segunda-feira, 29 de novembro de 2021

POR QUE ACONTECE GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ-BISSAU?

 

Torna difícil falar da Guiné-Bissau na sua plenitude tendo em conta dimensão política e a complexidade, senão diversidade que envolve este pequeno país do continente africano. Perante este cenário, cabe-me apontar os respaldos histórico que possibilitem compreender o fenômeno conhecido como golpe de Estado.

Todas as sociedades coloniais africanas herdaram alguns resquícios desse processo, seja os que foram por via de negociação ou armada. No caso da Guiné-Bissau para efetivação da luta armada as pessoas foram treinadas tanto no exterior, assim como, nas zonas libertadas para manusearem as armas com intuito de defender a pátria e eliminar fisicamente o colonizador português e consequentemente o regime fascista que se vigorava. Os objetivos traços foram alcançados com a determinação e perseverança de todos os combatentes. Depois da luta armada aconteceu a seguinte situação; - o Estado não formou homens e mulheres com conhecimento, conduta social, moral e intelectual como elementos de suporte aos desafios que a vida os colocava. Por isso a política da centralidade perde o rumo após a morte do líder carismático.

Após a luta sem os preparos necessários e com uma certa imposição do bloco capitalista, a Guiné-Bissau julgou pertinente inserir na democracia como princípio que gere toda a normativa política. Mesmo nos primórdios da democracia ainda cheirava o gosto do partido único (anos ku liberta es terra). Diante da exposição acima exposta, resta nos indagar, por que acontece golpe de Estado na Guiné-Bissau em plena democracia?

A pergunta pode ser respondida com diferentes argumentos, porém navego nos seguintes pressupostos;

– O desrespeito a carta magna;

– Alteração da constituição;

– Governar pelo clientelismo e contra a vontade popular;

– Implementação do regime ditatorial (prisões arbitraria, sequestros e eliminação de adversário);

– Política de encomenda;

– Ausência de respeito entre os poderes e;

Forças armadas como suporte político (levando em consideração que grupos de uniforme “complé” foram treinados para manusearem as armas e os mesmo preparos foram disseminados nos novos corpos desse ramo, a democracia tornou-se refém dos militares que são alienados pelos discursos políticos de alteração da ordem constitucional). Não pretendo atribuir toda a responsabilidade aos militares, mas também não posso tira-los a responsabilidade.

Olhando para o momento que se vive me resta pontuar o seguinte:

– O povo não escolheu um militar, mas sim um civil para guiar o destino do país baseado nos princípios democráticos. Ora, não se faz necessário a exaltação do cargo assumido anteriormente na fileira militar, essa postura demostra a conduta da voz da supremacia que cria república do silêncio, sim ami abos i ka ninguim.

Nesse tipo de ambiente não se verifica a progressão nos domínios da saúde, educação e infraestrutura, mas sim as ameaças e desaparecimento dos cidadãos denunciantes. É necessário ter a lucidez e entender que, comandante “supremo” das forças armadas, não significa comandante em todas as instituições da república, até porque o sistema que se vigora não é o absolutismo, no semi-presidencialismo deve vigorar o princípio de respeito aos três poderes.

Acredito que, por enquanto tivermos aventureiro político com viés populista, militares sem entendimento das suas limitações, golpe de estado perfilará sempre na nossa democratização.

Diante da implementação do regime ditatorial nos olhos daqueles que enxergam o óbvio, não creio que o senhor das viagens aéreas ficará até o final do mandato. 

Nkanande Ka, mestrando em História Social na Universidade Federal do Ceará-Brasil

 

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