1-Conosaba: Dr. M’BANA N’TCHIGNA nasceu na Guiné-Bissau,
concretamente de que zona?
MN- Eu
sou natural de Banta-El-Sillá, secção que faz parte
de sector de Búba, região de Quínara.
2-Conosaba: Dr. Vive atualmente aonde? Gosta da sua terra
e o seu Povo? Quer partilhar connosco um pouco o seu percurso de vida e o que
faz no Brasil até a data presente?
MN-
Vivo no município de Vila Velha, estado de Espírito Santo – ES – Brasil. E
nunca deixarei de gostar da minha terra e do meu povo. Para afirmar que o meu
percurso de vida começou na vila de Banta-El-Sillá, onde cresci até aos 17 anos
de idade sob educação dos meus pais e do povo da etnia Brassa (Balanta).
Na
idade citada acima, sai como um adolescente analfabeto para cidade de Bissau em
busca de formação académica e oportunidade de emprego. Comecei a estudar e de
forma intensa o meu estudo foi brilhante. Não me considero aluno genial, porém
muito esforçoso. Aos 27 anos de idade consegui uma bolsa de estudo para estudar
filosofia no Brasil.
No
Brasil, graduei em licenciatura plena em filosofia pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais-PUC-MG. Especializei em Ensino Religioso na Faculdade
Unida - FU em Vitória Espírito Santo - ES e mestre em Políticas Públicas pela
faculdade – EMESCAM em Vitória, Espírito Santo -ES.
Tenho
experiência profissional no Ensino Básico, Médio e superior na modalidade Educação
de Jovens e de Adultos-EJA, atuando nas disciplinas de Filosofia, História e
Ensino Religioso. Desenvolvo projetos que objetiva romper os estereótipos
sobre a cultura dos povos africanos. Sendo a minha área de interesse:
Filosofia, História, antropologia cultural e social africana fazendo uma
interfase com a cultura afro-brasileira.
Trabalho
como professor de: História e de Ensino Religioso pela Prefeitura de Município
de Vila Velha atualmente num projeto denominado: Coordenação de Estudos
Africanos Afro-brasileiro e Indígena – CEAFRI onde atuo como professor numa
perspectiva de olhar africano com projeto denominado “A África Contada por um
Africano: - África que afrodescendente desconhecem.”
3-Conosaba: O Senhor que é Mestre e Especialista em
Políticas Públicas…por favor, sem rodeios, esclarece-nos, o que é Poder Local e
para que serve?
MN_O
poder local na é nada menos e nada mais de que a desburocratização e a
permissão de forma racional o funcionamento independente de um governo central.
E serve para articular, dinamizar a cidadania; edificando diálogo entre cidadão
e autoridade sobre questionamentos que cidadão não podia ter acesso num governo
centralizado.
4-Conosaba: É importante e urgente realizar eleições
autárquicas no nosso país? Porquê?
MN- Na Guiné Bissau de hoje as instituições e os institutos de governos não tem
controles adequados e nem funcionam.
-Daí
que é necessário desencadear o potencial regional para crescer e
estimular quem “dorme” ou o “preguiçoso a reagir.” Entendo que com essa
filosofia é a forma de delegar a região o comando de si próprio. Encarregue de
poder absoluto sobre si. Por outro lado; significa a procura de autossuficiência
econômica. Acredito que é imperativa essa forma de governo na Guiné Bissau. Vejo
que “autarquia” nos permitirá organizar a economia de cada região visando a competividade
regionais. Permitir as regiões a sobreviverem apenas com suas próprias
atividades sem precisar de apoio externo.
Com
essa iniciativa autárquica, país saberá ao longo do tempo interpretar as
fragilidades e potencialidade regionais e preparar para sua defesa econômica ou
política de forma eficaz. Filosoficamente um governo autárquico da Guiné Bissau
estudará ao longo do tempo características regionais podendo descobrir
qualidades e valores individuais das regiões para conduzir vida do povo guineense
da melhor forma possível. Elevo meu pensamento ao Platão que interpretou a
autarquia como “qualidade da perfeição”. E por sua vez a Aristóteles, seu
contemporâneo que relaciona a autarquia ao “bem” e “a base para a felicidade do
indivíduo”. A descentralização a administração pública que se concentra só em
Bissau não é necessária e nem responde mais expectativa do país.
Sobre Educação…
5-Conosaba: O ano letivo nas escolas públicas da
Guiné-Bissau foi considerado nulo pelo Governo, o que pensa sobre este a
nulidade?
MN-Anualidade
do ano letivo é um retrocesso criminoso frontal e cruel! É uma pena ver nossos
alunos (filhos e netos) sendo adiados suas juventudes e futuros como o governo
guineense o fez connosco! Governo da Guiné Bissau não tem amor e nem sonha em
construir a nossa nação.
Senão
vejamos: ao mesmo tempo que o ano letivo é nulo o processo eleitoral foi
recheado de aviões que pousam em Bissalânca com materiais de campanha eleitoral
(bicicletas, motos, viaturas e etc.). Os políticos flagrados a distribuírem
dinheiros criminosamente aos eleitorados em plena luz de dia em Gabu. Se têm
dinheiro para campanha eleitoral e não o têm para investir na educação, só vejo
crime contra a nossa educação. Infelizmente, a impunidade impera no país. Todos
deveriam ir para cadeia.
6-Conosaba: O Dr. acha correto, atitudes e o
comportamento dos professores das escolas públicas da Guiné-Bissau, que têm
estado em greves quase ininterruptas desde a abertura do ano letivo em outubro
do ano passado?
MN-Sim.
Eu dou 100% de razão aos professores. É a única arma que lhes sobram para
lutar. Porque salário; isto já é defasado e mal dá para sobreviver. Não pode
funcional educação sem a sobrevivência do professor e muito menos a
qualificação dos mesmos garantidas. Por extensão, sem matérias básicos e nem o
mínimo do conforto em estabelecimento do ensino. Para mim infelizmente é melhor
anualidade de que enganar alunos fingindo passa-los de ano produzindo mais analfabetos
funcionais que já temos em todos os cantos do país e na praça de Bissau.
7-Conosaba: Se pudesse, o que faria e como reformaria o Sistema Educacional da Guiné-Bissau?
MN-Em
primeiro; eu aplicaria a institucionalização das autarquias locais como forma
de desencadear estimulo e potenciais regionais para crescimento de província
Sul, Leste e Norte.
Em
segundo; permitir cada província a delinear caminho para o futuro imediato e
longo em sua política educacional. Que faça frente ao analfabetismo e a desigualdade
social estimulando a equidade.
Em
terceiro lugar; permitir ao povo guineense a entender que a educação é a única arma
possível utilizar através da qual o bem-estar de sua vida a nível de região e
setor é possível. Propor estímulo de desenvolvimento em seus próprios
territórios a sustentabilidade da educação local. Promover aproximação e
competição abrindo corrida em busca de aperfeiçoamento embasada no respeito a
particularidade regional. Para que Sistema Educacional da Guiné-Bissau
experimente a mudança.
9-Conosaba: Se um dia for convidado para dar o seu
contributo ao nível da administração pública na Guiné-Bissau, o senhor iria sem
hesitar?
MN-Com
certeza. Alias, é o meu sonho.
10- Conosaba: Parece que a Guiné-Bissau entrou numa
espiral de dificuldades de coabitação entre os
diferentes órgãos de soberania. É um assunto que se tornou praticamente uma
cultura na esfera política e institucional, desde que a Guiné-Bissau adotou o multipartidarismo e o regime democrático. Na sua
opinião acha que há motivos para essa dificuldade de coabitação? Por outro
lado, em circunstâncias normais, nunca se sabe o futuro…se calha, um dia for
governante no seu país, o que fará para resolver esse
problema que ameaça à paz social e a frágil democracia guineenses?
MN- As “dificuldades de
coabitação entre os diferentes órgãos de soberania” em se coabitarem entre “diferentes
esferas políticas e institucional” ao meu ver não deve ser atribuída ao
multipartidarismo e nem ao regime democrático. Eu diria que essas dificuldades
de coabitação são fabricadas para proteger interesse de certos políticos que
quando sentem que seus interesses estão ameaçados, criam a dificuldade. Cito um
dos incidentes. Me refiro ao golpe militar que foi executado pelo Antônio
Indjai enquanto chefe de Estado Maior da Força Armada. Afirmou que a Comunidade
Internacional acredita que a reforma militar guineense deve reformar 60% de
militares Balanta e ainda; em: Burquina Fasso, Codovoar e Togo ouviu acusação sobre
a etnia Brassa (Balanta) como fator de instabilidade da Guiné Bissau. Quando
Indjai pergunta sobre quem veiculou a informação para essa Instituição
Internacional e esses países, a resposta foi: então governo de Raimundo
Pereira, ou seja, políticos guineenses. Então, disseminam problema dessa forma estereotipando
a esfera militar que entendem que é ameaça a seus mandatos. E por extensão, quando
a MISANG for obrigada a retornar para Angola vimos todos pela a rede televisiva
armamentos que estavam em segredo com essa missão Angolana na Guiné Bissau.
Tudo sob olhar protetor de então órgão soberano do país. Se a “Intervenção do
senhor General António Indjai, ex-chefe do estado-maior das Forças Armadas da
Republica da Guiné – Bissau, contributo para reconciliação nacional em agosto
de 2013” (ler neste link http://tchogue.blogspot.pt)
não foi contestada até hoje pelo Raimundo Pereira, Cipriano Cassama e João
Monteiro sobre o que afirmou, Indjai, eu sou obrigado acreditar que os
políticos que prejudicam a esfera política e as instituições do nosso país. E o
mais grave, incitam ódio tribal.
Para
resolver esse problema que nos ameaça só tem um jeito. Colocar na cadeia esses
políticos que põem instituições internacionais a desacreditar no país e ainda
nos colocam a odiar um a outro. Tem que ser criminalizado quem quer que seja
que pratique tribalismo verbalmente na Guiné Bissau. Se não houver punição
exemplar continuaremos nessa impasses. Até hoje o que Cipriano
Cassama, João Monteiro e governo de transição de Raimundo Pereira responderam
criminalmente? Não responderam nada. Eu como pertencente dessa etnia senti
ofendido e quero retratamento público resposta e pedido de desculpa por parte deles
a etnia Brassa (Brassa). Se não, continua ameaça real à paz, a sociedade e a
frágil democracia guineense.
11–Conosaba: para uma pessoa que está longe da
Guiné-Bissau parece haver da parte da classe política uma grande insensibilidade
relativamente ao fenómeno da pobreza e da miséria que está por todo o lado na
Guiné-Bissau. Acha que a classe política guineense é mesmo insensível à pobreza?
MN- Conasaba;
“parece haver...” não. É claro que são insensíveis à pobreza! Não é demais
frisar o que falei na questão de número (5) sobre anualidade do ano letivo como
um retrocesso [...] cruel. Se a classe política tem
coragem de desviar arroz que a China ofereceu ao povo recentemente; Se a
classe política tem coragem de extorquirem camponeses suas castanhas de cajus;
Se a classe política tem coragem de desviar dinheiro no cofre público para
compra de suas propriedades fora da Guine Bissau deixando hospitais sem
remédios, escolas sem infraestruturas, salários dos professores a pagar,
servidores públicos sem assistências mínima; Se a classe política tem coragem
de assinar cheques para que suas amantes e concubinas vão à finança e levantem
dinheiros para seus bel-prazeres; Se a classe política tem coragem de permitir
que União Europeia, concretamente; Reino Unido, Espanha, Portugal, Grécia,
França, Portugal e não sei mais quem, pescar nas nossas águas territorial a
troco de menos de dezesseis milhões de euros (16.000.000€), como é que esses
políticos podem convencer alguém que não são “insensíveis a pobreza” e ao sofrimento
do povo..?
12–Conosaba: Não preocupa à classe política guineense o
facto de o povo estar completamente alheio às “guerras”
que presentemente se assistem na esfera política e institucional na
Guiné-Bissau? Dá a sensação de que há um descrédito generalizado
sobre as capacidades do guineense resolver os seus próprios problemas de uma
maneira civilizada. Quer fazer um comentário sobre isso?
MN-Creio
que não. Mas me parece que é uma mera ilusão por parte deles, políticos. Para
mim os políticos estão acumulando dívidas e culpas acertar um dia com o seu
povo. Usam dinheiro para comprar aqui, ali e, acola. Compram a consciência de
um e de outro e silenciam quem conseguem. É uma ilusão que os políticos vivem.
Tudo tem começo e fim. Vejo amadurecimento da nação em certas greves expedidas
no país. Creio que tarde ou sedo hão de se surpreender com a reação do povo e
ou com um político que não conforma com tudo isso.
13–Conosaba: Pensa que o povo guineense deve ainda ter
esperança em relação ao futuro?
MN-Sim.
Eu acredito que a esperança é a ultima a morrer. Eu vejo como Amílcar
Cabral afirmava que estamos para cumprir dois programas na nossa luta:
“programa menos e a maior.” Programa
menos teve também descredito durante 11 anos de luta armada e muitos abandonaram
foram se juntar com inimigo, tuga. Mas o povo conseguiu a independência. Assim
também será nessa marcha em programa maior. Construção nacional não nos será
fácil, mas tenho esperança de que chegará o dia em que teremos pelo menos o
básico. Vamos conseguir. Somos um povo corajoso e orgulhoso por natureza na
nossa terra. Vamos conseguir.
14.Conosaba: que mensagem final gostaria de deixar aos
nossos leitores e aos guineenses em geral?
MN-Digo
a todos que leitores e guineenses; convicção de que podemos ser um dia povo
feliz e prospero, nunca deve ser abalada por “tempestades” que no momento nos
abala. A estrutura social da Guiné Bissau será edificada. Onde teremos escolas,
museus, teatros, ruas, avenidas e rodovias asfaltadas, hospitais e casas dignas
de orgulho de todos guineenses.
Mestre
em Política Públicas: M’bana N’tchigna
Feito por: Pate Cabral Djob (Sêlé Dan-di Mansoa)
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