Assunto: Incidente no Aeroporto da Praia
Excelência
Sr. MBALA FERNANDES
Embaixador Plenipotenciário da República da Guiné-Bissau
PRAIA
1. Torna-se pertinente uma mensagem de Cidadão para Cidadãos, irmãos de e para sempre, transmitida com coração e que se situe para além do politicamente correcto e do diplomaticamente conveniente.
2. Deve ficar claro, e a Nação Guineense e todos os seus filhos estarão cientes de que qualquer cidadão cabo-verdiano de Bem condena com veemência o incidente de abuso de autoridade que possa ter acontecido com o vosso concidadão Jorge Mário Fernandes.
3. CABO VERDE, terra de liberdade, não pactua com violações à própria liberdade da pessoa humana, seja de que origem for. Fomos forjados numa vivência sem ela, o que leva o povo destas ilhas a valorizá-la tanto e a desejar o mesmo aos seus irmãos Bissau-Guineenses, INCONDICIONALMENTE!
4. O cidadão comum e anónimo cabo-verdiano é 100% solidário ao sofredor irmão da Guiné-Bissau. Faz-se ouvir a voz de rua e não pode existir dúvidas quanto a isso.
5. Todavia, esse mesmo cidadão cabo-verdiano NÃO ACEITA servir de bode expiatório eleito para que a origem dos Males continue encoberta, e que os africanos, todos, de Norte a Sul, continuem se vitimizando e se colocando como seres inferiores que não se responsabilizam por nada na História dos seus e, ao invés do pretendido, esta eterna vitimização funciona como um estorvo aos que correm atrás do equilíbrio de todos os povos.
6. O cidadão desta jovem Nação Insular não tem razão alguma para se envergonhar do seu percurso histórico até ao presente. Antes pelo contrário, razões imensas de orgulho numa luta constante e plena de vitórias frente a uma Natureza pouco favorável, a priori.
7. Contrariamente à ingratidão de dois ou três que se colocam como enteados da Nação, estas são as ilhas que abraçam o Mundo porque são gratas ao abraço do mundo para que Aqui nascesse uma Nação. Dizemos enteados, porque filho algum atira pedras à própria Mãe.
8. Assim, aconselhamos os “cabeças” da pequena e legítima manifestação junto do consulado de Cabo Verde que não se esqueçam de agendar uma passagem pelas portas do Parlamento e da sede do PAIGC (na bela e acolhedora cidade de Bissau) reclamando a retirada do nome “Cabo Verde” – país estrangeiro soberano – da sigla de um partido político que integra o figurino do Estado soberano da Guiné-Bissau. Isto sim é uma Vergonha que se arrasta há quase 40 anos e que urge ser resolvido para o reforço do ideal relacionamento dos dois países irmãos. Por ventura, a única situação tão insólita em todo o globo!
A verdadeira e real amizade desejada pelos dois povos irmãos não se consegue a partir dos cadeirões de pseudo-intelectuais e nem de declarações políticas de ocasião.
Ela é e será consequência de princípios sérios de respeito, vindos de ambos os lados sem qualquer espécie de tabu.
Verifica-se, infelizmente, que os dois estados soberanos não andam a interpretar a vontade de seus respectivos cidadãos quanto à necessidade de tudo fazer para este desiderato de sã convivência.
Pela presente, apraz-nos enviar uma mensagem de fraternidade mas também de exigência máxima, sobretudo aos profissionais da política.
Os cabo-verdianos não aceitam vestir o fato de “bicho-mau” que alguns ligeiros e hipócritas, amiúde, tentam impingir-nos, de algumas décadas a esta parte numa abjecta forma de fuga às próprias responsabilidades perante insucessos. Alguns tolos podem engolir esta farsa, mas as medidas dessa indumentária estão historicamente mal tiradas e caberão com maior justeza a outros que vieram antes dos cabo-verdianos, em todas as coordenadas do continente.
A terminar vão sinceros e profundos votos de Paz e Harmonia no seio da Nação Bissau-Guineense.
Praia, 15.10.2019
Fraternalmente o cidadão cabo-verdiano que muito vos ama,
José Pedro Chantre d’Oliveira
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 933 de 16 de Outubro de 2019.
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