sábado, 12 de outubro de 2019

ESCRITOR JUAN TOMÁS ÁVILA DIZ QUE OBIANG NUNCA CUMPRIRÁ EXIGÊNCIAS DA CPLP

O escritor equato-guineense Juan Tomás Ávila disse, em entrevista à agência Lusa, que existe uma "pena de morte oficiosa" na Guiné Equatorial que não acabará, defendendo que o Presidente Obiang jamais cumprirá as exigências da comunidade lusófona.

"Para o público e para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa [CPLP], a Guiné Equatorial até pode abolir a pena de morte, mas o que acontece é que há uma pena de morte oficiosa. Ainda que oficialmente digam que não há pena de morte, as pessoas morrem de forma secreta", disse.

Autor de livros como "Arde o monte durante a noite (2009)", "A Carga (1999)" ou "Avião de ricos, ladrão de porcos (2008)", Juan Tomás Ávila Laurel deixou a Guiné Equatorial em 2011 após uma greve de fome contra o regime do Presidente, Teodoro Obiang, há 40 anos no poder.

Desde então a residir em Espanha, a vida do escritor é contada no novo documentário do jornalista catalão Marc Serena "O escritor de um país sem livrarias", que tem estreia marcada para 23 de outubro, durante a Semana Internacional do Cinema de Valladolid (SEMINCI).

Ávila Laurel (1966) nasceu em Ano Bom, uma pequena ilha no Atlântico pertencente à Guiné Equatorial, mas viveu sobretudo na capital, Malabo, tendo estado recentemente no país para a rodagem do documentário.

"Desde 2013, que vou à Guiné e regresso a Espanha sem problemas. Quando me perguntam se não me fizeram mal, o mais provável é que tenham pensado em alguma armadilha ou em acusar-me de alguma coisa. Mas vou tranquilo porque é o lugar onde deveria viver e não posso passar toda a vida com medo", disse.

O escritor garante que "deixou de ter medo" apesar dos abundantes exemplos de pessoas desaparecidas misteriosamente, incluindo o de um ex-vice-presidente do país que após vários anos exilado em Espanha regressou à Guiné Equatorial e em duas semanas morreu.

"Oficialmente podem dizer que não condenam ninguém à pena de morte, mas enquanto isso morrem pessoas nas prisões, que foram torturadas. A CPLP é uma coisa de políticos que querem fazer um pouco um jogo para que as coisas na galeria sejam vistas de determinada maneira e justifiquem a inclusão de Obiang" na comunidade, adiantou.

"Obiang não cumprirá nada, nunca deixará de ser má pessoa, mau político e mau presidente", acrescentou.

Sobre o documentário, Ávila Laurel espera conseguir alertar as pessoas para a situação que se vive na Guiné Equatorial.

"Há muitíssima gente que não sabe que a Guiné Equatorial existe, nem qual a situação em que se vive. O documentário é um meio novo para fazer uma aproximação à Guiné Equatorial", disse.

O documentário acompanha o dia a dia do escritor como forma de dar a conhecer o quotidiano de um país.

"Os [restantes Estados] da CPLP deviam saber que na capital [Malabo] ainda não há água potável. Insistir na questão da pena de morte é uma maneira de lavar a imagem [do regime] quando verdadeiramente estamos a sofrer e não há condições para que as pessoas vivam ou possa tratar-se das doenças", exemplificou.

A Guiné Equatorial é um dos nove Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a que aderiu em 2014, mediante um roteiro que incluía a disseminação da língua portuguesa, a melhoria da situação dos direitos humanos e a abolição da pena de morte.

Conosaba/Lusa

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