Maputo - O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, saiu neste sábado satisfeito da sua primeira reunião com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, assegurando que "o país não terá problemas" e anunciando o fim do boicote do maior partido de oposição ao parlamento.
"O país não terá problemas, porque da maneira como nos conhecemos, como conversámos - muitas horas os dois -, tudo correu bem", disse Afonso Dhlakama, ao fim de duas horas e meia de reunião com Nyusi, hoje de manhã num hotel em Maputo, a que se seguirá uma nova ronda negocial nos próximos dias.
Ao contrário de Dhlakama, que se alongou nas declarações aos jornalistas, Nyusi limitou- se a comentar, antes de entrar no seu carro, que, "quando dois irmãos falam, é bom".
Este foi o primeiro encontro entre o novo Presidente da República e o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), que não reconhece os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro e ameaça criar e governar uma região autónoma no centro e norte do país.
Dhlakama evitou responder se vai insistir naquela exigência, que tem vindo a apresentar em comícios nas províncias onde tenciona governar, numa digressão interrompida na sexta-feira para se avistar hoje com Filipe Nyusi.
"Posso dizer que do meu lado - e quero acreditar que também o irmão Presidente está a pensar da mesma maneira -, estou muito satisfeito, porque os pontos que pude colocar ele entendeu e vai analisar para que possamos conseguir a solução", afirmou o líder da oposição, que, segundo os resultados oficiais, perdeu as presidenciais para Nyusi e as legislativas para a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique).
Oitenta e nove eleitos da Renamo para a Assembleia da República e outros 294 para as assembleias provinciais não tomaram posse, por ordem expressa de Dhlakama, mas o líder do partido anunciou hoje que os seus representantes vão assumir em breve os seus lugares.
"Não tomaram posse até hoje pela questão que nos levou aqui a reunir. O que posso dizer é que tomarão posse dentro em breve", afirmou, sem se comprometer com nenhuma data, quando está marcada para quinta-feira a segunda sessão parlamentar e que, em caso de ausência, pode implicar a perda dos mandatos dos deputados da Renamo.
Os dois líderes, que apertaram as mãos, sorridentes e em mangas de camisa, no início da reunião, às 11:00 locais, falaram, segundo Dhlakama, das rondas negociais de longo-prazo entre Governo e Renamo, e que se encontram bloqueadas há semanas na discussão do desarmamento do maior partido de oposição, dos acordos de paz assinados com o anterior Presidente, Armando Guebuza, e que não foram implementados e também "assuntos novos".
Uma nova reunião terá lugar "dentro de dias para aprofundar o que foi tratado hoje", anunciou o líder da Renamo, novamente sem precisar data nem local, referindo apenas que as duas partes precisam fazer as suas consultas.
"Nós os dois não somos donos do país para podermos decidir hoje e dizer que temos a solução", declarou Dhlakama, reiterando a confiança de que serão encontradas soluções, tal como "os moçambicanos, como irmãos, sempre fizeram desde que a democracia foi introduzida em 1992".
A reunião de hoje representa uma diminuição da temperatura política e da radicalização do discurso de Dhlakama, que descrevia Nyusi como "um ladrão de votos" e avisava para o perigo de uma vaga e violência, caso o Governo não acatasse as suas exigências.
Governo e Renamo mantiveram um confronto militar na região centro do país durante 17 meses e que provocou um número desconhecido de mortos e milhares de deslocados, até à assinatura de um acordo de paz, a 05 de Setembro em Maputo, a pouco mais de um mês das eleições que o partido de oposição considera fraudulentas.
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