quinta-feira, 11 de março de 2021

PR guineense nega qualquer envolvimento no espancamento do jornalista Aly Silva

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, negou hoje qualquer envolvimento no espancamento do jornalista e bloguista Aly Silva e prometeu que a justiça vai procurar e castigar os autores do ato.

"Lamento o que aconteceu com o Aly, mas ele que vá ver quem o espancou", afirmou Sissoco Embaló, em declarações aos jornalistas, à margem da inauguração hoje em Bissau da sede da polícia.

Embaló disse ter dado instruções ao ministro do Interior, à Polícia Judiciária e ao procurador-geral da República no sentido de serem acionados mecanismos para apurar quem são as pessoas que andam a espancar os cidadãos guineenses, nos últimos tempos.

"Nenhum cidadão vai ser espancado daqui para a frente. As pessoas que o fizeram têm que ser apresentados à justiça", afirmou o Presidente guineense, questionando os jornalistas se acham normal que mande espancar alguém.

"Eu, o Presidente da República, acham que vou mandar espancar um cidadão?", perguntou Embaló, sublinhando que na sua casa nem bate nos filhos e que é a sua mulher quem reprime as crianças quando é caso disso.

Umaro Sissoco Embaló disse ainda que não é um fantasma para estar em vários lugares ao mesmo tempo e lembrou que no dia em que Aly Silva foi espancado encontrava-se em visita de trabalho no Egito.

"Porque haveria de mandar espancar o Aly Silva? É verdade que sabemos que ele recebe dinheiro para insultar as pessoas. Mas quem for insultado pelo Aly que o leve à polícia, ao Ministério Público, agora ninguém tem o direito de o espancar da forma como foi espancado", notou Sissoco Embaló.

O Presidente convidou as pessoas que se sentirem lesadas pelo trabalho de Aly Silva a resolverem o problema "de homem para homem", mas nunca a espancá-lo da forma como foi na terça-feira.

O líder guineense disse que, brevemente, vão ser montadas câmaras de vigilância na cidade de Bissau para reforçar a segurança dos cidadãos.

Umaro Sissoco Embaló voltou a frisar que tem alertado as forças de Defesa e Segurança para a necessidade de acabar com a violência sobre os cidadãos e ainda afirmou que Aly Silva é a última pessoa a acusá-lo de algo que não fez sem que o leve à justiça.

"Só na Guiné-Bissau é que um cidadão é espancado, ou termina o seu casamento e a culpa é endossada ao Presidente da República", observou Embaló, salientando, contudo, não ser uma pessoa violenta, mas que é "pelo `fair-play`, um `gentleman`".

O bloguista guineense Aly Silva foi sequestrado e espancado, na terça-feira, no centro de Bissau, tendo depois sido abandonado nos arredores da cidade, um caso denunciado pela Liga Guineense dos Direitos Humanos.

Fonte do Ministério do Interior guineense contactada pela Lusa disse que soube deste incidente através daquela organização de defesa dos direitos humanos.

Em entrevista quarta-feira à Lusa, Aly Silva denunciou que foi agredido a mando de "pessoas ligadas ao poder", associando-as diretamente ao Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.

As organizações da sociedade civil têm denunciado diversas violações dos direitos humanos contra ativistas, políticos, deputados e jornalistas e órgãos de comunicação social.

Um dos casos mais recentes foi o de dois ativistas políticos do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15), segunda força política do país e que integra a coligação no Governo, que denunciaram publicamente terem sido espancados alegadamente por guardas da Presidência guineense, dentro do Palácio Presidencial, um caso a que o Ministério Público guineense ainda não deu seguimento, de acordo com a Liga dos Direitos Humanos.

Conosaba/Lusa

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