Escrevi em 2018 um artigo de opinião
cujo tema era: “endividamento das famílias guineenses” tendo na altura defendido
que uma das razões do endividamento é a falta de uma cultura de poupança no
nosso país.
Poupar implica economizar, ou seja, fazer
um esforço para guardar algum dinheiro do seu rendimento pessoal no final do
mês para utilização futura, nomeadamente para cobrir necessidades ou
emergências do curto prazo.
Ao fazermos uma poupança, estamos a
colocar o nosso dinheiro em segurança e podemos facilmente utilizá-lo em caso
de necessidade futura.
As dificuldades financeiras dificultam a
poupança num país onde as instituições bancárias ainda estão longe da
população, e onde muitas vezes é preciso esticar o ordenado para se conseguir
pagar todas as despesas; poupar torna-se uma autêntica dor de cabeça…
A poupança privada na Guiné-Bissau tem
sido um problema desde os primórdios da independência até à data presente.
Não somos o pior entre os Estados
membros da UEMOA, mas também estamos ainda muito longe dos melhores.
O nível de poupança tem uma estreita
relação com o rendimento auferido pois quanto maior for o rendimento, maior é a
probabilidade de se efectuar poupança. E quanto menor for o rendimento, menor é
a probabilidade de se poupar, visto que grande parte do rendimento é canalizado
para o consumo.
Como podemos fazer poupança com uma
inflação alta, ou seja, num contexto de subida generalizada do preço dos bens e
dos serviços, ficando as famílias com um poder de compra tendencialmente menor?
Como conseguiremos fazer poupança se a
taxa de desemprego for alta?
É um desafio na Guiné-Bissau falar-se de
poupança pois o contexto actual do país influencia negativamente o estímulo para
se poupar. As taxas de remuneração das aplicações financeiras (depósitos bancários)
continuam ainda muito baixas quando comparadas com as taxas de juro dos empréstimos
(crédito bancário).
Um dos fatores para as famílias terem
poder de compra são as políticas fiscal, monetária e cambial, implementadas
pelo Estado guineense.
O salário mínimo mensal na Guiné-Bissau
é de 50.000 FCFA (equivalente a 75 Euros) o que não constitui um fator de estímulo
para a poupança pois grande parte das familias que o aufere consome-o todo e
caso não tenha uma gestão rigorosa acaba mesmo por entrar num ciclo de
endividamento para poder satisfazer as suas necessidades básicas.
A poupança constitui, sem dúvida uma peça
fulcral e de extrema relevância para as economias pois podemos apontar-lhe um
efeito real de extrema importância: Quanto maior o índice de poupança líquida
positiva numa determinada economia, maior será o nível de capital nas
instituições financeiras (bancos) disponível para o financiamento do setor
produtivo que acabará certamente por se refletir num acréscimo de produtividade
na economia.
A causa do baixo nível de poupança na
economia guineense deve-se às seguintes razões:
ü Elevado custo de
vida, visto que o país apresenta uma elevada dependência das importações;
ü Atrasos sistemáticos
no pagamento dos salários da função pública, obrigando os funcionários a
recorrer a outras fontes ou a empréstimos sendo no final obrigados a reembolsar
com juros;
ü Elevada taxa de
pobreza, sendo que 30% da população do país vive abaixo do limiar de sobrevivência.
Mesmo em período de crise, como aquele
que o país está a atravessar já lá vão quatro anos, é fundamental que exista sempre
algum nível de poupança, mesmo que em números reduzidos, já que a poupança deve
ter origem no rendimento, como demonstrou o pai da economia clássica Adam Smith,
para podermos considerá-la efetivamente como poupança.
Contudo, estamos a dar os primeiros
passos em matéria de compreensão e de gestão da poupança na Guiné-Bissau como a
Semana da Inclusão Financeira do BCEAO, tida em novembro último, demonstrou.
Temos, portanto, de intensificar os esforços políticos para uma maior
valorização desta variável macroeconómica de primordial importância, a bem da
Guiné-Bissau e a bem dos guineenses!
Mestre Aliu Soares Cassamá
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