quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Etiópia terminou construção da Grande Barragem do Renascimento

A Grande Barragem do Renascimento Etíope no Nilo Azul © Commons.wikimedia.org

Etiópia – Neste dia 9 de Setembro de 2025, o Primeiro-Ministro etíope Abiy Ahmed inaugurou oficialmente a maior barragem de África, a Grande Barragem da Renascimento (GERD). Localizada no rio Nilo Azul, esta infra-estrutura vai transformar o sector energético do país e da região. Manuel João Ramos, antropólogo português e especialista do Corno de África falou com a RFI sobre o impacto desta barragem no contexto geopolítico do país.

A Etiópia terminou a construção da Grande Barragem do Renascimento (GERD), uma das maiores barragens hidroeléctricas de África, situada no rio Nilo Azul, perto da fronteira com o Sudão. Com 145 metros de altura e quase dois quilómetros de comprimento, esta barragem pode produzir mais de 5.000 megawatts de electricidade, o que vai permitir ao país quase duplicar a sua produção de energia.

Durante a inauguração, o Primeiro-Ministro Abiy Ahmed destacou que “este projecto representa um marco histórico para a Etiópia e para a segurança energética da região, abrindo caminho para um futuro de desenvolvimento sustentável.” Além disso, a Etiópia quer vender electricidade aos países vizinhos, como o Quénia, o Sudão do Sul e Djibuti, através de redes eléctricas ligadas entre si.

No entanto, o projecto tem causado preocupaçao em alguns países vizinhos. O Egipto, que depende a 90% das águas do rio Nilo, teme que a barragem reduza o fluxo do rio, especialmente durante o enchimento do reservatório. O Sudão também está preocupado com o impacto que a barragem pode ter nas suas próprias barragens e na forma como controla as águas do rio. Manuel João Ramos, antropólogo português falou com a RFI sobre o impacto desta barragem no contexto geopolítico do país.

"Toda esta obra da barragem foi uma iniciativa etíope contra os obstáculos que o FMI, o Banco Mundial e os poderes ocidentais foram lançando. Finalmente a barragem existe, está inaugurada e vai permitir uma independência e um posicionamento mais forte da Etiópia em toda a região.

Claro que há problemas geopolíticos que decorrem da construção, nomeadamente com o Egipto e parcialmente com o Sudão, mas não me parece que a guerra declarada chegue a existir. As ameaças de ataque e destruição da barragem são, sobretudo, retóricas. O que esta barragem, sublinha é um reposicionamento geopolítico na região. A retórica de Donald Trump em relação à barragem,quando falou em 2020, da possibilidade de destruição da barragem. Tem criticado a barragem e isto cria um afastamento entre a Etiópia e os Estados Unidos, e Etiópia foi sempre um aliado forte dos Estados Unidos."

Esta megaestrutura teve como principal investidor a China, sobretudo no financiamento e na construção das infra-estruturas eléctricas associadas. O governo etíope recebeu empréstimos chineses no valor de cerca de 3 mil milhões de dólares, usados para construir linhas de transmissão e comprar equipamentos. Empresas chinesas participaram directamente nas obras. Este apoio faz parte da chamada Nova Rota da Seda, uma estratégia da China para aumentar a sua influência económica em África e noutras latitudes, ajudando a criar redes de energia e comércio.

No entanto, o professor no Instituto Universitário de Lisboa, Manuel João Ramos indicou que não se tratava de uma situação de dependência da Etiópia em relação a China, mais da integração desta nação africana num ecossistema económico mais global.

“Desde há bastantes anos que o governo chinês, tem investido fortemente nas relações com a África e em particular com a Etiópia. Grande parte da infra-estrutura rodoviária e ferroviária da Etiópia é feita com investimento, com cooperação e apoio chinês, mas não é uma relação de dependência pura. A capacidade de agenciamento do governo Etíope é conhecida e há um relacionamento com a China, como há com a Turquia, como há com a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e também com a Rússia. Portanto, uma capacidade de integração e de de coligação destas potências em relação à Etiópia é um aspecto muito importante”.

rfi.fr/pt

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