mínimo a destruição de emprego e preparando as economias para o pós-Covid 19. Ora, é nesta senda que o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) decidiu aumentar o volume de refinanciamento junto dos bancos comerciais no guichet marginal possibilitando que a banca guineense continue a financiar a economia. Agora teremos que ver quais serão as medidas compensatórias que o governo do Eng.º Nuno Nabian vai implementar para salvar os agentes económicos (famílias, empresas e Estado) e a própria economia nacional.
Na minha opinião, a retoma vai necessitar de muita política orçamental e de não menos política monetária, não obstante o país estar a ser gerido por duodécimos. O próximo orçamento será elaborado em condições de fracas expectativas de crescimento de longo prazo e a recessão continuará sistémica nos próximos tempos. Num quadro de perda acumulada de condições de vida a que se vai juntar uma perda estimada de crescimento muito superior a 5% do PIB, devido à quebra na comercialização de castanha de caju, o maior produto de exportação do país e que vinha salvando o nosso crescimento económico nos últimos anos. Este ano, a campanha desta commodity será um fiasco devido ao COVID-19 e isso colocará a oferta sob enorme pressão levando a uma quebra previsível do preço no mercado internacional.

No entanto, a questão que se coloca é a seguinte: Pode uma pequena economia aberta, como a nossa, integrada num espeço económico e monetário comum, fazer algo mais para melhorar o processo de recuperação da crise?

No curto prazo, há que pensar no relançamento da economia no momento imediatamente a seguir ao alívio das restrições ao funcionamento dos mercados. O governo tem de alargar os apoios a todos os sectores essenciais da atividade económica do país, nomeadamente aos agentes económicos que operam na comercialização da castanha de caju, pelo facto da pandemia coincidir com a campanha desta commodity e pelo peso significativo deste sector no PIB nacional. É também preciso que o país tenha um quadro fiscal estável e previsível para reduzir a incerteza e aumentar o investimento externo.

No longo prazo, as medidas essenciais são outras e não será possível escapar ao tema das reformas estruturais que terão de ser levadas a cabo pelo Estado guineense. A crise pós Covid-19 trará consigo um dos maiores inimigos da atividade económica, referido acima: a incerteza. A incerteza decorre do efeito e da duração das medidas restritivas. Há que criar uma maior certeza nos agentes económicos, atuando com vários instrumentos da política económica.

O Estado vai ter de ser o suporte da maior parte das despesas necessárias para minimizar os efeitos negativos da pandemia sobre as famílias, as empresas e os trabalhadores.

Cuidem-se da COVID-19!

Sejamos Prudentes!

Mestre: Aliu Soares Cassamá

Sem comentários:

Enviar um comentário