domingo, 29 de novembro de 2020

Braço de ferro com sindicatos: MINISTRO FADIA ENTRE ESPADA E PAREDE

 

A guerra aberta entre o ministro das Finanças, João Mamadu Fadia e o sindicato dos funcionários do seu ministério, ganhou contornos que agora atingem toda a máquina do executivo.

Há quatro meses que o governante decidiu bloquear os salários de cerca de 700 trabalhadores, na sua maioria do Ministério das Finanças e uma parte do Ministério da Economia que recebem na famosa folha A4. No despacho, Fadia justificava-se com a adesão dos funcionários à greve com motivo de suspensão de todo pessoal com “vodemocratagbínculo precário”. 

O ato foi imediatamente atacado pelo sindicato do Ministério que agora beneficia de um apoio incondicional das centrais sindicais, nomeadamente a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) e a Confederação Geral dos Sindicatos Independentes da Guiné-Bissau (CGSI). 

No pré-aviso de greve entretanto iniciada na semana passada, as duas centrais exigiam o imediato desbloqueio dos salários desses funcionários e a consequente revogação de todos os despachos do ministro das Finanças.

Depois de quase cinco meses de braço de ferro, Fadia enfrenta agora dupla pressão. De um lado, a pressão do maior aparelho sindical do país e do outro, a da Prematura que vê com maus olhos as investidas do ministro e teme os efeitos colaterais de uma greve generalizada num contexto de debilidades em que se encontra o país.

Fonte sindical confidenciou ao O Democrata que o Primeiro-Ministro, Nuno Gomes Nabian terá ordenado ao ministro Fadia a revogação dos despachos já produzidos, mas a diretiva ainda não foi cumprida pelo ministro que, segundo o informante, está ausente do serviço.

A mesma fonte indicou ainda que a próxima reuniu do conselho de ministros deverá produzir um despacho revogatório, se até lá o ministro não agir. Perante a tal situação, o impasse entre a Primatura e o ministro será maior. Outro assunto que mina as relações entre Fadia e os sindicatos tem a ver com um despacho julgado “ilegal” que ordenou a transferência de 32 funcionários de uma só vez do Departamento de Tesouro para o serviço de Pensões. Os mesmos, conta a nossa fonte, foram substituídos por elementos externos a mando do Ministro.

“13 recém recrutados são da Nova Gráfica – uma empresa privada na qual o ministro Fadia figura como acionista –  e alguns deles são antigos funcionários do BCEAO já em reforma”, adianta a nossa fonte. “A luz do artigo 47 da Constituição e do artigo 65 do EPAP, o ministro tem nadado de ilegalidade em ilegalidade”, insistiu a fonte.

O Democrata soube que dos 4 meses de salários em atraso, o ministério das Finanças apenas pagou um (novembro) contrariamente às instruções da Primatura que advogam o pagamento dos atrasados até final de novembro. Aliás, esta é uma das condições colocadas pelas centrais ao executivo no âmbito da comissão de seguimento.

A nossa fonte revelou igualmente que existe a possibilidade de o sindicato do Ministério das Finanças realizar uma vigília para exigir a demissão do ministro cujos despachos estão a criar uma situação de desconforto e desconfiança entre funcionários, sobretudo entre os antigos e os novos recrutados.

“Assiste-se hoje a uma situação de disputa nos gabinetes. Os antigos funcionários, depois da greve, voltaram para os seus lugares e sistematicamente estão em troca de mimos com novos admitidos sem concurso público”, conta a nossa fonte.

Entretanto, o estatuto do ministro do atual  ministro das Finanças, João Aladje Mamadu Fadia é um autêntico dilema para o executivo liderado por Nuno Gomes Nabian. 

A sua influência junto das instituições financeiras regionais faz dele um eletrão importante na equipa governamental. Qualquer ruptura com o antigo diretor nacional (reformado) do BCEAO seria mais uma perigosa baixa com contornos imprevisíveis depois da demissão do ministro da Economia, Victor Mandinga. Entre vários desafios, a equação Fadia constitui maior teste para o atual governo.

Por: Armando Lona 

Conosaba/odemocratagb

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