sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Aposta na formação de especialistas em fístula obstétrica

 

Foto/arquivo

Para erradicar as fístulas obstétricas, a Guiné-Bissau aposta, fortemente, na formação de médicos especialistas. Neste momento, dois médicos nacionais concluíram um curso de reciclagem no domínio da cirurgia obstétrica simples de fístula.

Com a capacitação destes dois especialistas o país pode, agora, dar evasão a alguns casos de complicações de fístulas obstétricas sem necessidade de se recorrer a deslocação de médicos estrangeiros.

No país decorre, anualmente, desde 2009, uma campanha nacional de prevenção e tratamento de mulheres e meninas vítimas de fístulas obstétricas.

Este ano a campanha decorreu de 6 a 17 de setembro, apoiada pelo Ministério da Saúde Pública, Ministério da Mulher, Família e Solidariedade Social, Ministério do Plano e Integração Regional e o Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA).

De salientar que através do Ministério da Saúde Pública é desenvolvido, desde 2009, um programa para a prevenção, tratamento e integração socioeconómica de mulheres com fístula, apoiado pelo UNFPA, no âmbito do a “Campanha Mundial para a Eliminação das Fístulas” da Comunidade dos Estados da África Ocidental através do Ministério da Mulher, Família e Solidariedade Social.

Na Guiné-Bissau, de 2009 a 2020, 305 mulheres foram submetidas a cirurgia reparatória, com o apoio de uma equipa de especialistas do Senegal e de Moçambique, assistidas por médicos nacionais. Neste momento, dois médicos nacionais concluíram um curso de reciclagem no domínio da cirurgia obstétrica simples de fístula. Com a capacitação destes dois especialistas o país pode, agora, dar evasão a alguns casos de complicações de fístulas obstétricas sem necessidade de se recorrer a deslocação de médicos estrangeiros.

O país continua, no entanto, a precisar de apoios externos devido a sua fraca capacidade de resposta à gestão de casos clínicos e psicossociais de fístulas obstétricas. Por isso, o país vai continuar a apostar na formação dos médicos nacionais, nesta área, a fim de garantir, no futuro, o acompanhamento e apoio às mulheres com fístulas obstétricas.

Causa da fístula

Segundo a OMS, a fístula é "a consequência isolada mais dramática de um parto negligenciado".

Com efeito, a fístula obstétrica é uma perfuração da parede vaginal que está em ligação com a bexiga ou o recto, que acontece durante o trabalho de parto obstruído (complicado) e prolongado. A Fistula Obstétrica provoca a perda contínua de urina e ou de matéria fecal com cheiro desagradável. Algumas desenvolvem lesões nervosas nos pés e nas pernas.

A fístula obstétrica é uma das complicações obstétricas ainda, frequentes, nos países em desenvolvimento como a Guiné-Bissau. A doença e suas consequências são uma questão de direitos humanos, equidade e igualdade de género, pobreza e cultura. As mulheres que vivem com a doença são, na sua maioria, jovens, analfabetas, de origem pobre e raramente usam os serviços de saúde.

As mulheres e meninas que padecem de fístula obstétrica são condenadas ao ostracismo e são desprezadas por suas famílias e comunidades. Se não forem curadas, as mulheres com fístula costumam passar o resto dos anos de suas vidas com vergonha e no isolamento, esperando a morte.

Por ser uma complicação de parto longo e difícil, além de uma morbilidade incapacitante, a fístula causa um sofrimento físico, psicológico e social indescritível às vítimas. Envergonhada o dia todo pelas manifestações da doença, a portadora de fístula obstétrica não consegue realizar, com tranquilidade, uma atividade económica ou evoluir, pacificamente, na sua comunidade.

Tratamento

A fístula obstétrica é uma doença evitável e curável. O Fundo das Nações Unidas para a População, UNFPA, é um parceiro que a nível mundial está a trabalhar para combater esta doença. Com efeito, através de programas e projetos, o UNFPA, em colaboração com os governos e a sociedade civil, está a apoiar políticas, programas e projetos para garantir que, as mulheres, nas regiões afetadas, em todo o mundo, tenham acesso a médicos, instalações médicas e equipamentos para poderem intervir quando ocorrem complicações. Também, trabalha para que aquelas que não têm acesso durante o parto possam dispor de meios para procurarem o tratamento que, geralmente, é um procedimento cirúrgico.

Infelizmente, a fístula obstétrica ainda assola as mulheres em países em desenvolvimento, nomeadamente África, Índia, Bangladesh, Afeganistão, Paquistão e Nepal. Nos países desenvolvidos este problema foi resolvido no final do século 19, quando a cesariana se tornou, amplamente, disponível. No entanto, a capacidade mundial para o tratamento das fístulas obstétricas é limitada. Apenas 6.500 podem ser absorvidas anualmente, quando se estima que haja 100.000 novos casos no mesmo período.

Riscos

As fístulas obstétricas podem ser, amplamente, evitadas adiando a idade da primeira gravidez, parando as práticas tradicionais prejudiciais, por exemplo, o fanado das mulheres e meninas e tendo acesso oportuno a cuidados obstétricos de qualidade.

A maioria das fístulas ocorre entre mulheres que vivem na pobreza, em culturas onde o status e a auto-estima de uma mulher dependem, quase inteiramente, do seu casamento e capacidade de ter filhos.

Por outro lado, a fístula obstétrica ainda existe porque os sistemas de saúde não são capazes de tornar acessível o atendimento em saúde materno de qualidade, incluindo planeamento familiar, atendimento especializado no parto, atendimento obstétrico de emergência básica e abrangente e tratamento acessível da fístula.

Aniceto Alves

Conosaba/jornalnopintcha

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