O candidato a Presidente da República de Cabo Verde Carlos Veiga apelou no domingo à união das gerações que garantiram a independência e a democracia num pacto nacional para garantir o futuro do país.
“É um imperativo de todos, quer das gerações que fizeram a independência [1975], quer das gerações que fizeram a democracia e instituíram as liberdades constitucionais [1991], que se unam num pacto nacional em nome de Cabo Verde”, afirmou Carlos Veiga, antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), no discurso num hotel da Praia em que assumiu a derrota eleitoral e a vitória de José Maria Neves, como novo Presidente da República.
Carlos Veiga apelou a um “pacto nacional” em que todos possam “contribuir para erradicar a pobreza extrema” existente no país: “Vivemos em pleno século XXI, pleno de novas oportunidades e desafios que nos podem catapultar para um futuro mais próspero, mas não podemos deixar ninguém para trás”.
“Faço por isso votos para que a ideia de união que advoguei nesta campanha se torne uma realidade entre os nossos órgãos de soberania”, enfatizou o candidato, de 71 anos, que nesta candidatura contou com o apoio do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e da União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID).
O também antigo primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves foi hoje eleito, à primeira volta, o quinto Presidente da República de Cabo Verde, com 51,5% dos votos, de acordo com os dados do apuramento provisório.
Segundo dados atualizados às 21:00 (mais duas horas em Lisboa) pela Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) e pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Maria Neves contabilizava 93.149 votos (97% das mesas apuradas), enquanto o principal opositor, Carlos Veiga, também antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), voltou a falhar a eleição, pela terceira vez (2001 e 2006), garantindo 77.018 votos, equivalente a 42,6%.
“A vontade do povo foi ouvida e a vontade do povo foi atendida. Quero por isso apresentar as minhas felicitações a José Maria Neves pela sua eleição como Presidente da República, José Maria Neves a quem já telefonei a felicitar pessoalmente”, afirmou ainda Carlos Veiga.
“Terminadas as eleições, é agora o tempo de todos, sem exceção, unirmos esforços na promoção do bem do país e da recuperação dos rendimentos das famílias. É tempo de interiorizarmos a convicção que a nossa história não depende de um, não depende de alguns, mas sim de todos nós”, apontou.
Insistiu que o “grande desafio” que o país tem pela frente será a união das duas gerações, para garantir o futuro do arquipélago.
“Esta candidatura não venceu, mas a vontade e o dever de servir a que me propus uma vez mais nunca serão derrotados. Na vida só ganha quem vai à luta, na política nem sempre perder é uma derrota. Para mim, o simples facto de exercer a minha liberdade para defender as minhas ideias e concorrer a um cargo é em si uma vitória maior que ninguém pode negar”, acrescentou.
“Representar o nosso país foi a maior honra da minha vida”, frisou Carlos Veiga.
Atualmente professor universitário, José Maria Neves, 61 anos, Presidente eleito, contou nesta candidatura com o apoio do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que liderou e pelo qual foi primeiro-ministro cabo-verdiano de 2001 a 2016.
José Maria Neves já foi dirigente partidário — presidente do PAICV e militante há cerca de 40 anos -, deputado nacional, presidente de câmara (Santa Catarina) e ministro.
Nestas sétimas eleições presidenciais o candidato Casimiro de Pina arrecadou até ao momento (97% das mesas apuradas) 3.254 votos (1,8%), Fernando Rocha Delgado 2.509 votos (1,4%), Hélio Sanches 2.102 votos (1,2%), Gilson Alves 1.546 votos (0,9%) e Joaquim Monteiro 1.365 votos (0,8%).
Votaram (com 97% das mesas apuradas) 186.991 eleitores, que por sua vez corresponde a uma taxa de abstenção de 51,7%.
Esta foi a primeira vez que Cabo Verde registou sete candidatos a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.
Estas eleições encerram o ciclo eleitoral iniciado em 25 de outubro de 2020, com as autárquicas, que prosseguiu em 18 abril passado, com as legislativas, sempre com a aplicação de medidas de proteção sanitária, como a utilização de máscara e desinfeção obrigatória à entrada das assembleias de voto, devido à pandemia de covid-19.
Estavam inscritos para votar nos 22 círculos eleitorais do país 342.777 eleitores, enquanto os 16 círculos/países no estrangeiro contavam 56.087 eleitores recenseados, totalizando assim 398.864 cabo-verdianos em condição de votar.
A estas eleições já não concorreu Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.
Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 – 1991) por eleição indireta, seguido do também já defunto António Mascarenhas Monteiro (1991 — 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.
As anteriores presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).
Conosaba/By Impala News / Lusa
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