Com o advento das Presidenciais de 24 de novembro deste ano, torna-se
premente tecer abordagens que explicam o comportamento eleitoral. Desta vez
trago um olhar do campo da geografia eleitoral para efeito de entendermos como
o território influencia na decisão dos eleitorados, haja vista a existência de uma
tendência histórica, da qual os eleitorados tendem a votar num/a candidato/a da
sua região ou dela oriunda, os casos dos resultados de muitas eleições realizadas
em Guiné-Bissau e a influência que alguns/mas candidatos/tas possuem em
determinadas regiões evidenciam esta proposição desde multipartidarismo em 1994
até atualidade.
Considerando a acuidade da geografia eleitoral para efeito de entender a
distribuição dos votos, alguns conceitos da geografia eleitoral são
indispensáveis para incremento desta análise entre quais: o de “contexto
social de vizinhança” invocado por Aleksei
Zolnerkevic (2018), que nos lembra a forma como a aproximação e convivência
social em termos geográficos (territoriais) entre um determinado grupo ou
eleitorado com um certo candidato torna os primeiros propensos a votarem neste
último. O mesmo autor propõe a “geografia das eleições”, na qual
basicamente se faz mapeamento sistemático das eleições objetivando investigação
dos padrões espaciais de votação, isto é, por meio deste mapeamento torna
explicável os condicionantes de ponto de vista espacial que geram os votos.
Outro elemento
importante é a “geografia da representação política”, introduzido por Castro
(2005 apud Zolnerkevic, 2018, p.108), que atenta para fatores espaciais
da representação política e da organização das eleições. Uma questão também
pertinente nesta temática, segundo autor, envolve o uso do processo de
territorialização do espaço como estratégia político-eleitoral dos candidatos
preconizando estabelecer a “conexão eleitoral” entre candidatos e
eleitores. Isso se dá através de monopólio social e político estabelecido num
determinado território por um candidato, e, por conseguinte, acaba agregando a
massa populacional a seu favor.
A partir deste
conceito os candidatos elaboram seus planos de intervenção territorial tendo em
vista uma análise racional a priori, que leva em consideração custo/benefício
de suas intervenções em diferentes lugares, priorizando, deste modo, zonas com potencialidade
eleitoral em grande proporção.
Taylor e Johnston (1979) apud Zolnerkevic,
2018, p.108), evocam “a influência da geografia nas eleições”, demonstrando
deste modo, o grau da influência do “contexto social” da geografia, nomeadamente
a influência do território sobre o comportamento eleitoral, isto é, o contexto
espacial a priori se encontra numa relação de influência reciproca com o
sociocultural a partir da qual interfere nas decisões do sujeito. Nesta ótica que, Pereira (2015), apresenta uma concepção de
território como espaço político, ou seja, arena na qual desenrola as disputas
para posse e controle do mesmo numa perspectiva geopolítica que pode ser
nacional e local.
Com intuito de
entender os efeitos do espaço sobre o comportamento eleitoral, o autor
considera imprescindível o papel da cartografia no que tange a compreensão da
distribuição espacial dos votos e das escolhas dos eleitorados. Em suma, o uso relacional
destes conceitos nos proporciona um entendimento geral da influência de
geografia na conduta do eleitorado.
Ou
seja, por meio de conhecimentos geográficos, principalmente o da cartografia
pode-se criar vínculos societários formando zonas de influência estratégica para
criação de uma forma de “dominação” geopolítico e geoestratégico associado ao slogan
“espaço é poder” e o “espaço vital” do Ratzel (1906), nos é imprescindível atentar
para acuidade em estabelecer o controle sobre o espaço, seja lá terrestre,
marítimo e ou aéreo, visando à manutenção ou obtenção de várias vantagens tanto
no âmbito político e na própria criação e monopólio das narrativas existenciais
e hegemônicas.
Portanto, os
conceitos ora trazidos visam nada mais que enfatizar a importância que o
conhecimento espacial (geográfico e territorial) exerce no contexto de disputas
políticas, daí que se considera necessário que os candidatos tenham um razoável
arcabouço geográfico com vista a estabelecer suas influências regionais e
provincianas, se atentando sempre para regiões ou provínciais com mais
potenciais de eleitorados e daí estabelecer “conexões eleitorais” com
eleitorados desta região.
Um
caso prático são as frenéticas corridas dos partidos políticos e seus
candidatos para um efetivo estabelecimento de conexão eleitoral com eleitorados
da região de Gabú, Bafatá e Setor autônomo de Bissau, principalmente, e a trivial
indicação de candidatos/as oriundos/as destas localidades para círculos
eleitorais destas regiões. Isso não vem do acaso, tem tudo a ver com o
potencial dos eleitores que constituem esses territórios e identificação destes
com seus candidatos a partir de questão territorial, em contraposição aos
triviais argumentos que vincula essas pretensões aos fatores eminentemente
“étnicos”.
Assim
sendo, espera-se que, sempre que se busca uma compreensão menos simplista da
decisão dos eleitorados no quesito voto, se atenta para uma visão analítica
mais holística e aprofundada, visto que, as decisões dos eleitorados no que
tange ao voto é sempre decorrente de vários fatores: socioculturais,
psicológicos, econômicos e no caso em análise, dos fatores geográficos
(territoriais).
Nha mantenhas di paz!
Por: Nando Paulo Suma
Bacharel em Humanidades e Licenciando em Ciências Sociais na UNILAB
São
Francisco do Conde, Bahia, Brasil. 22/11/2019
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Acesso em 10.09.2019
RIBEIRO, Guilherme. Geografias
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ZOLNERKEVIC,
Aleksei: A influência da geografia no comportamento eleitoral: contexto
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63, n. 2, p. 108-119, jul./dez. 2018
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