Testemunhas ouvidas no julgamento de Rafael Marques afirmam veracidade dos relatos de 'Diamantes de Sangue'
As duas testemunhas que foram ouvidas em Lisboa no âmbito do processo-crime contra o ativista angolano Rafael Marques foram unânimes em afirmar que "já mataram muitas pessoas" na zona de diamantes em Angola.
Os cidadãos angolanos Linda Moisés da Rosa e Mwana Capenda compareceram esta terça-feira, perante a justiça portuguesa, para afirmarem a veracidade dos relatos que constam no livro 'Diamantes de Sangue', do jornalista e ativista Rafael Marques, que aborda a situação na região diamantífera das Lundas. Rafael Marques está acusado de difamação por nove generais angolanos, que alegam serem falsos os relatos que constam no livro. A editora portuguesa do livro já não é arguida, como aconteceu num anterior processo, entretanto arquivado, mas os generais continuam a responsabilizar a Tinta da China, reclamando uma indemnização de 150 mil euros.
Linda Moisés da Rosa - que responsabiliza as forças militares angolanas pela morte de um dos filhos e a empresa Teleservice, que explora os diamantes nas Lundas, pela morte de outro, cujo corpo nunca recuperou - fez um retrato detalhado do que diz ter acontecido aos seus dois únicos rapazes, na altura com 33 e 32 anos. No final da sessão, Linda confessou aos jornalistas ter medo de regressar a Angola, recordando que, antes de vir para Portugal, foi detida no aeroporto.
Mwana Capenda, também testemunha, defendeu que uma comissão de inquérito internacional vá "ver como vive a população das Lundas". O chefe tribal confirmou as mortes dos filhos de Linda, garantindo que "há mais casos. Matar é o princípio de lá. Principalmente nós, côkwe, somos muito mortos". Apesar de os responsáveis diretos pelas mortes serem "operativos" no terreno, os seus chefes "sabem o que se passa. As Lundas não beneficiam dos diamantes, não têm escolas, nem água, nem luz, nem empregos, só buracos". A área está igual ao que era durante a colonização, "tudo falta, não há nenhuma coisa", relatou a testemunha.
No final da sessão, a que assistiu a editora Bárbara Bulhosa, o advogado de acusação - José Maria Sanchez, não quis prestar declarações à imprensa. Por parte da defesa, Magalhães e Silva adiantou que, para além das testemunhas angolanas, serão ouvidos especialistas internacionais no assunto dos "diamantes de sangue". O processo-crime está ainda na fase de inquérito, faltando ouvir 13 das 15 testemunhas reunidas por Rafael Marques. O mais provável é que essas testemunhas sejam ouvidas em Angola, mas o ativista não descarta a possibilidade de reunir fundos para trazer mais relatos aos tribunais portugueses.
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