A infeliz polémica em torno da organização do recenseamento eleitoral e consequente cumprimento do calendário eleitoral, conforme estipulado no entendimento de Lomé, é uma mera tática de manipulação da opinião pública nacional e internacional. Aliás, uma velha estória de esperteza de lebre para com os lobos. A verdade é que o PAIGC, por razões do índole político, não quer as eleições em Novembro próximo. Os discursos vindos do partido libertador deixam transparecer um esquema de adiamento das eleições e, para a materialização desse desiderato, recorre ao GETAPE [Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral] como instrumento de legitimação do plano do adiamento do pleito eleitoral.
Os argumentos que norteiam os ditos ‘cenários’ estão longe de convencer um cidadão avisado, muito menos um observador atento. Em primeiro, a premissa para calendarização reside na Lei eleitoral, guia de todo processo eleitoral, e nada deve substituir-se à imposição legal. O recenseamento eleitoral é a coluna vertebral de todo o processo de eleições e exige uma elevada dose de transparência e confiança de todos os atores. Admitir um cenário de produção de cartões de eleitores no estrangeiro é, não só, contrário à Lei em vigor sobre a matéria como também carece de fundamento técnico e financeiro. Tecnicamente, a Guiné-Bissau já acumulou experiência confirmada na organização, desde que aderiu ao clube do multipartidarismo, há mais de vinte anos. Prova disso, em todos os recenseamentos eleitorais, os cartões foram produzidos aqui, nunca no estrangeiro.
O argumento financeiro é leviano e denota uma falta de seriedade por parte do GETAPE que, nesta história, parece estar a ser guiado pelos calculistas políticos do PAIGC. Segundo as previsões do GETAPE, o orçamento para as operações do recenseamento e da produção de cartões em cada mesa de registo (primeiro cenário) eleva-se a 1 500 000 de dólares americanos, enquanto que o custo para o segundo e o terceiro cenários se elevam a 1 300 000 e 200 000 dólares, respectivamente.
A forma leviana como esses cenários foram concebidos, nos leva a colocar seguintes questões: Desde quando as eleições deixaram de ser custosas ao ponto de o GETAPE em parceria com o PAIGC estarem “muito preocupados” em redução de custos, violando a Lei eleitoral? Um milhão e quinhentos mil dólares é assim um valor significativo para um Estado que se respeita? É ao GETAPE ou à comunidade internacional (pois, sempre financiou eleições guineenses) a questionar o custo do recenseamento? Esperemos que as entidades aqui mencionadas tenham a humildade e flexibilidade de rever os seus argumentos, pois não se deve brincar com coisas sérias em nome de interesses de grupos.
A Guiné-Bissau é soma de quase dois milhões de almas, e não o cúmulo de partidos políticos e de seus domésticos e eternos interesses. Haja paciência! As diferentes declarações de dirigentes do PAIGC até aqui confirmam uma evidência: o partido não quer eleições enquanto procura substituir a liderança do grupo dos ’15’ e do PRS nas regiões, antes da ida ao voto. A verdade é que essas manobras dilatórias são suportadas por algumas vozes que ao invés de remarem para o interesse dos cidadãos, estão sempre a sustentar interesses de partidos políticos, em função das conveniências. Em cada fase, reina um desmando. Ao longo de quase três últimos anos, o grupo dos ’15’ e o PRS, patrocinados pelo Presidente da Republica, foram mestres em desmando e fatalidade. Com o novo governo, o PAIGC retomou o seu bastão de mestre de manipulação das consciências e das massas!
É urgente acabar com retóricas de falsidade em nome do interesse geral. A coerência da linha editorial do Jornal O Democrata – olhar público, nos obriga a dizer basta a manipulação! A não organização de eleições legislativas na data prevista [18 de novembro 2018], poderá conduzir o país a uma zona de imprevisibilidade, com situação social explosiva.
Por: Redação
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