segunda-feira, 9 de setembro de 2019

HOJE, FOI SINALIZADO COM SONS DE TAMBORES, BONBOLOM DOS BALANTAS E GRUPO DE DANÇAS TRADICIONAIS O ÚLTIMO ARRIAR DA BANDEIRA PORTUGUESA QUE DECORREU NO QUARTEL DE MANSOA EM 09 SETEMBRO DE 1974

  Foto/Babum Imbadji


MANSOA BERÇO DA GUINÉ-BISSAU

A quem diga que: de Mansoa nasceu a nossa Pátria Amada 'República da Guiné-Bissau! 'Nsua' Terra da Cultura e da Civilização!



Hoje, dia 09 de Setembro de 2019, a população da Terra-Santa de Mansoa decidiu comemorar e lembrar a data do último arriar da bandeira Portuguesa na Guiné-Bissau, que decorreu no quartel de Mansoa, em 9 de Setembro de 1974.



A população local organizou uma marcha cultural, desde Tribunal Provincial do Norte em Mansoa, passando pela Ponte de Mansoa até Quartel de Mansoa, terminando assim, com grande discurso do Comandante de Batalhão e demais entidades do País presentes no ato.


Conosaba do Porto




A testemunha de um soldado soldado português 

Fui eu quem arriou a nossa bandeira”


25 de Janeiro de 2009 às 00:00
Fiz parte do último batalhão a partir e a regressar da Guiné. Assisti ao fim da guerra e a um acidente que me marcou para sempre: um camarada morreu com um disparo acidental.

Fui para o Ultramar como furriel miliciano de Operações Especiais (Ranger) e pertenci à Companhia de Comandos e Serviços do Batalhão de Caçadores 4612/74, o último que partiu para a Guiné e o último que de lá saiu, em Outubro de 1974. Antes estive nas Caldas da Rainha, Lamego, Évora, Tomar e Santa Margarida. Parti do Aeroporto de Lisboa para Bissalanca, com destino ao quartel de Cumeré, seguindo-se Mansoa e Brá. Este contingente foi substituir o Batalhão de Caçadores 4612/72, que se encontrava a prestar serviço há 22 meses, na região de Mansoa, tendo registado seis mortos – quatro em combate e dois em acidentes.

A nossa última missão foi assegurar a evacuação do dispositivo militar que se encontrava estacionado na Guiné (cerca de 27 mil homens) e testemunhar alguns factos históricos, como o da entrega do aquartelamento ao PAIGC, que incluiu uma muito concorrida e festejada cerimónia oficial do último arriar da Bandeira Nacional e o hastear da primeira bandeira da Guiné-Bissau, que representou o nascimento de uma nova nação e simbolizou, ao mesmo tempo, a entrega da soberania política e económica do território.

Outro facto histórico que presenciei foi o episódio mais pungente na minha vida militar e civil até aos dias de hoje e que me traumatizou para o resto da vida, aconteceu também no quartel de Mansoa, num triste dia de Agosto de 1974. Um trágico acidente de que foram protagonistas dois infelizes soldados da 3.ª Companhia do Batalhão de Caçadores 4612/72, que nas últimas horas na Guiné, após 22 meses de comissão, como acima referi, quando se encontravam junto da arrecadação de material de guerra, a fim de entregarem o armamento, nomeadamente as G3 e os respectivos carregadores. 

Tinha sido dada ordem para desmontar, limpar e montar as G3, e limpar e esvaziar de balas os carregadores, entregando-os para inspecção a dois furriéis milicianos da companhia: um acompanhava as limpezas do equipamento e o outro, juntamente com um 1.º cabo, sentados num banco, verificavam se tudo estava em boas condições. À frente deles alinhava-se o restante pessoal. 

Para quem não sabe, a inspecção de uma G3 para entrega, na rotina habitual, obrigava a fazer quatro operações: retirar o carregador, puxar a culatra atrás – para retirar qualquer bala da câmara –, destravar a culatra para a frente e efectuar uma gatilhada em seco para o ar. 

No entanto, um dos soldados inadvertidamente entregou a G3 com o carregador ainda municiado e o 1.º cabo, que fazia o teste às armas, não reparou neste terrível facto e procedeu às manobras com a culatra. Quando ia premir o gatilho, o furriel que observava os seus movimentos, ao se aperceber da entrada de uma bala na câmara, instintiva e desesperadamente, deitou a mão à arma no sentido de impedir o disparo, mas, infelizmente, já não foi a tempo e a arma disparou. 

Como os soldados estavam de pé, a bala, na trajectória de baixo para cima, atingiu o soldado que estava mais próximo, e que tinha acabado de entregar a G3 com munições no carregador, atravessando-lhe a anca; passou muito rente à parte de trás do pescoço do segundo militar da fila e perfurou o crânio do terceiro na parte frontal. Enquanto o segundo soldado agradecia a Deus a sua sorte, os dois feridos com bastante gravidade, foram de imediato assistidos por primeiros-socorros, já que a enfermaria ficava logo ao lado da arrecadação e, passados uns minutos, surgiu um helicóptero que os transportou para o Hospital Militar de Bissau. Mais tarde soube-se que o último deles faleceu em 18 de Outubro de 1974, seis meses depois do 25 de Abril, já em Portugal, no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa. Assim, sucumbiu o último soldado português da martirizante e fatídica guerra da Guiné. 

Com a Revolução de 25 de Abril foi determinado o fim da Guerra do Ultramar e, em 9 de Setembro de 1974, foi concedida a independência à Guiné-Bissau e entregue o território ao PAIGC, numa cerimónia oficial que decorreu no quartel de Mansoa, bem como o já mencionado arriar da última Bandeira Nacional. 

Estiveram presentes nesta cerimónia a Companhia de Comando e Serviços do Batalhão 4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos, o comandante do batalhão, coronel António C. Varino; um bigrupo de combate do PAIGC, um grupo de pioneiros do mesmo partido, Luísa Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho, o comissário político do PAIGC, Manual Ndinga, e, em representação do chefe do Estado-Maior do Exército do Comando Territorial Independente da Guiné (CEME do CTIG), o tenente-coronel Fonseca Cabrinha. 

Estiveram também presentes uns largos milhares de nativos, de diversas etnias: papéis, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, entre outras, encerrando os actos com cânticos festivos e vivas ao PAIGC, prestando entrevistas às dezenas de jornalistas de todo o Mundo, que ali acorreram. A Bandeira Nacional foi arriada por mim. Regressei a Portugal em fins de Outubro de 1974. 
ENTRE ANGOLA E PORTUGAL COM PASSAGEM PELA GUINÉ 
Chamo-me Eduardo José Magalhães Ribeiro, nasci a 27 de Março de 1952 na freguesia de S. Mamede de Infesta, em Matosinhos. Casei a 5 de Março de 1972, com Maria Fernanda Vieira da Mota, que me deu o melhor filho do Mundo, de nome Carlos Eduardo Mota Ribeiro, engenheiro mecânico. Terminada a tropa, regressei ao Porto, onde resido desde os quatro anos (os anteriores vivi-os em Angola), e retomei o meu trabalho de desenhador de máquinas, na firma Máquinas Frank, Lda. Trabalho em centrais hidroeléctricas há 29 anos, como técnico Principal de Manutenção, da empresa EDP – Energias de Portugal, no sector de Produção Hidráulica, Departamento de Manutenção Mecânica.


Anntigo Presidente dos Balantas de Mansoa, Sr. Quinzinho Araújo com a família em 1974















Sem comentários:

Enviar um comentário