Conosaba: Quem é Joacine Katar Moreira?
JKM - Nasci na Guiné-Bissau e com oito anos de idade vim para Portugal. Aqui permaneço desde então, tendo-me licenciado em História e feito um doutoramento em Estudos Africanos, cuja tese será publicada em breve em livro sobre a cultura di matchundadi e a sua relação com a instabilidade política. Em Portugal, assim como a maioria das famílias imigrantes, a vida foi sempre muito desafiante, mas a barreira maior a vencer era a da formação superior quando se é de uma família com poucos recursos, quando se tem onze irmãos mais novos para ajudar a criar e onde os trabalhos dos pais não conseguiam mais do que garantir a nossa sobrevivência. Mas com determinação e muito sacrifício, fui trabalhando ao mesmo tempo que estudava e consegui. Como muitas mulheres guineenses, sou mãe de uma menina de três anos que me enche de orgulho, sou divorciada e em situação de monoparentalidade. Hoje, é com muito orgulho que me vejo como candidata em primeiro lugar na lista do LIVRE pelo círculo de Lisboa nas eleições legislativas do próximo 6 de Outubro e a primeira mulher negra cabeça-de-lista numas eleições legislativas em Portugal.
Conosaba: Porque se candidata pelo Partido LIVRE?
JKM - Os princípios do partido LIVRE refletem os valores de transparência e democracia participativa que eu defendo. Por exemplo, o programa do LIVRE é construído através de um processo de colaboração e participação do todos os membros e apoiantes e todas as propostas incluídas são submetidas a uma votação em congresso. A minha escolha decorreu da participação em eleições primárias abertas a todos os cidadãos sujeita a votação por membros, apoiantes e simpatizantes do LIVRE. Alheia a qualquer escolha de acordo com a conveniência da direção partidária e um partido que vai a eleições para constituir a sua lista mereceu toda a minha atenção.
Conosaba: Quais as principais propostas do LIVRE para a Assembleia da República?
JKM - As nossas propostas podem ser classificadas em medidas de Justiça Social e de Justiça Ambiental.
Defendemos o seguinte:
Nacionalidade imediata a todos que nascem em Portugal, independentemente da
situação dos seus pais;
Separação do Serviço de Estrangeiros do Serviço de Fronteiras;
Direito de Voto aos imigrantes com autorização de residência, capacidade de eleger e de ser eleito;
Aumento do salário mínimo nacional para 900 euros;
Creches gratuitas a partir dos 4 meses;
Criação de Balcão da Habitação em todo o País e apoio do Estado no pagamento de rendas. 10% de habitação pública;
Recolha de dados étnico-raciais nos Censos;
Psicólogos nos Centros de Saúde;
Sistema de Ensino que valoriza aptidão dos alunos. Combate ao abandono escolar e a revisão dos manuais de História e dos currículos.
E o LIVRE propõe a substituição até 2030 da produção de energia elétrica com recurso a fontes poluentes, causa direta de graves manifestações climáticas devastantes, como recentemente vimos acontecer em Moçambique ou nas Bahamas. Propomos a implementação de um programa de melhoria das condições nas habitações e aumentar o conforto térmico combinado com a redução da taxa do IVA na energia.
Conosaba - Que mensagem gostaria de deixar à comunidade afrodescente?
JKM - As comunidades afrodescentes e imigrantes são parte integrante e parte muito importante da sociedade portuguesa. Nós, com o nosso trabalho, os nossos impostos e o nosso suor todos os dias, ajudamos a construir esta sociedade. Contudo, a Assembleia da República ainda não reflete a nossa presença e nem as nossas preocupações.
Na Assembleia de República, o LIVRE irá defender o direito à nacionalidade para todas crianças nascidas em Portugal. Proporá retirar da tutela do SEF a atribuição e renovação de autorizações de residência. O LIVRE apresentará a proposta de atribuição aos imigrantes residentes em Portugal o direito a voto nos actos eleitorais e muitas medidas de justiça social que vão garantir que a voz e as reivindicações dos imigrantes e da comunidade negra e das minorias da nossa sociedade serão ouvidas.
Apelo à comunidade negra que se levante com orgulho no dia 6 de Outubro e que vá votar, porque no dia que os políticos virem pessoas negras na fila para mudar, nesse dia as leis que afectam as nossas vidas vão começar a mudar.
Faço um claro apelo também à participação de todos neste momento único e histórico que vivemos votando no partido LIVRE e ampliando a voz da igualdade no parlamento português elegendo-me como deputada. Este é o tempo da mudança que todos queremos.
Por: Pate Cabral Djob
Portugal, 02 de Outubro de 2019
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