Por: mago yanick aerton
A luta de libertação nacional tinha como objectivo libertar o Guineense do jugo colonial, mas também libertar a mentalidade do Guineense de certos complexos e sentimentos da idade media.
O primeiro objectivo foi conseguido com sucesso e julgava-se que os trabalhos levados a cabo susceptíveis de preparar melhor o Guineense para conviver com o seu semblante e inserir-se normalmente na sociedade também tivessem atingido o seu objectivo, isto é, formar o homem novo com que sonhava Amílcar Cabral.
Passados 64 anos da fundação do PAIGC e 47 da independência nacional, estamos a assistir a discursos extremistas defendendo a tese de haver Guineenses de primeira e os de segunda, como se o lema da luta de liberação nacional não fosse de “ UNIDADE E LUTA”.
UNIDADE, para nos unirmos e lutar para a reconquista da dignidade confiscada pelo colonialismo português, o que foi conseguido com a proclamação unilateral nas colinas de Boé, da nossa independência, a 24 de Setembro de 1973.
LUTA, para federar as nossas energias e capacidades, independentemente de considerações de ordem racial, religiosa, da cor da pele, étnica, socioeconómica e geográfica, e lutarmos contra a ocupação colonial, objectivo que também foi conseguido.
Âmi i Guineense di quatro dona, ami i Guineense di 5 dona, etc.
Este tipo de discursos começou a ser ensaiado no hemiciclo aquando dos debates para a revisão da Constituição da República em 2000-2003, que o falecido Presidente Koumba Yala se recusou a promulgar. Nesses debates, alguns deputados que se julgavam mais Guineenses que os demais, entendiam que o candidato a Presidente da República devia ser Guineense de quatro gerações, tese que acabou por ser chumbada.
Fala-se ignorantemente do presidente-eleito, General Umao Sissoco Embalo, como sendo estrangeiro, ou seja não ter nascido na Guiné, e por conseguinte, não ser Guineense. Sinceramente, sinto nojo de alguns dos nossos soi-disant intelectuais, porque em relação ao povinho posso até compreender, porque estão sendo desinformados sistematicamente.
Mas mesmo que isso correspondesse a verdade, se o Umaro Sissoco Embalo tem a nacionalidade Guineense originaria, cresceu na Guiné, estudou na Guiné, cumpriu o serviço militar obrigatório na Guiné, onde se disponibilizou de corpo e alma para defender a pátria, qual é a lei que o podia impedir de se candidatar e, se for eleito, como na realidade aconteceu, para exercer o cargo de Presidente de todos os Guineenses?
É muita pena os mais esclarecidos e mais informados passarem todo o tempo a procurar manter os nossos conterrâneos menos preparados no obscurantismo.
Era Amílcar Cabral um Guineense de quatro gerações quando decidiu sair da sua zona de conforto para libertar os Guineenses? Quer dizer que se Amílcar Cabral estivesse de vida perderia todos os privilégios que seriam reservados, de acordo com os arautos dessa teoria de exclusão, aos Guineenses de quatro ou mais gerações?
Para esses, Amílcar Cabral nem poderia criar um partido e muito menos liderar seja o que for na Guiné, porque os pais não nasceram cá, consequentemente outsiders, sem direitos iguais aos demais Guineenses.
No mundo, os líderes que mais se destacaram a frente dos respectivos países são aqueles que podemos chamar de “site cu liti”, a saber:
Félix Houphouët Boigny, cujos pais são Ganeses que emigraram para a Côte d’Ivoire;
Abdoulaye Wade (Senegal) cuja mãe e Astou Dabo, é Guineense de Gan Dabo de Cuntuba;
Jerry Rawlins (Ghana), cujo pai é Escocês;
Eduardo dos Santos (Angola), São Tomense de descendência;
Ousain Barack Obama (EUA), de pai Queniano;
Nicolas Sarkozy (França), de pais Húngaros;
Aristides Pereira (Cabo Verde), de descendência Manjaca (Guiné);
Luís Cabral (Guiné-Bissau), de pai Cabo Verdeano e mãe Portuguesa.
Estes são os poucos de muitos exemplos que podemos trazer para calar aqueles que são politicamente míopes e que precisam aprender com os outros, para mudarem de discursos, porque esses discursos não têm eco e não vão produzir o efeito negativo que visam, isto é, dividir os Guineenses desviando a sua atenção do essencial.
O Presidente-eleito Umaro Sissoco Embalo é Guineense e os pais são Guineenses nascido na Guiné, apesar da descendência da mãe ser Maliana. O General Umaro Sissoco Embalo é da nobreza Mbalocunda e tem o exercício do poder (renansa) no sangue.
Não constitui segredo nenhum, todos os nomes com consonância muçulmana são suspeitos e os titulares são vistos como sendo estrangeiros.
Não se estranhem, mesmo que fosse o Soares Sambu ou o próprio Califa Seide, que foi apanhado nas matas de Bambadinca e levado para a luta, ou o próprio Cipriano Cassama, teriam o mesmo tratamento que o de Umaro Sissoco Embalo. Fomos todas testemunhas da forma como o falecido Presidente Malam Bacai Sanha foi tratado, quando começou a ter ambições de liderança.
O povo viu os Pereiras, Gomes, Nbanas, Djalos, que desfilaram nas presidenciais, mas mesmo assim votou no Embalo, porque tentar agora cubri mon cu céu?
Manel falanu ba cuma ica na securu cu povo vota.
Nunca se levantou essa questão em relação ao candidato derrotado que ora é Manjaco, ora é Balanta, ora é Cabo Verdeano, ora é Cassanca. Afinal, o que é queremos com este nosso país? Ou as pessoas pensam que é denegrindo a imagem do candidato vencedor que vão conseguir transformar a sua vitória em derrota? Nem pó, suma cu Tuga ta fala.
Estas manobras dilatórias não vão desviar as atenções dos Guineenses sobre o crime que este governo está a cometer sobre este povo, sobretudo na educação e saúde, e os grandes estragos no tesouro publico.
Gui guis no iabri ujos bo USE I guineense!
Deus abençoe a Guiné-Bissau!
No sta djuntu!
Sem comentários:
Enviar um comentário