quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Crônica: O VOO A SOLO DO PÁSSARO

Chegou sem que os citadinos dessem conta deste voo mui especial na Cidade de Bissau. Ninguém sabe, ao certo, se chegou de madrugada, ou se de manhã, ou se de meio dia, ou se de tarde, ou se de noite.

Muito engraçado mesmo; se não fosse desgraçado…

Sabe-se apenas que o pássaro poisou na Torre do Controlo, atrapalhando sobremaneira a navegação aérea. Ou o tráfego aéreo? se não fosse o outro tráfego, ou de armas ou do famigerado (tráfico de) cocaína.

Acontece que, no decurso dos acontecimentos, ninguém soube dar explicações a perguntas que os jornalistas formulavam a quem de (direito) pelo tamanho despautério.

Sabia-se (ou desconfiava-se) que o pássaro tinha vindo das Américas. Ele percorrera a Ásia, atravessou a Europa, circulou por Oceania… e veio pousar-se na África plural: o continente da resignação, e ao mesmo tempo, da aceitação.

Atónito, o povo. Num país minúsculo do continente negro, vitam-se, mais uma vez, envolto em mistérios; em enigmas inexplicáveis. Pois cada uma das cidadães, cada um dos cidadãos, perguntavam a si mesmas e a si mesmos, respectivamente: há outra (de novo?) em Bissau?

Entretanto, o pássaro estava lá, quieto. Os controladores do voo desaparecidos; a tripulação em fuga.

Coisas nauseabundas no (novo?) regime de Bissau.

O pássaro tinha carga pesada. Mas, e o conteúdo? Do que se tratava mesmo? Parece que não se sabia ao certo do conteúdo nem da forma como esta ave, sui generis, veio parar no nosso solo pátrio. Porém algo continha dentro do seu ventre. Ora, se se tratava da vacina de Madagáscar (ou era chá?) cujo objetivo parecia prevenir o coronafome ou curá-la…

Ninguém, decerto, o sabia. Talvez muitos preferissem o mutismo (de n’uni-n’uni) ao exercício pleno do direito da fala.

No entanto, uma pergunta não se calava: este pássarpo continha o quê na bagagem? Cocavacina ou materiais bélico-terrorista?

Terão os autores do pássaro mensageiro escondido alguma mercadoria da América Azul que deveria seguir para o Magreb, mas que, por infortúnio, veio parar neste país do Hemisfério Sul…?

Ai, Bissalanca, com suas histórias… Histórias de lascar o estômago.

Enfim, um pássaro, um homem e uma nação em frangalhos. Para ultimar com o seguinte pensamento: estas narrativas contraditórias sobre o pássaro de Bissalanca está a provocar reações opostas e contraditórias de todos os lados da geopolítica nacional, como se se tratasse dos oxímoros dialéticos do grande poeta português, Fernando Pessoa.

Boa jornada a todas e a todos que vou dormir desassossegado.

Quinhamel, 14 de novembro de 2021.

Por: Jorge Otinta,
Poeta, ensaísta e crítico literário
odemocratagb

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