segunda-feira, 18 de abril de 2016

RISCO POLÍTICO "MUITO ELEVADO" NA GUINÉ-BISSAU

DW
O Presidente José Mário Vaz faz uma comunicação à nação a partir do Parlamento, na terça-feira (19.04)

A possibilidade de surgimento de violência política na Guiné-Bissau mantém-se alta, segundo o Mapa de Risco Político da consultora britânica Aon. O primeiro-ministro diz que o seu Governo "está tranquilo e a trabalhar".

A instabilidade na Guiné-Bissau continua e as consequências são cada vez mais visíveis. O Mapa de Risco Político da Aon voltou a considerar o país como de risco político "muito elevado". A classificação feita pela consultora britânica especializada em gestão de risco baseia-se principalmente na possibilidade de violência política e no facto de a Guiné-Bissau ser um pólo de narcotráfico.

Para reverter esta situação, a Guiné-Bissau deveria atrair mais investimento estrangeiro, defende Pedro Pinheiro, da Aon Portugal. "Um forte investimento externo que vai desde o investimento nos setores de atividade em que é mais forte até às próprias infraestruturas, para depois os produtos poderem chegar mais baratos a quem necessita deles ", explica. 

"O investimento direto estrangeiro é fundamental", sublinha o consultor, lembrando que quando existe um risco político muito elevado "os investidores perdem o interesse".

A Guiné-Bissau atravessa um período conturbado, consequência de vários anos de instabilidade política. Apesar da recente presença das Nações Unidas e da União Africana (UA) no país, os problemas não se resolveraam internamente. A UA admitiu mesmo a hipótese de poder vir a tomar as rédeas do país, caso não sejam encontradas soluções internas.

Elevado grau de incerteza

Ainda de acordo com o mapa realizado pela corretora com sede no Reino Unido, a economia guineense está a recuperar muito lentamente da suspensão de ajuda externa e dos anos de instabilidade política. O aumento do investimento que é necessário para impulsionar o crescimento e a economia interna ainda se depara com muitos obstáculos, afirma Pedro Pinheiro.

"Quem quer investir no país não consegue aferir se vai poder cumprir o seu plano de investimento, sem que exista quer interferência do Estado, através de legislação, através de embargo ou do que quer que seja, quer através de violência política, de tumultos ou de nacionalizações", explica.

Existe um grau de incerteza muito grande que leva a que a Guiné-Bissau seja continuamente considerado um país de risco. Mesmo após dois anos depois das eleições presidenciais, não foram criadas todas as condições suficientes para atrair investimento estrangeiro, salienta o analista.

"A Guiné-Bissau deveria desenvolver setores onde possa ser competitiva relativamente aos países vizinhos. Neste momento, a castanha de caju é a base de exportações e só com isso, não se pode fazer muito". Além disso, lembra ainda Pedro Pinheiro, o país também continua muitos dependente da importação de matérias-primas, como o petróleo e o arroz, entre outros.

Primeiro-ministro diz-se "tranquilo"

A Guiné-Bissau encontra-se num momento de alta tensão e incerteza. No Parlamento, 15 deputados foram expulsos do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder). Esta decisão foi, entretanto, considerada inconstitucional e quando os deputados voltaram à mesa da Assembleia Nacional Popular (ANP), ficou por esclarecer se irão voltar para o PAIGC ou se irão formar um grupo independente.

O primeiro-ministro guineense, Carlos Correia, afirma que o seu Governo, "está tranquilo e continua a trabalhar", apesar dos recentes rumores, vindos de setores políticos e diplomáticos, sobre a iminência do derrube do Executivo no Parlamento.

O chefe do Governo Carlos Correia falava à agência de notícias Lusa e RDP/África no sábado (16.04), à margem das cerimónias de abertura oficial da campanha de comercialização da castanha do caju, principal produto de exportação do país.

O Presidente guineense, José Mário Vaz, fará uma comunicação à nação a partir do Parlamento, na terça-feira (19.04), esperando-se que haja um debate sobre o estado do país no mesmo dia. Na semana passada, o chefe de Estado emitiu um comunicado a convocar a Assembleia Nacional Popular (ANP) para uma sessão extraordinária. Alegadamente, as formalidades não estavam a ser cumpridas, segundo o presidente da ANP, Cipriano Massamá, e a sessão extraordinária foi adiada para 19 de abril.

Angola e Moçambique no Mapa de Risco Político

O Mapa de Risco Político analisa 162 países e territórios. "O acesso a dados dos últimos 19 anos permite acompanhar o risco político nos mercados emergentes, traçar tendências, medir a exposição ao risco e rever os potenciais desafios que as empresas podem enfrentar ao decidirem investir, crescer ou diversificar os seus negócios nestes mercados", explica a Aon.

Angola aparece no mapa com um risco político alto e Moçambique com um risco moderado. Segundo Pedro Pinheiro, tem havido alguma evolução, mas ainda há um longo caminho a percorrer. "Existe um sentimento por parte do mercado segurador de que efetivamente continuam a existir riscos , sobretudo ao nível da interferência política na economia e riscos em termops de transferência de divisas".

No caso de Angola, o analista lembra que é um país que está muito dependente do preço do petróleo. "E agora o preço do petróleo está a um nível muito baixo, o que causa alguma instabilidade".


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