quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

FIM DE JOGO? ALEMANHA REJEITA PROPOSTA GREGA DE EXTENSÃO DO EMPRÉSTIMO


O Syriza propõe solução temporária, mas o motor económico da Europa diz que sem medidas de austeridade não haverá acordo.

Em um dia de muitos acontecimentos na Europa, o Governo alemão da chanceler Angela Merkel rejeitou, na última quinta-feira, o conteúdo de um pedido apresentado no início do dia pelo recém-eleito Governo grego Syriza, com a justificativa de que a proposta de extensão do empréstimo não atende às expectativas do programa de socorro financeiro acordado com o governo grego anterior, com foco na austeridade. 

De acordo com um comunicado emitido por Martin Jaeger, porta-voz do Ministério das finanças alemão, “A carta de Atenas não propõe uma solução real. Na verdade, ela aponta na direção de um empréstimo-ponte (de curto prazo), sem cumprir as exigências do programa. A carta não cumpre os critérios acordados pelo Eurogrupo na segunda-feira”.

A resposta da Alemanha refutou uma carta meticulosamente redigida, apresentada ao Eurogrupo pelo Ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis no início do mesmo dia. O texto solicitava oficialmente a prorrogação do empréstimo, oferecendo algumas concessões, enquanto se buscava um novo acordo de longo prazo, capaz “de restaurar os padrões de vida de milhões de cidadãos gregos através de um crescimento econômico sustentável, com trabalho remunerado e coesão social”.

Para contextualizar a solicitação, Varoufakis escreveu: 

“Nos últimos cinco anos, o povo da Grécia fez enormes esforços de ajustamento econômico. O novo governo está empenhado num processo mais amplo e aprofundado de reformas visando uma melhoria duradoura das perspectivas de crescimento e emprego, alcançando a sustentabilidade da dívida e a estabilidade financeira, aumentando a justiça social e diminuindo o significativo custo social da crise atual.

As autoridades gregas reconhecem que as condições acordadas pelos governos anteriores foram interrompidas pelas recentes eleições presidenciais e gerais, e que, por isso, vários acordos técnicos foram invalidados. As autoridades gregas honram suas obrigações financeiras para com todos os credores, bem como afirmam nossa intenção de cooperar com nossos parceiros a fim de evitar impedimentos técnicos no contexto do Acordo de empréstimo, cujas obrigações financeiras e processuais reconhecemos como legítimas.

Neste contexto, as autoridades Gregas solicitam agora a extensão do Acordo Básico de Assistência Financeira por um período de seis meses a partir do seu termo, em cujo período trabalharemos em conjunto, fazendo bom uso da flexibilidade do atual acordo, com vista ao seu sucesso e à sua revisão, com base nas propostas apresentadas pelo governo Grego e pelas instituições”.

Pouco antes da divulgação da resposta alemã, Margaritis Schinas, porta-voz da Comissão Europeia, disse que a carta grega poderia ser a base para um “entendimento razoável” e movimento em direção a um acordo.

Como relatou a BBC:

A carta grega inclui um compromisso de manter o "equilíbrio fiscal" por um período de seis meses, enquanto o país negocia com parceiros da zona do euro sobre o crescimento de longo prazo e redução da dívida.

O governo grego também teria dito que a sua proposta de extensão era uma forma de ganhar tempo, sem a ameaça de “chantagem e falta de tempo", para a elaboração de um novo acordo com a Europa visando o crescimento para os próximos quatro anos.

Muitos meios de comunicação apontaram que a proposta grega mostra uma postura de comprometimento por parte de Varoufakis e do primeiro-ministro Alexis Tsipras, embora pareça que a solicitação tente marcar a distinção que os negociantes gregos têm feito nos últimos dias: que o contrato de empréstimo é um documento independente do programa de resgate financeiro ao qual está ligado. Como afirmou um funcionário do governo grego à Reuters, a carta de Varoufakis foi acompanhada por um pedido oficial para estender o contrato de empréstimo. “No entanto”, relata a agência de notícias, “(o funcionário) insistiu que o governo estava propondo condições diferentes das obrigações atuais”.

A frase confirma as declarações feitas por Tsipras durante um discurso perante o Parlamento grego na terça-feira, mas também parece ser o conteúdo exato da proposta que a Alemanha agora rejeita.

“Estamos trabalhando duro para um acordo honesto e mutuamente benéfico, uma solução sem austeridade, sem o socorro que destruiu a Grécia nos últimos anos”, afirmou Tsipras durante o discurso. Embora ele tenha dito que o acordo procuraria eliminar “a presença tóxica da Troika”, a carta de Varoufakis parece sinalizar que a permanência dos auditores da Troika é um dos pontos em que a Grécia poderá ter que ceder, ao menos no curto prazo.

Após o anúncio do pedido grego, o presidente do Eurogrupo e Ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem, anunciou que uma reunião de emergência seria realizada em Bruxelas, na sexta-feira, para votar a proposta.

É possível que a recusa da Alemanha venha a ser alterada se um número suficiente dos outros ministros europeus fizer pressão pela aceitação do pedido grego, embora, neste momento, o resultado não seja previsível.

Tradução de Clarisse Meireles

cartamaior

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