O governo emitiu um despacho em que aumentou o preço da exportação da castanha de caju de 3 para 20 FCFA, num contexto extremamente dificil para o país a todos os níveis.
A Associação dos Exportadores contestou esta medida alegando que será extremamente prejudicial à nossa economia.
O governo afirma, por outro lado, que este despacho vai ajudar a industrializar o sector e a criar emprego.
O caju rende por ano à nossa economia entre 250 e 300 milhões de dólares.
Ora, no meio desta encruzilhada, o importante é saber qual é o impacto do despacho e do hipotético boicote da Associação dos Exportadores na economia guineense.
Vamos por partes:
A maioria dos pequenos produtores comercializa a sua castanha junto de intermediários que, ao apresentarem maiores volumes, trabalham por sua vez com investidores externos.
Neste tipo de comercialização, o intermediário tem uma importância significativa por se encontrar sempre próximo ao produtor, diminuindo os riscos da não comercialização.
A Associação dos Exportadores serve de elo de ligação entre compradores externos e agricultores. Os investidores externos recebem o financiamento em moeda estrangeira (EUR ou USD) via banco através dos empresários nacionais. Em suma, quer isto dizer, se não houver a presença da Associação dos Exportadores na campanha de comercialização da castanha de caju, será muito mau para a economia nacional.
IMPACTO NA ECONOMIA
Se esta decisão de boicote se consumar, provavelmente nenhum banco comercial da nossa praça terá resultados líquidos positivos porque 80% do produto líquido bancário é proveniente da campanha de comercilização da castanha de caju.
Vai reduzir as nossas reservas líquidas e a geração de receitas externas o que poderá condicionar a nossa posição externa e as nossas contas externas.
Vai condicionar a balança de pagamentos devido ao impacto sobre as receitas fiscais
O país já tinha deficits fiscais altíssimos (entre 15% a 20% do Produto Interno Bruto) com os preços de caju nos patamares mais elevadas da história, de modo que será ele o mais afectado sem dúvida alguma.
INDUSTRIALIZAÇÃO DO SECTOR
A Agência Nacional de Caju “ANCA” é o representante do governo na fileira de caju e foi fundada em 2012 com o intuito de industrializar o setor, mas, ao que parece, nada foi feito.
Para que a indústria de Caju cresça na Guiné-Bissau, é preciso que haja incentivos do Governo e que ele não desencoraje a classe empresarial já falida e desestruturada.
Investir na indústria requer esforço e incentivar quem faz pois ela cria emprego e promove o crescimento duradouro, ajudando a economia a crescer. Infelizmente, os sucessivos governos não deram a merecida atenção à industrialização do caju.
Numa das minhas recentes intervenções na rádio Capital FM, defendi que a melhor forma de superar quebras de receita provenientes das exportações de castanha de caju é através da promoção de um crescimento inclusivo e da diversificação da economia e não do aumento das taxas que podem comprometer diferentes ciclos de crescimento económico.
Se toda a produção local fosse transformada localmente antes da exportação, com certeza o ganho seria outro, traria valor acrescentado ao caju porque o preço praticado para um quilo da castanha bruta não seria o mesmo se a matéria fosse transformada, o que contribuiria para o crescimento económico e para as receitas dos produtores e transformadores, ajudando a criar empregos a nível nacional. Portanto, é urgente que a ANCA avance para a transformação local de uma forma clara e responsavél.
Gostaria de deixar algumas questões à ANCA:
Como é possível que até hoje ainda não se consiga transformar 10.000 toneladas anuais de castanha de caju na Guiné-Bissau?
Como é possível não existir uma estratégia ou programa para apoair as fábricas já existentes se queremos realmente industrializar o setor de caju?
Como é possível não existir ainda um quadro legal para se relançar e encorajar as pessoas a investirem no caju, criando emprego e multiplicando receitas?
Se as perguntas forem respondidas favoravelmente, então poderemos começar a pensar em aumentar as taxas em relação à matéria bruta e aplicar o seu proveito na industrialização do caju.
É urgente que o governo e a Associação dos Exportadores se sentem à mesma mesa e ultrapassam este impasse, a bem do país!
Não basta dizer que o caju da Guiné-Bissau é do melhor que há no mundo e que representa 90% das nossas exportações quando se vê um conjunto de erros e falhas na relação entre o governo, os agricultores e os exportadores.
Mestre Aliu Soares Cassama
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