sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE O MODELO DE ESTADO EXISTENTE ATUALMENTE NA GUINÉ-BISSAU, EM UMA VISÃO COMPARATIVA COM CABO-VERDE


Autor: Tugna Imbana Branco
 Guiné-Bissau e Cabo Verde são os únicos países da África Ocidental onde se fala a língua oficial portuguesa. São nações multiculturais, em decorrência da forte migração oriunda de variados Reinos africanos, presente na formação de Guiné-Bissau. A República de Cabo Verde é um arquipélago distinto administrativamente e geograficamente de Guiné-Bissau. Cabo Verde é formado por dez ilhas, subdivididas em dois grupos: o de Barlavento, no extremo norte, formado pelas ilhas de São Vicente, Santo Antão, São Nicolau, Santa Luzia, Sal e Boa Vista; E as Ilhas a Sotavento, no extremo Sul, composto por Brava, Santiago e Fogo, que cobrem uma área de 4.000 km², no Oceano Atlântico, com diferenças regionais significativas, que são resultantes da ocupação portuguesa. A República de Guiné-Bissau, país continental e insular, fica situada na Costa Ocidental da África. Faz fronteira ao norte com o Senegal, ao sul com a Guiné Conacri e ao leste com o Oceano Atlântico. Seu território abrange 36.125 km², com uma população estimada em 1.544.777 milhões de pessoas (INE, 2015). Guiné-Bissau é constituído por oito regiões sendo elas: Bolama, Bafatá, Biombo, Cacheu, Gabu, Oio, Quinara, Tombali, e trinta e seis setores e um setor autônomo de Bissau, capital Bissau, região política e administrativa do país.
A ideia da criação de um Estado binacional, mediante a unificação dos territórios de Guiné-Bissau e de Cabo Verde, sob direção do PAIGC, pode ser considerada uma estratégia interessante, apesar dos constrangimentos à sua concretização. Sempre houve, no seio do partido, a clara percepção de que o processo de unidade não seria uma tarefa fácil.
O processo de formação de unidade e ruptura que marcou a formação de Estado nação de Guiné e de Cabo-Verde tem envolvido questões de ordem política, econômica e cultural após a independência.
Para Sucuma (2013), os Estados da Guiné-Bissau e de Cabo-Verde adotaram o mesmo modelo de sistema político semi-presidencialismo, no quadro da democratização, mas de maneira diferente. O Presidente da República é diretamente votado pelo sufrágio direto universal, via eleição, e o Primeiro Ministro, indicado pelo partido, é eleito indiretamente. Saliento que a Guiné-Bissau e Cabo-verde têm único modelo de Estado, no início dos anos de 1970, até a primeira metade dos anos de 1980 e, depois desse período, com a democratização. Em quatro anos depois, em 1984, uma nova constituição foi aprovada e o país começa a se abrir em direção à democracia multipartidária no início dos anos de 1990. Os dois Estados passaram por uma série de modificações de caráter político, econômico e sociocultural.
Em Cabo-Verde, a constituição de 1980 foi revista três vezes em 1992, 1995 e 1999, definindo os princípios básicos de funcionamento do governo para enfrentar os novos desafios, tendo realizado suas primeiras eleições e instituído o sistema parlamentarista de governo democrático. A Guiné-Bissau teve suas primeiras eleições multipartidárias para o parlamento e presidência em 1994, seguida de conflitos internos.
Em Cabo-Verde, desde a luta de libertação na Guiné, existem governos municipais, que controlam os municípios do país. Contudo, percebe-se que o Estado cabo-verdiano tem alguns aspectos que se relacionam com o sistema político guineense (TEIXEIRA, 2015), marcado pelo peso de partido único PAICV e PAIGC.
A questão do posicionamento geográfico facilitou muito para  Cabo Verde. O Estado cabo-verdiano, confrontado pelas secas, preocupou-se em direcionar suas políticas para o bem-estar social de sua população, criando mecanismos de fazer projetos de frentes de combate de desemprego público.
O Estado de Cabo-Verde aposta muito na educação e na saúde, pensando na alfabetização de base forte. Isso é um dos motores principais do país, pois, é através da educação, que se pode ter pessoas mais fortes que pensam na construção estatal bem organizada. Contudo, apesar dos ganhos com a educação, a questão da justiça e das oportunidade igual para todos são desafios que se colocam ao Estado Cabo-verdiana na atualidade. 
Nesse sentido, o país enfrenta dificuldades para que consquistar a igualdade de oportunidades entre os cidadãos cabo-verdianos. A diáspora cabo-verdiana revelou-se de fundamental importância, em políticas públicas, pelo dinamismo que imprimiu a um conjunto das relações sociais, políticas e econômicas, com suas remessas, garantindo o emprego para muitos de seus filhos em Cabo-Verde. A população cabo-verdiana que vive fora do seu território tem exercido um papel muito relevante no desenvolvimento do país.
Cabo-verde é visto como um dos Estado que está a investir no capital humano do seu pais. É um Estado que assumiu o compromisso de trabalho e de desenvolvimento, porque o povo cabo-verdiano tem voz, e é um Estado que até hoje luta pelo bem-estar do seu pais e pelo fim da desigualdade. Enfim, é um Estado que obedece à voz do seu povo. Já na Guiné-Bissau, tudo parece se dar justamente ao contrário.
É nesse contexto também que identificamos, no plano político e social, os limites da democratização em Cabo-Verde como expressão do parlamento cabo-verdiano em benefício da população cabo-verdiana. É a partir dessa constatação que se propõe analisar os dois Estados, em seguida, o modelo de Estado existente atualmente na Guiné-Bissau e também em Cabo-Verde.
A articulação de identidade nacional cabo-verdiana pelo Estado se baseou nas narrativas culturais e políticas centradas na ideia da modernidade, do Estado que articula a identidade nacional cabo-verdiana. A lógica paternalista do Estado cabo-verdiano revela uma percepção do Estado, que afirma seu papel central no sentido de possibilitar, através do discurso da modernidade, uma avaliação positiva.
Trata-se, portanto, da aproximação do Estado de Cabo-Verde da antiga metrópole, desde sua origem, por uma aposta fundamental que se delineia mais claramente ao longo dos finais dos anos de 1980 e princípios de 1990, fundamental para a sobrevivência econômica e política do Estado cabo-verdiano, alargando a ideia de identidade nacional para a população cabo-verdiana, que vive fora do território nacional.
Para Teixeira (2015), é um momento politicamente novo, distinto da época do partido de Estado, onde a diversidade precisava ser controlada no quadro de procura pela identidade nacional. Após a independência, Guiné-Bissau manteve o modelo socialista de Estado, baseada na ideologia revolucionária de Amílcar Cabral, líder do PAIGC. Guiné recebia apoio dos países socialistas, tanto na formação de quadros nacionais para o desenvolvimento, como no fornecimento de bens de consumo para satisfação das necessidades de sua população.
O primeiro país europeu a reconhecer o novo Estado guineense foi a Jugoslávia, seguida de Cuba e da China, em 30 de setembro 1973. No ano seguinte, foi a vez da Antiga União Soviética, Vietnam do Norte, seguido de 75 Estados (LOPES, 1987)
No campo da educação, o PAIGC defendia, em Guiné-Bissau, um sistema de ensino baseado nos valores nacionalistas do desenvolvimento político e integral do novo homem. Apesar dos projetos de governo, a degradação da vida da população aumentou, juntamente com a miséria, devido à falta de investimentos na educação, saúde, infraestrutura, segurança e agricultura, etc. Para Teixeira (2015), o PAIGC constituía órgão de propaganda e de vigilância das massas, onde o convencimento era acompanhado de repressão, de maneira que seu desempenho se explicava pela capacidade de reunir consenso à parte da ideologia e de terror. As marcas dessas ideologias se fizeram presentes no processo de democratização.
O Estado da Guiné-Bissau apresenta algumas especificidades político-governativas, diferentes de Cabo Verde. Se analisarmos o sistema sociopolítico, é notável a intervenção de partidos políticos no poder, não aceitando a submissão ao poder político. O que deveria acontecer em um país de Estado de direito democrático. Havendo ciclos de intervenção dos partidos políticos no poder, os políticos, que disputam o poder, também criam problemas que bloqueiam o país em função de seus interesses pessoais.
Nessa fala, se colocam as dificuldades que a Guiné-Bissau enfrentou, após a independência. Durante o processo da democratização, a tradição de conflitos internos, que marcou a história de Guiné-Bissau, se fez novamente presente (em 1998, 2003, 2009, 2012, 2015 e 2016), colocando, assim, a necessidade da refundação do Estado guineense. Por exemplo: em 1998, houve a guerra civil. Em 2003, ocorreu o golpe de Estado, onde Kumba Yalá foi derrubado no lugar de Presidente da República.  Em 2009, sucedeu-se a morte de chefe de Estado maior, na qualidade de Tagme Na wai e presidente da república, que era Nino Vieira.  Em 2012, ocorreu outro golpe de Estado, onde Carlos Gomes Junior foi derrubado no lugar como Primeiro Ministro “chefe do governo”. Em 2015, aconteceu mais um golpe de Estado, onde Domingos Simões Pereira foi derrubado no lugar como Primeiro Ministro “chefe do governo”.  São muitas as causas de todos esses acontecimentos na Guiné, embora não se possa descrevê-las aqui, só isso já basta para que todo guineense se lembre de outros acontecimentos.
Na Guiné-Bissau, foram vários os golpes de Estado. Ao contrário de Cabo-Verde, na Guiné-Bissau, a percepção de Estado ficou marcada pela presença da elite militar. Questões como autoritarismo, corrupção e nepotismo, ausência de um líder forte geram sentimentos negativos em relação ao Estado e aos partidos políticos.
A formação do Estado se deu na base dos militantes do partido, o que Amílcar Cabral já discordava. Isso causou graves problemas para construção da Guiné-Bissau, pois, incialmente, o Estado se confundia com o Partido. Outro agravante é que o próprio partido era militarizado devido à necessidade da luta de libertação. E não foi desmilitarizado, após independência. O certo era desmilitarizar o Partido, separar o Partido do Estado, desde o início da formação do primeiro governo. Foi exatamente isso o projeto proposto pelo Amílcar Cabral: partido desmilitarizado, separado do Estado. Com o tempo, isso se transformou no vício. E essa consequência se vive até os dias de hoje. Atualmente, o problema da reforma na Guiné-Bissau é um dos problemas principais do Estado Guineense. Porque é necessário que os cidadãos sejam formados para que possam estar melhor capacitados com intuito de estarem à altura do desafio de desenvolvimento do país.
Portanto, os dois países entraram na democracia e realizaram suas primeiras eleições multipartidárias na década de 1990, inicialmente em Cabo-Verde, depois em Guiné-Bissau. Na atualidade, os dois países apresentam modelos de Estado-nação distintos.
Em Cabo-Verde, chama atenção o modelo de Estado colonial, mantido na sociedade, enquanto na Guiné-Bissau, o Estado ficou marcado pelo conflito interno e presença de partido palitos, mais forte do que em Cabo-Verde. Hoje em dia, o estudo sobre Cabo-Verde já é consideravelmente universitário; enquanto que na Guiné-Bissau tudo está marcado pelos conflitos internos e disputas dos partidos políticos.    
 Cabo-Verde conta com apoio de sua diáspora e no apoio de políticas públicas contra sucessivas secas. Questões como desigualdade, desemprego, acesso à educação, à saúde, ao emprego etc., são questões que se colocam nos dois países, mas de maneira diferente e mais forte em Guiné-Bissau.
Tugna Imbana Branco, Filho de Bairro Missira no mundo fora. Bacharel em ciência humana (2017); Licenciado em Sociologia (2019). Residente no Estado de Ceara, Fortaleza, Brasil. Pesquisador de seguintes temas: A problemática de ensino na Guiné-Bissau, evasão escolar na Guiné; Guiné-Bissau e Cabo Verde; a luta comum; formação de Estado-nação; modelo de Estado; partidos políticos; processo da democracia guineense.
Percurso acadêmico
            Graduação em ciência humana pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB); título Guiné-Bissau e Cabo Verde: A Luta Comum para Libertação e a Formação de Estado-Nação, em (2017). Neste ano (2019), foi um prazer imenso que defendi o meu Trabalho Conclusão de Curso em Licenciatura em Sociologia (TCC), cujo tema foi “O papel dos partidos políticos no processo da democracia guineense (1994-2018) ”.
E ex-coordenador do meio ambiente do Centro Acadêmico do Curso de Bacharelado em Humanidades (UNILAB) no período de 16 de abril de 2016 à 16 de abril 2017. Atualmente licenciado em Sociologia pela mesma Universidade (UNILAB, em 2019). De 16 de junho de 2016 à 28 de junho de 2018 participou como Vice Coordenador do Departamento de Cultura da Associação dos Estudantes Guineenses (AEGU) na UNILAB. No preciso momento coordeno os assuntos Estudantis do Centro Acadêmico do Curso de Licenciatura em Sociologia (CA) (UNILAB). Participei no Centro Acadêmico de Sociologia da UNILAB - CASU "Gestão Sociologia em Ação", no período de novembro de 2017 até março de 2019. E sou pesquisador Programa de Residência Pedagógica (PRP) da Sociologia da mesma instituição (UNILAB); este programa foi financiado pelo (CAPES) é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Brasil que atua na expansão de pesquisa, pois é um programa residência pedagógica que a atuação nas escolas do ensino médio que estou trabalhando, com a intuição de formar os profissionais da educação, texto em jornais de notícias/revistas, títulos, e Pequena reflexão sobre Guiné-Bissau: para os nossos governantes no sistema de ensino e currículos. http:/ conosaba.blogspot.com. Passando alguns dias fiz um outro trabalho com título: Chamada de atenção ao povo Guineense entendendo os partidos na disputa de poder para eleições democráticas em 10 de março de 2019. http://conosaba.blogspot.com.  E fiz curso técnico do Gestão de Negócios em Alimentos e Bebidas. Serviço Nacional de aprendizagem Comercial –CE, SENAC/CE, Brasil (2018).  Autor de um trabalho apresentado na primeira semana sociologia na (UNILAB) titulado:  Dinâmicas de Gestão na Escola Brunilo Jacó: um exercício de reflexão sociológica e mais resumos publicados em anais de congressos. VII Encontro de Iniciação Científica, 2018. BRANCO, T. I.. Guiné-Bissau e Cabo Verde: A Luta Comum para Libertação e a Formação de estado-Nação. In: IV Semana Universitária da UNILAB: Desafios da Internacionalização e da Interiorização do Ensino Superior de 25 a 27 de outubro de 2017, 2017, Redenção - CE. VI encontro de Iniciação Cientifica, 2017. Organização de eventos, congressos, exposições e feiras. BRANCO, T. I.. III Conferência Internacional dos Estudantes Guineenses de Ciências Humanas da UNILAB, com o tema: "Juventude Guineense: unidos pelo conhecimento e transformação social", realizado nos dias 12, 13 e 14 de dezembro de 2018.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOPES, Carlos. A transição histórica na Guiné-Bissau. Do movimento de libertação nacional ao Estado. Bissau: Instituto Nacional de Estado e Pesquisas (INEP), 1987.                

SUCUMA, Arnaldo. Estado e ensino superior na Guiné-Bissau 1974-2008 Arnaldo Sucuna. Ed. O autor, 2013.
TEIXEIRA, Ricardino Jacinto Dumas. Cabo Verde e Guiné-Bissau:  as relações entre a sociedade civil e o estado. Recife: Ed. do Autor, 2015.


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