sábado, 13 de novembro de 2021

PARQUE DE CANTANHEZ BIBLIOTECA ECOLÓGICA DA NOVA GERAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU


[REPORTAGEM setembro_2021] Considerada a amazónia da África Ocidental pelo seu banco de ecossistema no continente africano, o Parque natural de Cantanhez é uma autêntica biblioteca para as gerações vindouras da Guiné-Bissau, da África e do mundo. Reúne todas as condições técnicas e científicas para o estudo de fauna e flora. Aliás, é hoje o espaço mais procurado por turistas académicos que desenvolvem a sua investigação, principalmente na área da medicina tradicional, uma vez que possui várias plantas medicinais.

Na floresta de Muna, em Cantanhez, os estudiosos da medicina tradicional descobriram, durante o inventário, Astraesculoide Barteri, uma planta medicinal pertencente à família das plantas medicinais que, de acordo com um estudo feito em Portugal, de 1996 a 1997, podem prolongar a vida de pessoas infetadas com o vírus do VIH/Sida.

O interior do Parque de Cantanhez alberga aproximadamente 20 mil habitantes distribuídos por 13 tabancas. Situado no Sul da Guiné-Bissau, na região de Tombali, o Parque Natural de Cantanhez é desde a era colonial, reconhecido pela sua importância de ser um ecossistema rico em população de fauna e flora. Infelizmente, naquele período praticava-se a caça de forma desorganizada. Após a independência, os ambientalistas estabeleceram a lei da caça no Parque. Ou seja, a caça já é praticada de acordo com a lei. Os caçadores já sabem o que devem ou não caçar.

Não obstante a sua riqueza em ecossistema, a floresta de Cantanhez ainda está longe de ser uma preocupação das autoridades da Guiné-Bissau. Pois, ainda não definiram uma política clara sobre a proteção e conservação daquilo que é considerado, em todo mundo, a amazónia da África Ocidental. Não há quase um investimento visível na floresta de Cantanhez como um verdadeiro banco, rico em ecossistema para a Guiné-Bissau, para a África Ocidental e para o mundo em geral.

Os ambientalistas lamentam aos microfones de O Democrata que o governo da Guiné-Bissau tenha vindo a assinar vários tratados e convenções sobre as florestas nacionais, mas não cumpre na prática essas convenções. Por exemplo, o país não está neste momento em condições de fazer face a qualquer catástrofe natural no Parque de Cantanhez.

Alertam que se a floresta de Cantanhez for agora atingida por um incêndio, o governo não estará em condições de dar uma resposta eficaz e haverá consequências devastadoras para o país, a África e o mundo. Para os ambientalistas da Guiné-Bissau, não basta apenas o governo ratificar, no Parlamento, as convenções sobre as áreas protegidas, mas é urgente a implementação dessas convenções no terreno para obter resultados palpáveis.

Na opinião do engenheiro agropecuário e diretor da Ação para o Desenvolvimento (AD), Abubacar Serra, “é preciso que o governo se comprometa na preservação do Parque e dê forças às Organizações Não Governamentais para que possam valorizar e conservar o Parque de Cantanhez sem mexer com o seu ecossistema”.

Ainda na visão de Abubacar Serra, não obstante a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e outras organizações ligadas à proteção da floresta financiarem projetos de proteção e da conservação estes acabam por não vingar. A maioria desaparece por falta de sustentabilidade, porquanto o governo da Guiné-Bissau deveria ajudar as referidas organizações a terem sustentabilidade financeira para poderem expandir os projetos ambientais de forma consistente em todo o território nacional.

BÚFALOS ANDAM A SOLTA A PROCURA DE ÁGUA NA FLORESTA DE CANTANHEZ
O Engenheiro Agropecuário da Ação para o Desenvolvimento lamentou à reportagem do jornal O Democrata o facto de os deputados da Nação, eleitos na zona do Parque Natural de Cantanhez, terem medo de exigir rigor à população no cumprimento das regras de conservação ambiental para não se perder a popularidade eleitoral junto dos eleitores. A população, por sua vez, pretende alargar cada vez mais a sua zona de cultivo e a sua prática de caça na floresta.

“A conservação da floresta de Cantanhez ainda é notável hoje, graças às ações que o Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas (IBAP), da Ação para Desenvolvimento (AD) e da Organização Não Governamental Ianda Guiné desenvolvem na zona. Se estas organizações não desenvolvessem as atividades no sentido de proteger o meio ambiente, as florestas deixariam de existir na Guiné-Bissau,”, explicou à nossa reportagem Abubacar Serra.

Abubacar Serra revelou que existem várias Leis sobre a floresta na Guiné-Bissau, mas infelizmente nenhuma delas é aplicada na prática nem rigorosamente respeitada. No seu entender, “há um conflito entre a segurança alimentar das comunidades que vivem no Parque com a política de conservação do meio ambiente”.

É esse conflito, na visão de Abubacar Serra, que “viola na maioria das vezes o limite dos espaços concedidos para as atividades de agricultura”.

Conciliar a segurança alimentar das comunidades com a preservação da floresta é hoje uma das maiores preocupações das autoridades e que exige a utilização do método de sensibilização da população para apostar, sobretudo em reeducar a comunidade que vive no Parque, diz Serra. Na opinião de Abubacar Serra, a regulamentação da caça nas zonas do Parque de Cantanhez não está a ser respeitada.

“Há hoje forte prática de caça nas florestas do Parque de Cantanhez. Até as espécies em extinção como os búfalos, gazelas, chimpanzés, panteras e elefantes têm sido alvo de caçadores”, salientou.

Para além de diferentes espécies da flora, o Parque Natural de Cantanhez é rico em espécies de fauna. Por exemplo, em termos de primatas, tem os chimpanzés pantragrolitos vieros e ainda chimpanzés babuínos ou papiu-Papiu (vulgo kon). Também existe dois tipos de cercopitecas: mona (vulgo santchu mona), e Cercopitecos Cerqueopes (vulgo Santchu de Tarrafe). Existem ainda em Cantanhez dois tipos de colobos: badius (vulgo fatango) e policomose (vulgo santchu fidalgo)

O Parque natural de Cantanhez possui vasta e rica diversidade biológica da flora e da fauna. Acolhe centenas de espécies diferentes de aves migratórias que procuram um espaço para repousar. Ocupa a nona posição em 200 eco regiões do mundo e a sexta posição no continente africano. A floresta de Cantanhez, de acordo com a avaliação dos botânicos, possui uma das floras mais antigas da África. Existe na flora de Cantanhez Estrombose Apostulata, uma espécie que atinge entre 50 a 60 metros de altura considerada pelos botânicos como um dos indicadores de que é uma floresta primata que existe há 500 anos sem ser explorada pelo homem. Estas espécies da flora só se encontram na amazónia, brasileira.
Sendo a Guiné-Bissau um país de grande porosidade fronteiriça, em particular na zona Sul e Leste do país, onde não existe controlo sobre os fluxos migratórios vindos dos países vizinhos, em particular os da Guiné-Conacri. A imigração descontrolada dos guineenses de Conacri constitui uma das principais ameaças à floresta de Cantanhez, porquanto a invasão ao Parque para agricultura e caça põe em causa todo o sistema de conservação florestal do parque.

Nos últimos anos, o número da população de Cantanhez aumentou consideravelmente em virtude da migração interna, de Norte para Sul do país, em particular para a zona das florestas esbarrando no corredor transfronteiriço que permite aos animais viajarem de um lado para outro da floresta de Cantanhez. O que na realidade constitui uma série de ameaças à fauna e à flora. Por outro lado, a campanha de comercialização da castanha de caju, que ganhou agora um interesse na vida da população da Guiné-Bissau, levou os populares a plantarem cajueiros nas zonas de bebedouros dos Búfalos impedindo-os de ter o acesso à água.

Hoje os Búfalos andam a deriva a procura de água na floresta de Cantanhez, causando danos devastadores na agricultura da população local. Por exemplo, na saga de procura de encontrar água para consumo, os Búfalos destruíram, por completo, uma horta da população de uma das Tabancas de Cantanhez.

“Um dia os búfalos estavam à procura de um bebedouro para poderem beber água, por sorte encontraram água que procuravam há muito tempo num dos campos de horticultura, nos arredores de uma das Tabancas”, explicou à nossa reportagem Abubacar Serra, acrescentando que “depois de beberem a água e felizes da vida estragaram toda as hortas que ali se encontravam.”

Quem visitar a zona da floresta no Sul da Guiné-Bissau pode constatar que na realidade o fenómeno de imigração descontrolada da população, por exemplo, do Norte para Sul do país, além da invasão dos imigrantes vindos da Guiné-Conacri, tem sido uma dor de cabeça para os ambientalistas que trabalham no Parque Nacional de Cantanhez. Porque, para além da intensificação da caça e da agricultura, a população imigrante recém-chegada a Cantanhez está a destruir as florestas para construir as suas habitações e plantações generalizadas de quintas de cajú.

Não obstante existir alguns inventários feitos em Cantanhez por iniciativas de organizações dos ambientalistas, é necessário e urgente a realização, de cinco em cinco anos, de um inventário a nível de todo o território nacional para saber e ter clara a noção das espécies que existem no país, as que estão em vias de extinção e as que já estão extintas, para se poder salvaguardar a floresta.
Recorde-se que o Parque Nacional da Floresta de Cantanhez está situado na aldeia de Cabucare, região de Tombali no Sul da Guiné-Bissau. Foi criado pela Organização Ação para o Desenvolvimento, em 2011. Possui uma superfície de 106.767 hectares e 23. 992 Habitantes. É considerado, por muitos ambientalistas como um dos maiores bancos de ecossistema do continente africano, onde se pode desenvolver um estudo científico sobre a flora e a fauna, sobretudo estudos sobre a medicina tradicional.

Por: António Nhaga/Djamila da Silva
Conosaba/odemocratagb

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