segunda-feira, 9 de maio de 2022

PAIGC diz que regime quer silenciar vozes contrárias à intenção de impor ditadura na Guiné-Bissau

O ataque contra o deputado guineense Agnelo Regala confirma a intenção do regime de impor a ditadura na Guiné-Bissau, afirmou hoje o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira.

“A única reação possível é confirmar que é um padrão comportamental de um regime que pretende silenciar todas as vozes que sejam contrárias à intenção de impor a ditadura na Guiné-Bissau”, afirmou aos jornalistas Domingos Simões Pereira.

O líder do PAIGC falava na residência do deputado e presidente do partido União para a Mudança, que foi no sábado ferido a tiro.

Domingos Simões Pereira também considerou haver uma ligação entre o ataque e a conferência de imprensa do Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos sobre o envio de uma missão de estabilização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental para o país.

“Ato contínuo a essa conferência de imprensa vários membros do nosso grupo receberam chamadas anónimas, chamadas de ameaças à integridade física dos elementos e à integridade física de familiares dos elementos desse grupo. Para mim nada de extraordinário, a vida na Guiné passou a valer isto”, afirmou Domingos Simões Pereira.

O líder do PAIGC salientou que “basta não estar de acordo e usar aquilo que são as prerrogativas constitucionais para se atentar contra a integridade física das pessoas”.

“Não só está ligado como faz parte de um todo, da construção de um quadro de medo, de um quadro de resignação popular, no sentido de permitir de que a anarquia, mas anarquia ordenada de cima, possa ser a nova ordem do país”, afirmou.

O ataque representa um “atentado à própria integridade do país” e sua “soberania”, acrescentou.

O líder do PAIGC afirmou também que o Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos vai reagir, “falar à Nação”, para que “todos percebam” que não vão silenciar as suas vozes.

“Não vamos ter medo, não vamos escondermo-nos, estamos cá, que continuem a disparar, porque um dia o povo vai realmente acordar e perceber que tem de enfrentar este regime e por termo a esta situação”, ressalvou, lamentando uma vez mais a falta de posição da comunidade internacional em relação ao que se está a passar no país.

Agnelo Regala foi vítima de um ataque junto à sua residência no centro de Bissau, tendo sofrido ferimentos numa perna.

A União para a Mudança, na oposição no parlamento da Guiné-Bissau, faz parte Espaço de Concertação dos Partidos Democráticos guineenses, que está semana afirmou que o incumprimento da lei para o envio de uma missão militar para o país pode configurar uma invasão pelas forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

O espaço de concertação “condenou sem reservas os sinais de desprezo e desconsideração à soberania da República da Guiné-Bissau por parte das entidades promotora e autora da decisão” e exortou a CEDEAO a respeitar os princípios fundamentais que sustentam a organização.

O espaço de concertação exigiu que a “Assembleia Nacional Popular seja ouvida e a sua resolução levada em conta na determinação do mandato e constituição de qualquer eventual força a estacionar” no país.

A CEDEAO anunciou o envio de uma missão militar de interposição para a Guiné-Bissau em fevereiro na sequência de um ataque contra o Palácio do Governo, quando o decorria uma reunião do Conselho de Ministros, em que participavam o chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, e o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam.

A semana passada a força começou a chegar ao país, mas o porta-voz do Governo e ministro do Turismo guineense, Fernando Vaz, remeteu mais pormenores para a cimeira dos chefes das Forças Armadas da CEDEAO, que vai decorrer em maio no Gana.

Fontes militares confirmaram à Lusa que a força de estabilização será composta “num primeiro momento” por 631 militares.

Umaro Sissoco Embaló afirmou na África do Sul que a força é composta por elementos do Senegal, Nigéria, Gana e Costa do Marfim.

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