terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

COMANDANTE MANUEL SATURNINO COSTA FACE À HISTÓRIA



Comoveu a todos os que conhecem, protagonizaram e respeitam a história da heróica luta de libertação nacional, dos povos da Guinée e Cabo Verde, organizada e conduzida pelo PAIGC, sob a liderança de Amilcar Cabral, ver e ouvir o Comandante Manuel Sarturnino Costa pronunciar-se sobre as razões da sua invariável condição de militante do PAIGC e Combatente da Liberdade da Pátria, assim como do seu posicionamento no presente processo eleitoral. Naturalmente, a cada um, sua sentença pelo que viu e ouviu. A minha resume-se a relatos de dois momentos que testemunhei, relativas à postura do Comandante Saturnino face à História.

Momento 1
Em Maio de 1999, decorreu uma reunião do Bureau Politico do PAIGC, que viria a ser a ultima presidida pelo Nino Vieira. Nessa altura já não restavam duvidas a quase ninguem, sobre o desfecho do conflito politico-militar de 7 de Junho de 1998.

Após iniciar a reunião com uma breve saudação aos presentes, o Nino mandou passar uma gravação de um comicio em que o Helder Proença se pronunciou, sem contemplações, quanto ao confronto militar, que colocava a nu, a responsabilidade da direcção do PAIGC, particularmente do seu Presidente, pelo eclodir do conflito e pela sua incapacidade de lhe por termo. Quis o Helder nesse discurso separar bem as àguas entre o partido de Cabral e os erros cometidos por pessoas que o estavam a dirigir nesse periodo ( enquanto colectivo de dirigentes). Concluida a audição da gravação, o Nino toma a palavra e acusa o Saturnino de falta de solidariedade para com ele, porque este sempre se opôs ao conflito, em vez de o ajudar a resolver o problema. Para justificar a alegada falta de solidariedade, disse o Nino que “o Manuel só falava de diálogo com a Junta, porque eram camaradas; que sempre pensou que ele e o Manuel estariam sempre do mesmo lado...” Em resposta, disse o Saturnino: “ Esta guerra mal tinha começado, fui ter contigo para te dizer que se parasse com ela porque era entre camaradas; que devias convoca-los para discutirmos os problemas...” Para surpresa de todos, o Nino levanta-se claramente contrariado e diz que vai abandonar a reunião. Aí, contestamos e conseguiu-se demove-lo dessa intenção: retomou a presidência da reunião, que acabou por não durar muito tempo.

Alguns dias depois, a Junta Militar toma Bissau, cai o Nino. 

As consequências do 7 de Junho foram quase fatais para o PAIGC. Sabem quem comandou o processo de “salvação” do Partido, reestruturando-o até conseguir funcionar com dinamicas ganhadoras em eleições posteriores ao conflito? Foi o Comandante Manuel Saturnino Costa. Tive a honra e o privilégio de integrar a equipa que o acompanhou nesses momentos, que reputo dos mais delicados para a vida do país e do PAIGC.

FACE À HISTÓRIA, O COMANDANTE MANUEL SATURNINO COSTA, ESTEVE NA VIA CERTA. 

Momento 2
Como se sabe, o 7 de Junho provcou uma perigosa e acentuada clivagem no PAIGC, expressa pela constituição de dois grupos, conhecidos por “Renovadores e Governamentais”. Esse facto apontava (para muita gente interessada nisso), o início do fim do PAIGC. Para essa gente, a queda do Nino, a fuga e prisão de muitos dirigentes, associados à mal disfarçada vontade de alguns responsáveis politicos da Junta Militar, nomeadamente, de ver desaparecer o PAIGC, era composição suficiente para matar o partido, sem mexer mais dedo nenhum.

Conscientes da realidade dessa ameaça ao Partido, sob a liderança do Manuel Saturnino, na condição de Presidente interino, coadjuvado pelo Flavio Proença, na qualidade de Secretario Nacional, fomos lutando e vencendo, combate a combate, até conseguirmos preparar o partido para um congresso onde iria reconstituir os seus orgão, à luz dos seus estatutos e das leis da Republica. Nesse processo, quando os nossos adversários se deram conta de que a coorelação de forças estava progressivamente a evoluir a nosso favor, tudo se agravou à volta de cada um de nós que estávamos com o Presidente interino do PAIGC. Ele, com a saúde cada dia mais frágil e consciente da cada vez mais reduzida segurança à sua volta e a dos que o acompanhavam, nunca vacilou, motivando-nos assim com o seu exemplo.

Num episódio vivido numa reunião com o comando da Junta Militar, presidida pelo seu chefe, Ansumane Mané, na Base Aérea, o Comandante Manuel Saturnino voltou a portar-se com inteligência, coerência e sentido de via correcta da história. Nesse encontro, solicitado pelo Partido, tinha-se por intenção tratar de afastar as intrigas e mal-entendidos que estavam a grassar nas relações entre o PAIGC e a Junta, dialogando. Para nossa surpresa, desde suas primeiras palavras, sentimos que o lider da Junta estava fortemente instrumentalizado para materializar os obejctivos estratégicos dos que queriam acabar com o PAIGC. Na mais ou menos uma hora que durou a reunião, diria que 50 minutos foram preenchidos com insultos à pessoa do Manuel Saturnino, numa clara intenção de o provocar a ponto de cometer o erro de ripostar e em consequência se poder agir no sentido de o deter ou fazer algo diferente e pior, alegadamente porque ofendeu alguem. 

Hoje, confesso, eu não suportaria tamanha de ninguem. Mas, confesso, hoje, compreendo e faço a minha continência ao Comandante Manuel Saturnino, porque consentiu ser insultado para defender interesses do país e do PAIGC. Mas que interesses eram esses? Eram os seguintes: o Comandante Manuel sabia que tinha o processo preparatório do congresso em fase muito avançada, sabia que na agenda politica nacional estava inscrita a realização de eleições, sabia que sem o PAIGC o Nino e demais camaradas não teriam nenhuma força politica a os defender, enfim, sabia e sentia que o grau de responsabilidade que arcava, era mais que superior ao sacrifício que a história lhe pedia nesse momento. Quando terminou a reunião, de modo descontraido, disse ao Flávio, “ Ka no cudil, i ka el que papia. Ansumane cunsim drito. Es na passa...”

Algum tempo depois, cai o Ansumane; o PAIGC realiza o seu congresso e retoma plenamente o seu estatuto de partido Politico. 

FACE A HISTÓRIA, O COMANDANTE MANUEL SATURNINO COSTA, ESTEVE NA VIA CERTA.

Mantenhas, COMANDANTE
ED

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