quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O Santo que não perde a vez

Em comunicado emitido em 10/10/2021, do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), referente a situação de um militante de Partido da Renovação Social (PRS), retirado sem culpa formada, em sua residência para as instalações do Ministério do Interior. Confesso que fiquei surpreendido positivamente, ao ler um comunicado vindo deste partido e, sensivelmente, exigindo o estrito comprimento dos direitos humanos da parte deste governo e da presidência da república da Guiné-Bissau.

Li até o fim, não acreditei que as palavras que consta neste comunicado tenham vindo deste partido, achei que era da Liga Guineense dos Direitos Humanos. Lembrei que já tinha lido o comunicado deste último no dia anterior. Reli e fui até final do referido comunicado onde consta o carimbo e a assinatura do Secretário nacional do partido. Para os que estão chegando aos 18 anos, prestes a votar nas próximas eleições podem ficar entusiasmados com o comunicado e acharem a forma democrática e cívica em exercício pleno da democracia. Nós que já atingimos a faixa dos 40 +, temos a imensa dúvida do  propósito de referido comunicado e trazemos de volta a nossa memória, todas as ocorrências do nosso passado recente da nossa macabra história como povo civilizado.

Lembro que, é este o partido que assassinou em praça pública os elementos do Comando africano nos anos setenta, é o mesmo que nos finais da década de oitenta escolheu a dedos os comandantes e ilustres figuras Balantas para torturar, sumiram com os restos mortais de alguns e, os que sobreviveram, muitos ficaram inúteis por resto das suas vidas. Também, assassinatos de anos noventa, como o surgimento de uma figura denominado “Rambo” (Amadu Mane) que infelizmente “escolheu” a sua vítima a dedo (Robálo, comandante da Força de Intervenção Rápida - FIR) e o assassinou em pleno dia. Foi também na década de noventa que por briga interna deste partido vivemos no país 11 messes de guerra civil, conhecido como a Guerra de 7 de junho de 1998.

Falar dos direitos humanos é infelizmente brincar com a nossa inteligência e a memória histórica, que, contudo, o esforço do partido para nos fazer esquecer a brutalidade com que atingiu muitas famílias Guineenses durante estes anos. Não muito distante, podemos lembrar das fustigadas perseguições e mortes no início dos anos dois mil, em que foram executados jovens do PRS numa marcha pacífica.  Podemos trazer de nossas memórias recentes casos de 2009, do advogado Pedro Infanda (acusado de “incitamento à desordem e desobediência do pessoal militar”), do cantor Domingos Brocxa, ex-primeiro-ministro Faustino Mbali (sobreviventes), Hélder Proença, Roberto Cacheu, Baciro Babo, a explosão a bomba do General Batista Tagme na Waie, a execução sumária do Iaia Dabo e o esquartejamento do presidente em exercício João Bernardo Nino Vieira. E foi o mesmo partido que durante uma marcha há 3 anos usa as suas forças de segurança para executar um militante de PRS e prender por manifestarem os seus pontos de vista perante a sociedade.

A questão que fica é a seguinte: que diabo é esse direito humano que PAIGC quer nos mostrar? Será uma nova armadilha? Ou é uma nova formação política?

O diabinho que hoje está na presidência da república é fruto real da formação deste partido. Até porque, muito dos membros de executivo que lá estão vieram e alguns ainda são membro executivo do PAIGC. O que os meus 40 anos me ensinou é que o diabo nunca pode, de alguma forma, se tornar um santo, sempre foi e será um diabo, ontem, hoje e para sempre.

Cobrar o motivo de silencio da comunidade internacional que tanto ignorou seus apelos ao longo dos anos é uma piada, e convocar a sociedade civil que o mesmo perseguiu e maltratou é inacreditável. A pobreza que o país vive hoje é resultado dos sucessivos planos do Estado mínimo (neoliberalismo), implantado e executado intencionalmente pelo partido, que levou muitos a adquirirem bens de Estado, usurpar recursos públicos de forma arbitraria e deixou o país sem a capacidade de atender as necessidades mínimas do povo. É de se pensar e muito sobre a atual posição de seriedade do partido dos libertadores. O homem pode mudar de posição ou de hábitos, como diz a lenda. - Espero que seja isso no caso dos dirigentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo verde!

Sonhar é o mínimo que podemos fazer, infelizmente somos impedidos de o fazer há muito tempo, vivemos no improviso e na luta todos os dias para podermos conseguir uma única refeição por dia, conhecida localmente como “UM TIRO”. Que Deus abençoe os que ainda incansavelmente lutam para conseguir Um tiro.

Por Marcelino Monteiro (Kony).

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